AMÍLCAR CABRAL
LI
OS MILICIANOS
O
número de oficiais licenciados anualmente pela Academia Militar era
insuficiente para as necessidades da guerra colonial e a falta de capitães
começou a sentir-se muito cedo.
A
maioria dos oficiais subalternos (alferes e tenentes) provinha das
universidades. Era a Arma de Infantaria quem mais precisava deles. Licenciados
ou não, milhares de jovens frequentaram em Mafra a Escola Prática de Infantaria
que, em cursos de seis meses de duração, os preparava para comandar combatentes.
Com o arrastar do conflito, os subalternos passaram também a escassear. As autoridades militares recorreram a expedientes variados para garantirem os comandos de pelotões e companhias.
Com o arrastar do conflito, os subalternos passaram também a escassear. As autoridades militares recorreram a expedientes variados para garantirem os comandos de pelotões e companhias.
A partir de 1965, foram sendo mobilizados os tenentes milicianos com menos de 45 anos que, tendo cumprido o serviço militar obrigatório, haviam passado à disponibilidade sem irem à guerra. Faziam um curso de comandante de companhia, eram graduados em capitães e enviados para as colónias. Como, depois de 1961, quase todos os oficiais milicianos cumpriam comissões no ultramar, os tenentes disponíveis eram poucos.
Foram sendo introduzidos outros mecanismos para "fabricar" capitães ou para acelerar a sua formação. Os oficiais subalternos com boas provas dadas no teatro de guerra eram convidados a frequentar o Curso de Promoção a Capitão. "Meter o Xico” era a expressão usada no tempo da guerra colonial para designar quem,
depois de cumprir o serviço militar obrigatório, escolhia esse caminho. O curso
durava um ano letivo. Seguia-se nova comissão, agora no comando de uma companhia. Posteriormente, era possível o ingresso no Quadro Permanente.
As
motivações para tal empenhamento pessoal na guerra eram diversas. Não as
conheço todas. Uma parte dos oficiais subalternos desiludira-se com os cursos
universitários interrompidos pela chamada às fileiras. Outros estariam em vias
de constituir família e pretendiam receber pontualmente um ordenado no fim de
cada mês. Havia também quem se sentisse realizado com a experiência militar e
assumisse a vocação castrense como a realização da sua vida.
Com o
arrastar da guerra, acentuou-se a falta de capitães e a preparação dos futuros
comandantes de companhia foi sendo facilitada. A partir de 1971, alguns cadetes
que terminavam a primeira parte dos Cursos de Oficiais Milicianos eram
deslocados para uma companhia operacional onde cumpriam um estágio de três
meses. Regressavam a Mafra já graduados em tenentes milicianos e frequentavam
durante outro trimestre um curso de Comandantes de Companhia. No final, eram
graduados em capitães milicianos e enviados para a guerra. Nem eram voluntários
nem tinham acesso ao quadro permanente. Independentemente do valor de
cada um, a insuficiência do treino de comando notava-se no campo de batalha. Eram
depreciativamente designados de “capitães-proveta” pelos seus colegas de armas.
A falta
progressiva de oficiais subalternos levou a facilitar o acesso ao Curso de
Oficiais Milicianos a uma parte dos jovens que frequentavam os cursos de sargentos.
Como escasseavam também sargentos e praças, aumentou-se o recrutamento local, com a consequente "africanização dos efetivos". Nasceram assim os Comandos Africanos, os Grupos Especiais (GE), as Tropas Especiais (TE) e as Milícias Africanas, vocacionadas para a segurança dos aldeamentos estratégicos.
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