AMÍLCAR CABRAL
XIV
A PREPARAÇÃO DA LUTA ARMADA
Os movimentos de libertação utilizaram muitas vezes os massacres para legitimarem a sua atuação perante a opinião
pública internacional e para galvanizarem os próprios adeptos. O PAIGC escolheu
a data de 3 de agosto de 1961, segundo aniversário da matança de estivadores em Pijiguiti (no porto de Bissau) para
proclamar a passagem à ação direta contra o colonialismo português.
A 13 de outubro do mesmo ano, Amílcar
Cabral subscreveu uma carta aberta ao Governo de Lisboa, aconselhando Salazar a
negociar a autodeterminação e independência da Guiné e Cabo Verde.
Ainda em 1961, começaram a chegar os
primeiros jovens que tinham sido enviados para receber preparação militar na
China. Entre eles contavam-se Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Rui Djassi,
Vitorino Costa, Constantino Teixeira, Hilário Gomes (Lolo), Pedro Ramos, Manuel
Saturnino Costa, Francisco Mendes (Xico Té) e Nino Vieira. Foram os primeiros
comandantes da guerrilha nas diversas zonas operacionais em que Amílcar Cabral
dividiu a Guiné. Alguns deles viriam a ser dirigentes do PAIGC.
Entretanto, prosseguia a luta política. Em Bissau,
foram distribuídos ou colados nas paredes panfletos apelando à luta armada de
libertação nacional. A PIDE respondeu perseguindo as estruturas clandestinas do
PAIGC. Foi assaltada a sede do partido em Bissau, sendo apreendida uma lista de
militantes. Terão sido detidos perto de um milhar.
Perdia-se em Bissau, mas ganhava-se no interior. A
região de Morés, no Centro Norte, tornou-se uma importante base de resistência.
O PAIGC começou a organizar comités nas tabancas. Havia, no interior do
território, militantes dispostos a iniciar a luta.
Para fazer a guerra eram precisas armas. Os países do
norte de África foram os primeiros a apoiar os esforços de Cabral. A Argélia,
acabada de sair da guerra de libertação, disponibilizou-se para treinar
guerrilheiros e Marrocos ofereceu ao PAIGC uma remessa de armamento. Para que armas e munições chegassem aos guerrilheiros, teriam de atravessar um dos países limítrofes, o
Senegal ou a Guiné-Conakry.
Leopold Senghor, que governava o Senegal, defendia
as negociações como via para a independência das colónias e mostrava-se pouco
disposto a apoiar a luta armada. Restava a Guiné-Conakry, que Sekou Touré
dominava com mão de ferro. Touré receava que o armamento fosse ter às mãos dos
muitos concidadãos que o detestavam. Apropriara-se, já em 1961, de um
carregamento fornecido pela Checoslováquia ao PAIGC.
Os homens de Cabral estavam distribuídos pelo
território da Guiné e escondiam-se na mata. Sem armas, alguns ameaçavam
desertar. Os dirigentes do partido tiveram de improvisar e dedicaram-se ao
contrabando, usando uma série de truques tradicionais e inventando outros.
Quando chegou a vez de transportar armamento mais pesado, as coisas
complicaram-se. Uma caixa de ferro contendo munições tombou de uma grua e
quebrou-se. O conteúdo ficou exposto no cais de Conakry. Sekou Touré mandou
prender todos os responsáveis do PAIGC que se encontravam na cidade. Cabral
estava ausente.
Os amigos do PAIGC movimentaram-se. Touré foi
contactado pelo cubano Fidel Castro e pelo argelino Ahmed Ben Bella. No entanto,
para libertar a sua equipa, Amílcar Cabral teve de demonstrar que as armas se
destinavam efetivamente à guerra anticolonial. Ordenou o assalto ao quartel de
Tite, no centro da Guiné-Bissau. Sekou Touré lá se convenceu a libertar os
dirigentes do PAIGC detidos.
A guerra começou assim em 1961. O
conflito prolongou-se e, a dada altura, 10.000 guerrilheiros suportados pelo
bloco soviético enfrentaram 35.000 soldados portugueses, entre europeus e
africanos.
As
características geográficas do terreno, com savana e uma grande quantidade de
braços do mar, uma parte do território alagado na maré alta e a própria extensão limitada do território a tornar próximas as fronteiras onde buscar abrigo e
abastecimentos, tornaram a guerra difícil para os europeus. Os rebeldes
recebiam grandes quantidades de armas fornecidas por Cuba, China, União
Soviética e vários países africanos com regimes políticos de esquerda. Cuba
forneceu ainda especialistas em artilharia, médicos e técnicos.
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