AMÍLCAR CABRAL
XVI
O LADO PORTUGUÊS
A OPERAÇÃO "TRIDENTE"
Ao contrário de Angola e de Moçambique,
a Guiné era pequena, pobre e insalubre. Quando a CUF se viu forçada a suspender
a sua atividade, a colónia deixou de ter qualquer valor económico. No entanto,
os responsáveis políticos portugueses acreditavam que uma independência
abrira as portas às restantes. Era a teoria do dominó. Para manter a Guiné dominada,
o estado português obrigou-se a um esforço militar claramente desproporcionado
à dimensão do território.
Em
1963, Portugal dispunha de sete batalhões para defender os seus interesses
na Guiné. A preocupação de ocupar militarmente todo o território levou a
dividi-lo em quadrículas ocupadas por destacamentos relativamente pequenos que
constituíam alvos fáceis para os ataques da guerrilha.
A
partir de 1964, Lisboa reforçou o seu contingente militar com dois novos
batalhões e com grupos de paraquedistas e fuzileiros navais. Logo no começo
desse ano, o comando português desencadeou a operação “Tridente”, destinada a recuperar as ilhas de Como, Catar e Catungo, situadas a sul de Catió e limitadas a
sul e leste pelo rio Cumbija, que tinham sido ocupadas pelos militares do
PAIGC. Situam-se a sul de Catió e são limitadas a sudeste pelo rio Cumbija. Chegou a falar-se da “República Independente de Como”. Apenas um terço
daquele território é constituído por terra firme. A costa guineense modifica-se durante o dia, conforme os favores da maré. Quando enche, as águas
isolam uma grande quantidade de pequenas ilhas. Ao vazar, deixam uma área
extensa de lama. É o “tarrafo”.
Teve
início a primeira grande confrontação entre as tropas portuguesas e os
guerrilheiros. Mil e cem militares, apoiados por importantes meios navais e
aéreos, desembarcaram nas ilhas para desalojarem menos de três centenas de
rebeldes. A operação durou setenta dias. A artilharia naval e os aviões de
combate apoiavam constantemente as tropas de infantaria e os fuzileiros. O
inimigo pouco podia fazer. Escondia-se no tarrafo ou escavava túneis onde se
meter.
Nino
Vieira comandava os guerrilheiros de Como e esteve várias vezes à beira do
desespero. Enviou a Amílcar Cabral uma carta que nunca seria recebida: “Camaradas,
tenham paciência. Não tenho outra safa a não ser o seu auxílio, estou numa
situação muito grave, as tropas estão a aumentar em cada dia. Somente posso
dizer-vos que de um dia para o outro vamos ficar sem guerrilheiros e sem
população”.
Cabral
acabou por ordenar a retirada.
Do
lado português, as coisas também não correram bem. Os mortos em combate não
terão passado da dúzia, mas a malária e as perturbações gastrointestinais
provocadas pela má qualidade da água incapacitaram um grande número de
militares. A 20 de Março de 64, a ilha foi considerada “limpa de terroristas” e
as nossas tropas abandonaram a região.
Pouco
tempo depois, os guerrilheiros voltaram e proclamaram ao mundo uma
vitória que não aconteceu. Chegaram a ser anunciados mais de meio milhar de
mortos portugueses e nos textos publicados pelos nacionalistas guineenses e cabo-verdianos continua a falar-se da “vitória de Como”.
Sem comentários:
Enviar um comentário