AMÍLCAR CABRAL
VII
O P.A.I.G.C. E A UNIDADE
(Excerto de um texto de Amílcar Cabral)
No nosso Partido ninguém dividiu, pelo
contrário, cada dia nos unimos mais. Aqui não há papel, nem fula, nem mandinga,
nem filhos de cabo-verdianos, nada disso. O que há é P.A.I.G.C. e vamos para
diante.
Os tugas estão desesperados. Então são
eles mesmo, por exemplo, que hoje nas suas revistas, como esta, que se chama
«Ultramar», têm grandes artigos, estudando a questão da Guiné e Cabo Verde, e
escrevem: «A Guiné e as Ilhas de Cabo Verde —a sua unidade histórica e
populacional». E sabem quem fez este artigo? António Carreira. Porque ele
conhece de facto muitos problemas de história. E neste artigo ele reuniu todos
os documentos que há nos arquivos dos tugas e estudou para onde é que os filhos
da Guiné foram, quando foram enviados para Cabo Verde. Para S. Tiago ?
Balantas, mandingas, beafadas - Para S. Vicente? Foram fulas. Com relatórios,
sobre a chegada destes, etc. Eles sabiam que nós somos a mesma gente, na Guiné
e Cabo Verde. Quer dizer, tanto do conhecimento da História, da realidade da
nossa vida do passado, como do conhecimento dos interesses do nosso povo e da
África, tanto na questão de estratégia de luta (porque qualquer pessoa que
pensa na luta a sério, sabe que não há independência da Guiné sem a independência
de Cabo Verde nem há independência da República da Guiné, nem do Senegal nem da
Mauritânia, se eles querem ser países a sério, sem Cabo Verde ser independente,
ouvem bem? Não há. Só quem não entende nada de estratégia é que pode pensar que
esta África pode ser independente, com Cabo Verde ocupado pelos colonialistas.
É impossível. Assim como, vice-versa, não pode haver independência de Cabo
Verde a sério, sem a independência da Guiné, e sem a África ser independente a
sério) qualquer um que põe o interesse do seu povo acima dos seus próprios
interesses − a análise séria dos problemas acima de quaisquer manias ou
ambições − só pode chegar a uma conclusão que é a seguinte: a coisa melhor que
o P.A.I.G.C. fez, que o grupo daqueles que criaram o P.A.I.G.C. fez, foi
estabelecer como base fundamental − Unidade e Luta − Unidade da Guiné, Unidade
em Cabo Verde e Unidade da Guiné e Cabo Verde. Quem ainda não vir isso, verá
mais tarde. Mas muitos africanos já começaram a vê-lo. Muitas forças amigas
nossas começaram a ver, mas também os nossos inimigos já começaram a vê-lo. A
preocupação dos imperialistas hoje, é a seguinte: «Cabral aceita ou não, a
independência da Guiné, sem Cabo Verde?».
Essa é que é a grande preocupação. «O
P.A.I.G.C. aceita ou não a independência da Guiné sem Cabo Verde?». Isto é que
o imperialista quer saber e perguntaram-no mesmo. Eu disse-lhe: «Ponha os tugas
a perguntar, você não é tuga». Porque eles sabem muito bem qual é a importância
que têm o nosso conjunto. Um dia um dirigente africano disse-nos: vocês são
inteligentes (djiro). Perguntamos-lhe porquê e ele disse: Eu conheço a vossa
gente na Guiné e a vossa gente em Cabo Verde. Se vocês conseguirem de facto o
que estão a fazer, apesar de uma terra pequenina, vocês hão de ser um país forte
dentro da África. Vamos a ver, dissemos. Camaradas, vamos pois para a frente,
reforçados pela certeza da nossa razão: a criação do P.A.I.G.C., nas bases que
acabo de expor, foi a maior realização do nosso povo, para a conquista da
liberdade e a construção do seu progresso e felicidade na Guiné e Cabo Verde.
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