DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quarta-feira, 24 de abril de 2013


   


                                   AMÍLCAR CABRAL 

                                                  XIV

    

 A PREPARAÇÃO DA LUTA ARMADA


     Os movimentos de libertação utilizaram muitas vezes os massacres para legitimarem a sua atuação perante a opinião pública internacional e para galvanizarem os próprios adeptos. O PAIGC escolheu a data de 3 de agosto de 1961, segundo aniversário da matança de estivadores em Pijiguiti (no porto de Bissau) para proclamar a passagem à ação direta contra o colonialismo português.
      A 13 de outubro do mesmo ano, Amílcar Cabral subscreveu uma carta aberta ao Governo de Lisboa, aconselhando Salazar a negociar a autodeterminação e independência da Guiné e Cabo Verde.
     Ainda em 1961, começaram a chegar os primeiros jovens que tinham sido enviados para receber preparação militar na China. Entre eles contavam-se Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Rui Djassi, Vitorino Costa, Constantino Teixeira, Hilário Gomes (Lolo), Pedro Ramos, Manuel Saturnino Costa, Francisco Mendes (Xico Té) e Nino Vieira. Foram os primeiros comandantes da guerrilha nas diversas zonas operacionais em que Amílcar Cabral dividiu a Guiné. Alguns deles viriam a ser dirigentes do PAIGC.
Entretanto, prosseguia a luta política. Em Bissau, foram distribuídos ou colados nas paredes panfletos apelando à luta armada de libertação nacional. A PIDE respondeu perseguindo as estruturas clandestinas do PAIGC. Foi assaltada a sede do partido em Bissau, sendo apreendida uma lista de militantes. Terão sido detidos perto de um milhar.
Perdia-se em Bissau, mas ganhava-se no interior. A região de Morés, no Centro Norte, tornou-se uma importante base de resistência. O PAIGC começou a organizar comités nas tabancas. Havia, no interior do território, militantes dispostos a iniciar a luta.
Para fazer a guerra eram precisas armas. Os países do norte de África foram os primeiros a apoiar os esforços de Cabral. A Argélia, acabada de sair da guerra de libertação, disponibilizou-se para treinar guerrilheiros e Marrocos ofereceu ao PAIGC uma remessa de armamento. Para que armas e munições chegassem aos guerrilheiros, teriam de atravessar um dos países limítrofes, o Senegal ou a Guiné-Conakry.
Leopold Senghor, que governava o Senegal, defendia as negociações como via para a independência das colónias e mostrava-se pouco disposto a apoiar a luta armada. Restava a Guiné-Conakry, que Sekou Touré dominava com mão de ferro. Touré receava que o armamento fosse ter às mãos dos muitos concidadãos que o detestavam. Apropriara-se, já em 1961, de um carregamento fornecido pela Checoslováquia ao PAIGC.
Os homens de Cabral estavam distribuídos pelo território da Guiné e escondiam-se na mata. Sem armas, alguns ameaçavam desertar. Os dirigentes do partido tiveram de improvisar e dedicaram-se ao contrabando, usando uma série de truques tradicionais e inventando outros. Quando chegou a vez de transportar armamento mais pesado, as coisas complicaram-se. Uma caixa de ferro contendo munições tombou de uma grua e quebrou-se. O conteúdo ficou exposto no cais de Conakry. Sekou Touré mandou prender todos os responsáveis do PAIGC que se encontravam na cidade. Cabral estava ausente.
Os amigos do PAIGC movimentaram-se. Touré foi contactado pelo cubano Fidel Castro e pelo argelino Ahmed Ben Bella. No entanto, para libertar a sua equipa, Amílcar Cabral teve de demonstrar que as armas se destinavam efetivamente à guerra anticolonial. Ordenou o assalto ao quartel de Tite, no centro da Guiné-Bissau. Sekou Touré lá se convenceu a libertar os dirigentes do PAIGC detidos.  
A guerra começou assim em 1961. O conflito prolongou-se e, a dada altura, 10.000 guerrilheiros suportados pelo bloco soviético enfrentaram 35.000 soldados portugueses, entre europeus e africanos.
 As características geográficas do terreno, com savana e uma grande quantidade de braços do mar, uma parte do território alagado na maré alta e a própria extensão limitada do território a tornar próximas as fronteiras onde buscar abrigo e abastecimentos, tornaram a guerra difícil para os europeus. Os rebeldes recebiam grandes quantidades de armas fornecidas por Cuba, China, União Soviética e vários países africanos com regimes políticos de esquerda. Cuba forneceu ainda especialistas em artilharia, médicos e técnicos.


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