OS COMANDANTES DO PAIGC
Os
jovens enviados para receberem instrução militar na China tornaram-se os
primeiros comandantes da guerrilha. Alguns viriam a ser dirigentes importantes
do PAIGC. Estavam entre eles Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Rui Djassi,
Vitorino Costa, Constantino Teixeira, Hilário Gomes (Lolo), Pedro Ramos, Manuel
Saturnino Costa, Francisco Mendes e Nino Vieira.
Antes
de dar início à luta armada, Amílcar Cabral dividiu a Guiné em várias zonas
operacionais e designou os respetivos responsáveis político-militares.
1
- Zona Sul. Incluía Unal (sede) Quetáfine, Cubucaré, Balana e Como. Para a
chefiar, foi apontado Nino Vieira
2
– Zona Centro-Sul, a sul do rio Geba. Englobava Quinara (a sede), Tite (o local onde
começou a guerra), Cubisseco, Buba e N`Djassani. Era dirigida por
Rui Djassi.
3
– Zona do Xitoli. Abarcava o Xitoli (sede) e Bafatá. A comandá-la, estava Domingos Ramos.
4
– Zona Norte. Tinha sede em Morés e incluía o Oio. A direção era múltipla:
Osvaldo Vieira, Chico Mendes, Lolo e Manuel Saturnino Costa.
5
– Zona Leste, com sede no Gabu, no território fula. Era a zona considerada mais complicada para a implantação do PAIGC pois muitos régulos da etnia fula
eram fiéis ao governo português. Para a dirigir, Cabral nomeou Vitorino Costa,
tendo como adjuntos Pascoal Alves e Bobo Queita.
6
– Zona Zero (Bissau). Era comandada por Luciano N`Dao, Constantino Teixeira e
Pedro Ramos.
No
Congresso de Cassacá, a organização militar foi modificada e os comandos
militares foram remodelados. Em vez de seis Zonas, passou a haver três Frentes.
Amílcar Cabral pretendia reforçar o controlo político sobre os guerrilheiros.
Assim, cada Frente passou a ter dois chefes, um político e outro militar. O
chefe político dirigia também o apoio logístico aos combatentes. O cargo exigia
dirigentes bem preparados, o que excluía a maior parte dos guineenses. O que
estes viram foi que o militar da Guiné ia para a mata enquanto o político de
Cabo Verde ficava sentado a uma secretária em Conakry.
Osvaldo
foi nomeado comandante da Frente leste, juntamente com Amílcar Cabral.
Francisco Mendes e Luís Cabral passaram a dirigir a Frente norte, enquanto Nino
Vieira e Aristides Pereira se encarregavam do comando da Frente sul.
Esta
seleção reflete o prestígio entretanto conseguido por três dos melhores
comandantes do PAIGC: Osvaldo Vieira, Francisco Mendes e Nino Vieira. Conheceriam
destinos diferentes.
Alguns
chefes guerrilheiros caíram em combate. Foi o caso de Rui Djassi. Terá morrido
afogado no rio Corubal, em 1964, quando fugia das tropas portuguesas. Existe
hoje em Bissau uma rua Rui Djassi. Simão Mendes foi abatido num ataque aéreo,
em 1966. Após a independência, o seu nome foi dado ao hospital de Bissau. Domingos
Ramos faleceu em Madina do Boé em 1966. António Nbana morreu, em combate, em
1968 e Pansau na Isna, que se distinguira na defesa da ilha de Como em 1964, morreu,
também em combate, no setor de Nhacra, em 1970.
Osvaldo
Vieira foi uma personalidade controversa no seio do PAIGC. Os seus
desentendimentos com o secretário-geral ficaram famosos. Comandou a Frente
norte, cuja base mais importante era Morés, que tinha Inocêncio Kani como
responsável. O relacionamento dos guerrilheiros com a população da zona foi
criticado por dirigentes do partido. Osvaldo foi afastado do comando em 1973,
supostamente por saber da preparação do atentado contra Amílcar Cabral e de
nada ter feito para o evitar. Diz-se também que, em Conakry, na altura do
assassinato do líder histórico, havia perto de 200 militantes guineenses do
PAIGC e que quase todos estava a para da conspiração. Osvaldo Vieira faleceu ainda nesse ano. As
circunstâncias da sua morte não são bem conhecidas. Poderá ter sido executado.
Os guineenses perpetuaram-lhe a memória, dando o seu nome ao aeroporto
internacional de Bissau.
Chico
Mendes, também conhecido por Chico Té, foi nomeado comissário principal
(primeiro ministro) após a independência. Morreu em 1978, perto de Bafatá,
alegadamente num acidente de automóvel. Há quem pense que foi assassinado.
João
Bernardo Vieira, mais conhecido por Nino Vieira, papel de Bissau, nascido
em 1939, eletricista de formação, revelou na mata da Guiné invulgares
qualidades de chefe militar. Combateu durante toda a guerra de independência. Comandou
as forças do PAIGC que resistiram na ilha de Como às tropas portuguesas envolvidas
na Operação Tridente, em 1964, e chefiou o ataque ao quartel de Guiledje, em
1973, precipitando o pedido de demissão do general Spínola.
No seguimento das eleições realizadas em 1972,
nas zonas sob controlo do PAIGC, foi nomeado presidente da Assembleia Nacional
Popular.
Após
a independência, quando Chico Mendes morreu, Luís Cabral mandou-o vir de Cuba,
onde estava a fazer estudos militares, para assumir o cargo de comissário principal.
Em 14 de novembro de 1980, Bernardino Vieira pôs fim ao sonho de Amílcar Cabral,
derrubando o governo de Luís Cabral num golpe de estado sem derramamento de sangue. Os destinos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde deixavam de
estar interligados.
Nino foi
por três vezes presidente duma Guiné-Bissau que mergulhava em conflitos
intermináveis entre as hierarquias militares, levando à eliminação física de
várias personalidades públicas como o balanta Paulo Correia, o mandinga Ansumane
Mané e o balanta Tagmé Na Waie, Chefe do Estado-Maior General das Forças
Armadas.
Quem
com ferros mata, com ferros morre. Horas após a explosão da bomba que vitimou
Tagmé Na Waie, Nino Vieira foi brutalmente assassinado. Até aos dias de hoje, a
Guiné-Bissau não encontrou os caminhos da estabilidade.
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