DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quinta-feira, 25 de abril de 2013


                                       
                 AMÍLCAR CABRAL

                              XV

                     A GUERRA


A 23 de janeiro de 1963, ocorreu o ataque ao quartel de Tite. A data foi proclamada pelo PAIGC como a do início da guerra de libertação. No entanto, já ano e meio antes o exército português tinha sido alvo de ações armadas em Susana, Varela e S. Domingos, no território da Guiné-Bissau. O Movimento de Libertação da Guiné (MLG), sediado em Dakar e liderado por François Kankola Mendy, antecipara-se ao PAIGC, ganhando alguma vantagem na concorrência pelo reconhecimento internacional e pela ajuda que daí adviria.
Cabral criticou Mendy, alegando que o MLG dera início aos combates sem estar suficientemente preparado e que o fizera a partir de um país vizinho, em vez de se instalar no interior da Guiné. Não tardou, porém, a encontrar-se com o chefe do movimento rival. Foi possível estabelecer um acordo entre as duas organizações nacionalistas.
Os portugueses esperavam ataques vindos dos territórios vizinhos e haviam reforçado a defesa das fronteiras com o Senegal e a República da Guiné. Bem informado, Amílcar Cabral adotou uma estratégia a que chamou “centrífuga”. Os seus combatentes deveriam instalar-se nas regiões centrais do território e deslocar-se progressivamente para a periferia.
Das várias etnias da Guiné, foram os balantas quem mais cedo aderiu à causa revolucionária. Foi no chão deles, situado a sul, que o partido instalou inicialmente mais efetivos. Dali iriam progredir para norte até tomar conta do Oio, uma região estratégica que permitiria os ataques a Bissorã e Bafatá. Por essa altura, o PAIGC contava com 3.000 combatentes instalados dentro das fronteiras do país.


Os guerrilheiros recebiam cada vez mais material bélico moderno e aprendiam a usá-lo. A intensidade da luta cresceu a partir de março desse mesmo ano (1963). Quando os rebeldes ocuparam Poindom, no ponto em que se encontram os rios Geba e Corubal, ganharam acesso fácil à região de Morés. Não conseguiram isolar Mansabá, um cruzamento importante de estradas, mas, em agosto, toda a zona de Bissorã, Encheia, Mansoa, Mansabá e Olossato se tornara insegura para o trânsito de veículos portugueses.
Os guerrilheiros jogavam ao “toca e foge”. Atiravam e escapavam-se, logo que os soldados portugueses respondiam ao fogo. Evoluíram depressa, graças à experiência transmitida pelos combatentes argelinos e cubanos, que tinham travado guerras de guerrilha em épocas relativamente recentes.
A partir de outubro de 1964, as estradas e caminhos utilizados pelos portugueses nas suas deslocações passaram a ser minados com alguma frequência. As áreas ao alcance da guerrilha alargaram-se. A leste de Bafatá, a circulação de viaturas passou a ser obrigatoriamente acompanhada por escoltas militares. 

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