AMÍLCAR
CABRAL
LIV
O RECONHECIMENTO INTERNACIONAL
A figura de Amílcar Cabral pode, como outras, ser
olhada de pontos de vista diferentes que conduzirão a apreciações
desencontradas. Homem do seu tempo, procurou sempre ver mais adiante, nem que
fosse com a mirada do sonho. Conhecia, contudo, a realidade da sua terra e da
sua época e assentava nelas os seus projetos.
A 20 de dezembro de 1961, as tropas indianas puseram fim à ocupação
portuguesa dos territórios de Goa, Damão e Diu. O Império Colonial Português
começava a desmoronar-se.
No final do ano seguinte, Amílcar Cabral
seria recebido pela Comissão das Nações Unidas que tratava da descolonização.
Com o sucesso da luta armada,
os sinais de reconhecimento internacional foram-se multiplicando. O Brasil ofereceu
bolsas de estudo a militantes nacionalistas das colónias portuguesas. Leopold
Senghor concedeu asilo político aos cabo-verdianos e guineenses exilados. Amílcar
Cabral foi nomeado conselheiro técnico do Ministro da Economia Rural da
Guiné-Conakry. O engenheiro voltava a estar empregado.
Em relação à política externa, Cabral soube sempre
distanciar-se do conflito sino-soviético e manter uma posição de
não-alinhamento que lhe permitiu continuar a receber ajudas dos dois lados. Em
termos de política interna, foi capaz de conservar o partido relativamente
afastado das questões teóricas que dividiam o campo socialista.
O tempo foi passando. No início de 1972, o PAIGC declarou publicamente que controlava dois
terços do território da Guiné-Bissau. No Conselho
de Segurança das Nações Unidas, reunido em Adis-Abeba, em fevereiro de 1972, Amílcar
Cabral pôde afirmar: «a situação na
Guiné é comparável à dum Estado soberano que tem certas partes do seu
território nacional ocupadas por forças armadas estrangeiras».
Numa reunião em Rabat, a Organização da
Unidade Africana reconheceu aos movimentos de libertação das colónias
portuguesas o estatuto de observadores nas suas reuniões. No mesmo ano, uma comissão da ONU visitou as zonas libertadas da Guiné-Bissau. No
regresso, declarou que o PAIGC era o único representante legítimo dos
guineenses. Em agosto, uma reunião
plenária do Comité Especial para o Colonialismo reiterou essa declaração.
Ainda nesse ano, em outubro, Amílcar Cabral discursou
perante a Quarta Comissão da Assembleia Geral da ONU. Solicitou a aceitação dos delegados do PAIGC como membros
associados ou observadores em todos os organismos especializados da ONU. Apelou
ainda ao «desenvolvimento de uma ajuda concreta destes organismos
especializados, sobretudo da UNESCO, da UNICEF, da OMS e da FAO, ao povo
guineense».
Em dezembro
de 1972, o secretário-geral do PAIGC Amílcar deslocou-se pela última vez a
Moscovo. O objetivo da viagem era conseguir armamento antiaéreo moderno que
pudesse atingir os aviões a jato Fiat e dificultar a atuação dos helicópteros
da força aérea portuguesa
Amílcar Cabral foi abatido a tiro por
camaradas seus, a 20 de janeiro de 1973. No dia seguinte, os assassinos foram
esquartejados. Eram todos guineenses.
O PAIGC pôs rapidamente de lado as
divergências e deu um salto em frente. Os mísseis soviéticos Strela,
recentemente introduzidos no combate, puseram rapidamente fim à supremacia
aérea portuguesa. Foram lançadas ofensivas decisivas contra as forças coloniais.
A vitória da guerrilha estava à vista.
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