AMÍLCAR CABRAL
XVII
ACÇÃO
E REACÇÃO
A
guerra de libertação desenvolveu-se com certa rapidez. A 19 de julho de 1963,
seis meses após o ataque ao quartel de Tite, o ministro da Defesa português,
Gomes Araújo, admitiu publicamente que a guerrilha do PAIGC controlava perto de
15 por cento do território da Guiné.
Os
chefes militares que se confrontavam na guerra procuravam seguir a evolução dos
acontecimentos de modo a poderem tirar a maior vantagem possível das próprias
forças e dos defeitos do inimigo.
Durante algum tempo, os efetivos portugueses
cresceram em número e em poder de fogo.
Em 1964, o governo português achou conveniente
concentrar os poderes civil e militar da Guiné na mesma pessoa. Arnaldo Schultz
foi o primeiro comandante militar da Guiné a acumular as funções com as de
governador.
Schultz
supunha que podia bater a guerrilha aumentado o esforço militar. Durante o seu
período de comando, cresceu o contingente de soldados e aumentou significativamente
o nível de violência, com recurso a bombardeamentos e a operações por tropas
helitransportadas.
O
PAIGC não tinha capacidade de enfrentar o Exército português numa guerra convencional.
Teve de se adaptar às circunstâncias. Os seus agrupamentos militares foram divididos
por unidades menores, os chamados bi-grupos, e a atividade militar deslocou-se
para lugares mais próximos das fronteiras, como Quitafine e Cantanhez.
A
dispersão dos combatentes conduziu a certo isolamento e afastou os comandantes
locais da estrutura central da organização revolucionária. Cometeram-se alguns
abusos capazes de fazer voltar as populações contra os guerrilheiros.
Era
importante submeter os militares à orientação política do partido. A conquista
das populações era quase tão importante para os desígnios de Cabral como as
vitórias na luta armada. Amílcar Cabral convocou para Cassacá, em fevereiro de
1964, o I Congresso do PAIGC, num esforço por alargar a tutela dos dirigentes
sobre os senhores locais da guerra. “Somos militantes armados e não militaristas”, proclamava.
Havia
líderes militares que se comportavam como chefes tribais, reunindo haréns de
adolescentes e reinando despoticamente nas tabancas. Alguns elementos acusados
de atitudes impopulares e de abuso do poder foram punidos. Ocorreram, pelo
menos, dois fuzilamentos.
A
natureza dos homens não se altera facilmente e alguns dos tipos de crime
condenados em Cassacá tornaram-se recorrentes ao longo da guerra de libertação.
Segundo Vasco Cabral, teriam sido necessários mais congressos do mesmo teor e
mais julgamentos.
A
guerrilha implantara-se e passara a controlar frações crescentes do território
da Guiné. Foi em Cassacá que começou a organização das “zonas libertadas”,
destinadas a ocupar o vazio deixado pela administração portuguesa em fuga. Nasceram
os “Armazéns do Povo”, que praticavam preços mais baixos que os tabelados.
Paralelamente, foram criadas escolas básicas onde o ensino assentava em livros
de texto redigidos por elementos da direção do PAIGC e impressos em países
amigos, como a Suécia. A rádio, sediada na Guiné-Conakry, promoveu o crioulo
como língua franca, contribuindo para esbater as diferenças éticas e culturais
dos povos da Guiné.
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