AMÍLCAR CABRAL
XLII
REGRESSO A LISBOA
Entre
1955 e 1959, Cabral voltou a ser mais engenheiro do que político. Os contactos
que mantinha com professores do ISA e com antigos colegas asseguravam-lhe
ocupações temporárias em Lisboa. Teve ainda oportunidade de se ocupar de
missões agrárias ao serviço de grandes companhias angolanas. Durante este
período, trabalhou para a Sociedade Agrícola do Cassequel, para a Companhia
Angolana de Agricultura e para as fazendas Tentativa, São Francisco e Nhia. Deslocou-se
também pela Europa, para visitar centros de produção de açúcar de beterraba.
Foi aproveitando as viagens para estreitar os antigos contactos com os líderes
nacionalistas das colónias portuguesas que tinham deixado o país.
Amílcar
e Maria Helena viviam agora num bom apartamento da Avenida Infante Santo. As
dificuldades económicas dos tempos de estudo tinham ficado para trás.
Muitas organizações políticas fazem gala de apresentar uma data precisa de fundação, mesmo quando os seus trajetos se desenrolaram de forma progressiva e até os nomes adotados se foram modificando ao longo do tempo. Na versão oficial, o PAIGC terá sido fundado em 1956, em Bissau, por Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Júlio de Almeida, Elisée Turpin, Fernando Fortes e Luís Cabral. Não terá sido assim. Julião Soares, autor de Amílcar Cabral - vida e Morte de um Revolucionário Africano, afirma que Cabral não esteve nesse ano em Bissau. Certo é que o PAI só ganharia o GC e a bandeira em Dakar, em outubro de 1960.
Muitas organizações políticas fazem gala de apresentar uma data precisa de fundação, mesmo quando os seus trajetos se desenrolaram de forma progressiva e até os nomes adotados se foram modificando ao longo do tempo. Na versão oficial, o PAIGC terá sido fundado em 1956, em Bissau, por Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Júlio de Almeida, Elisée Turpin, Fernando Fortes e Luís Cabral. Não terá sido assim. Julião Soares, autor de Amílcar Cabral - vida e Morte de um Revolucionário Africano, afirma que Cabral não esteve nesse ano em Bissau. Certo é que o PAI só ganharia o GC e a bandeira em Dakar, em outubro de 1960.
Enquanto
residiu na capital portuguesa, Cabral foi sempre prudente na sua atividade
revolucionária. Ao contrário de alguns dos seus companheiros de estrada, como
Neto, o líder do PAIGC nunca foi incomodado a sério pela PIDE. Era um homem
culto, inteligente, firme e cuidadoso. Estaria mais talhado, como Léopold Senghor, para chegar ao poder
pelo voto e não pelas armas. Se assim foi, o destino trocou-lhe as voltas. A
História impôs-lhe outro caminho.
No
final de 1959, Amílcar Cabral almoçou num restaurante de Setúbal com Ário de
Azevedo, seu professor e amigo, que lhe propôs um novo emprego. Desta vez, a
resposta foi negativa. Amílcar não voltaria a trabalhar em África. Resolvera,
finalmente, dar um rumo diferente à sua vida. A independência da Guiné-Conakri,
declarada no ano anterior, marcara-o profundamente. Passara a haver condições
para iniciar o processo que iria pôr fim ao colonialismo português. Era tempo
de acordar a Guiné-Bissau. O PAIGC esperava por ele.
Cabral
nascera na Guiné e era filho de cabo-verdianos. Não havia ninguém tão bem
preparado como ele para assumir o comando dos povos da Guiné e Cabo Verde na
luta revolucionária. Escreveu Agostinho Neto: Já não sou o que espera. Sou aquele por quem se espera. O verso
poderia aplicar-se a Amílcar Cabral.
Por
essa altura, o nacionalismo negro era essencialmente pan-africano. Ocorreram em
África várias tentativas de uniões de jovens estados. Dessas experiências,
ficou apenas a Tanzânia.
Não existindo condições para a luta de
guerrilha nas ilhas do arquipélago cabo-verdiano, Amílcar Cabral desencadeou a
guerra de libertação nas selvas da Guiné então portuguesa.
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