DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

segunda-feira, 3 de junho de 2013


Apesar dos convites que fiz a alguns amigos, os pouco mais de duzentos artigos publicados até hoje neste blogue foram escritos por mim, com uma honrosa exceção: um conto da minha neta Leonor. É com orgulho que volto a colocar aqui um trabalho dela. A Nini tem agora treze anos e virou-se para a literatura policial. Como o texto tem já muitas páginas, irá saindo em partes, sempre às segundas-feiras.
                                                   António Trabulo      

             

        ASSASSÍNIO EM NOTRE DAME


                                PRÓLOGO


      − Vem comigo – disse uma voz rouca. 
Marc seguiu a voz, assustado. Saiu, ainda de pijama para a rua.
Estava uma noite sombria. Naquela zona havia pouca luz e por isso o único brilho na escuridão era o brilho da Lua.
Depois de andar alguns metros, entrou num edifício, a mando da voz. Quando o fez, a voz disse-lhe para parar. Marc obedeceu, mas arrependeu-se quando viu a arma que a voz trazia
−  Por favor, não me mate! Eu dou-lhe tudo o que quiser! – implorou  Marc.
− Não quero nada que me possas dar.
A voz calou-se e o som da bala a cair no chão foi o último barulho que se ouviu na silenciosa noite.

                             CAPÍTULO I


− Acorde, senhor! – gritou Charles, batendo à porta de MacLarens. – Tem uma visita.
− Ninguém é suficiente importante para me acordar às cinco da manhã. – respondeu Joshua. – Tenho de dormir, amanhã é um dia especial . Manda-os…
Mas MacLarens foi interrompido por dois homens que entraram de rompante no seu quarto.
Os homens eram altos, encorpados e capazes de pegar em Joshua. E foi isso que fizeram. Levaram-no até á rua até que chegaram a um carro com vidros blindados. Um dos homens apontou para o carro, sinal para MacLarens entrar no veículo.
Joshua permaneceu em silêncio, pois apercebeu-se de que a situação era séria. Mal entrou no carro, o motorista acelerou.
− O chefe vai gostar de o ver. – disse o motorista, quebrando o silêncio.
− Lamento, mas hoje tenho um encontro importante. Não me poderei encontrar com o seu chefe. – respondeu MacLarens.
− O seu irmão não poderá encontrar-se consigo hoje. – disse o homem mais silencioso.
− Como sabe que o meu irmão e eu nos iremos encontrar hoje? Só nós dois sabíamos.
− O Marc morreu. Foi assassinado.
Naquele momento, uma brisa de recordações atacou o coração de Joshua. As últimas palavras que ele havia proferido a Marc tinham sido “Longe estás melhor” e naquele dia, o dia em que se reencontrariam, algo tão horrível havia acontecido ao seu irmão. MacLarens tinha tantas perguntas, mas a única coisa que conseguiu inquirir foi “Como?”.
− O chefe ainda não tem suspeitos ou provas. É por isso que precisa de toda a ajuda que puder arranjar .
MacLarens não fez mais nenhuma questão. Chorava. Não com lágrimas, mas com o coração. Apesar de ele e Marc nunca terem tido uma boa relação, naquela noite uma parte de Joshua morrera com Marc.
Passadas umas horas em silêncio, o carro parou num campo de terra batida.

                            CAPÍTULO II


− Senhor MacLarens, sou Fréderique Laisone, dirigente da AFCC (agência francesa de combate ao crime). Lamento a sua situação.
Fréderique Lasone era um homem baixo, gordo com um capachinho e bigode pretos como o betão e óculos muito grandes e redondos.
− Por que quer uma agência federal  investigar o caso do meu irmão? – perguntou Joshua a Fréderique.
− O caso do seu irmão é – Lasone calou-se por uns momentos. – diferente.
 − Como “diferente”?
 − O seu irmão morreu na sala secreta de Notre Dame. E é por isso que o senhor cá está. Nós queremos saber como pode ele ter chegado a um sítio tão confidencial como este.
 − Eu adoraria poder ajudar, mas já não falo com o meu irmão há seis anos. Muita coisa mudou desde aí. – disse MacLarens.
− Decerto que em algo nos poderá ajudar. Agora vá descansar. Encontramo-nos à hora do almoço. Aí teremos tempo para conversar sobre toda esta situação.
Acompanhado por um dos homens que o haviam trazido até ali, MacLarens chegou ao quarto. Este não era muito acolhedor. Era pequeno, escuro e a única entrada de luz era uma janela com vidros embaciados. Quando se sentou na cama, uma nuvem de pó esvoaçou, mas MacLarens estava tão cansado que adormeceu, mal se deitou.
− “Não me mate! Eu dou-lhe o que quer!”
MacLarens acordou de rompante. Tinha tido um pesadelo sobre Marc, muito real.
Ouviu passos no corredor e viu Fréderique abrir a porta.
− Está tudo bem, senhor? – perguntou Lasone, colocando os óculos.
− Sim, foi só um pesadelo.
− Acerca de Marc, penso eu?
− Sim, exatamente. Pareceu tão real... – contou Joshua.
− Sobre isso… Joshua, eu tenho de lhe contar uma coisa. – disse Fréderique seriamente. − Tanto o senhor  como o seu irmão descendem de um nobre inglês chamado Cameron. Há trezentos anos, Cameron veio para França  para se casar com Caroline Delmar, filha de um nobre francês. Anos depois, tiveram um filho chamado Jacques. Este era uma criança muito especial, pois…
− Desculpe interromper, mas porque é que me está a contar isto?
Fréderique ignorou e continuou a falar.
− … pois nos seus sonhos via o futuro. Ninguém acreditou nele e por isso prenderam-no. Mas certo dia, Jacques disse que a rainha ia descobrir uma coisa que a faria sofrer e nesse mesmo dia, o Rei ficou muito doente. Desde aí, as pessoas começaram a acreditar nele e soltaram-no. Anos depois, Jaques teve um filho com Marie Lesmonde e na noite em que Jacques morreu, o seu filho ficou com o mesmo dom. E assim se passou de geração em geração até ao seu irmão mais velho: Marc. Como ele morreu, o dom passou para si.
− Que ideia a sua! Eu tive apenas um sonho. Uma mera fantasia do meu cérebro. – disse MacLarens, rindo-se.
Fréderique, sério, levantou-se e dirigiu-se até à sala.

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