AMÍLCAR CABRAL
IX
UNIDADE E LUTA
(EXCERTOS DE UM TEXTO DE AMÍLCAR CABRAL)
Vamos tentar conversar um bocado com os
camaradas sobre alguns princípios do nosso Partido e da nossa luta.
A nossa luta deve ser tomada no seu
aspeto fundamentalmente político. Claro que, para definirmos, por exemplo, a
estratégia e até as táticas que adaptamos na nossa luta armada de libertação,
outros princípios foram enunciados, embora esses princípios de luta armada não
sejam mais do que a passagem dos nossos princípios gerais para o campo da luta
armada.
Um primeiro princípio do nosso Partido
e da nossa luta, que todos nós conhecemos bem, é: «Unidade e Luta», que é mesmo
a divisa, se quiserem, o lema do nosso Partido. Unidade e Luta.
Claro que para estudar bem o que é que
quer dizer este princípio bastante simples, é preciso sabermos bem o que é
unidade e o que é luta. E é preciso colocarmos, realizarmos o problema da
unidade, e o problema da luta num dado lugar, quer dizer, do ponto de vista
geográfico, e considerando a sociedade − vida social, económica, etc. − do
ambiente em que queremos aplicar este princípio de unidade e luta.
O que é Unidade? Nós queremos
transformar um conjunto diverso de pessoas, num conjunto bem definido, buscando
um caminho. E não é, porque aqui não podemos esquecer que dentro desse conjunto
há elementos diversos. Pelo contrário, o sentido de unidade que vemos no nosso
princípio é o seguinte: quaisquer que sejam as diferenças que existem, é
preciso ser um só, um conjunto, para realizar um dado objetivo. Quer dizer, no
nosso princípio, unidade é no sentido dinâmico, quer dizer de movimento.
Consideremos, por exemplo, um time de
futebol. Um time de futebol é formado por vários indivíduos, 11 pessoas. Cada
pessoa com o seu trabalho concreto para fazer quando o time de futebol joga.
Pessoas diferentes umas das outras: temperamentos diferentes, muitas vezes
instrução diferente, alguns não sabem ler nem escrever, outros são doutores ou
engenheiros, religião diferente, um pode ser muçulmano, outro católico, etc.
Mesmo de política diferente, um pode ser de um Partido, outro de um outro. Um
pode ser da situação, como por exemplo em Portugal, outro pode ser da oposição.
Quer dizer, pessoas diferentes umas das
outras, considerando-se cada uma
diferente da outra, mas do mesmo time de futebol. E se esse time de futebol, no
momento em que está a jogar, não conseguir realizar a unidade de todos os
elementos, não conseguirá ser um time de futebol. Cada um pode conservar a sua
personalidade, as suas ideias, a sua religião, os seus problemas pessoais, um
pouco da sua maneira de jogar mesmo, mas eles têm que obedecer todos a uma
coisa: têm que agir em conjunto, para meter golos contra qualquer adversário
com quem estiver a jogar, quer dizer, à roda deste objetivo concreto, meter o
máximo de golos contra o adversário. Têm que formar uma unidade. Se não o
fizerem, não é o time de futebol, não é nada. Isto é para verem um exemplo
claro de unidade.
Para ter unidade é preciso ter coisas
diferentes. Se não forem diferentes, não é preciso fazer unidade. Não há
problema de unidade. Ora para nós o que é unidade? Qual é o objetivo em torno
do qual devíamos fazer unidade na nossa terra? Claro que não somos um time de
futebol. Nós somos um povo, ou pessoas de um povo, que a certa altura da
história desse povo tomaram um certo rumo no seu caminho, criaram certos
problemas no seu espírito e na sua vida, orientaram a sua ação num certo rumo,
puseram certas perguntas e buscaram respostas para essas perguntas. Pode ter
começado por uma pessoa só, por duas, três, seis. A certa altura apareceu este
problema no nosso meio − Unidade. E o Partido foi tão advertido, quer dizer,
entendeu isso tão bem, que no seu próprio lema, como princípio principal, como
base de tudo, ele pôs − Unidade e Luta.
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