AMÍLCAR
CABRAL
XIII
OPERAÇÃO MAR VERDE
A RESSACA
Lancha de fiscalização "Orion"
A operação Mar Verde
constituiu uma pequena vitória militar e uma enorme derrota diplomática. O ataque
a um país soberano com o qual Portugal não estava em guerra acentuou ainda mais
o isolamento internacional do governo de Lisboa.
Sekou Touré queixou-se a
várias organizações internacionais e o Conselho de Segurança das Nações Unidas
condenou Portugal por duas vezes.
A solidariedade dos amigos
da República da Guiné recebeu um fôlego novo. A Nigéria ofereceu-se para enviar
um contingente de tropas para o território guineense e a União Soviética fez
seguir para Conakry três navios de guerra. O PAIGC saiu reforçado do escândalo internacional e beneficiou de significativas ofertas de armamento soviéticas e chinesas. As seis embarcações Komar destruídas pelos fuzileiros portugueses foram substituídas por doze modernas lanchas de combate.
Kissinger enfureceu-se com
os seus amigos portugueses e as relações entre os EUA e o governo de Lisboa deterioram-se.
Quanto a Spínola, descarregou a ira em
Alpoim Calvão. Escreveu o comandante da Defesa Marítima da Guiné, comodoro
Luciano Bastos, relatando uma conversa com o general:
Disse-me então, por vezes com grande
excitação, que o Calvão, embora tivesse planeado tudo muito bem e que, sem ele,
a operação não se realizaria, havia falhado redondamente no campo da execução,
havia desembarcado as equipas e nada mais fizera, que não atuara, que não
empregara em pleno os meios ao seu dispor, pois sabia de equipas que após meia
hora haviam regressado a bordo sem mais nada para fazer, chegando mesmo a haver
outra gente que nem sequer chegara a desembarcar, que procedera como um simples
guarda-marinha e que já estava arrependido de não ter mandado outro oficial
mais graduado como o Robin para controlar a operação.
Acrescentou ainda que o Calvão
atuara como para realizar um golpe de mão sem ter percebido que o fundamental
ali era o golpe de estado. Que o Calvão se tinha embebedado com o tal sargento
preto Marcelino da Mata, que o trouxera com ele para Bissau e que ele, agora,
anda para aí a exibir pistolas capturadas e a falar dos acontecimentos de
Conakry.
O general pediu a Luciano Bastos para ter
uma conversa com Alpoim Calvão. O comodoro relatou o encontro.
O Calvão, conservando sempre a maior
calma, respondeu que estaria absolutamente seguro da justeza da forma como procedera
em Conakry, que não temia os juízos de ninguém, que mais não fizera porque, fundamentalmente,
não encontrara os MIG`s no aeródromo de Conakry, que logo que o capitão Morais o
informou que não encontrara os MIG`s no aeródromo, o Calvão, de acordo com o plano
previamente estudado em todas as hipóteses, se preparara para reembarcar e regressar
pois tinha de salvar os seis navios de guerra que, de um momento para o outro poderiam
atacar e afundá-los facilmente. De nada serviria tomar a emissora e outros pontos
da cidade para virem os MIG`s atacar os navios e a cidade. Que não temia o general
e que se este lhe levantasse a voz, ele a levantaria também, pois para o general
dá resultado falar duro.
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