DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

domingo, 16 de junho de 2013

                                             
                                                AMÍLCAR CABRAL

                                                              LIX                      

                         

          OS COMANDANTES DO PAIGC


Os jovens enviados para receberem instrução militar na China tornaram-se os primeiros comandantes da guerrilha. Alguns viriam a ser dirigentes importantes do PAIGC. Estavam entre eles Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Rui Djassi, Vitorino Costa, Constantino Teixeira, Hilário Gomes (Lolo), Pedro Ramos, Manuel Saturnino Costa, Francisco Mendes e Nino Vieira.
Antes de dar início à luta armada, Amílcar Cabral dividiu a Guiné em várias zonas operacionais e designou os respetivos responsáveis político-militares.
1 - Zona Sul. Incluía Unal (sede) Quetáfine, Cubucaré, Balana e Como. Para a chefiar, foi apontado Nino Vieira
2 – Zona Centro-Sul, a sul do rio Geba. Englobava Quinara (a sede), Tite (o local onde começou a guerra), Cubisseco, Buba e N`Djassani. Era dirigida por Rui Djassi.
3 – Zona do Xitoli. Abarcava o Xitoli (sede) e Bafatá. A comandá-la, estava Domingos Ramos.
4 – Zona Norte. Tinha sede em Morés e incluía o Oio. A direção era múltipla: Osvaldo Vieira, Chico Mendes, Lolo e Manuel Saturnino Costa.
5 – Zona Leste, com sede no Gabu, no território fula. Era a zona considerada mais complicada para a implantação do PAIGC pois muitos régulos da etnia fula eram fiéis ao governo português. Para a dirigir, Cabral nomeou Vitorino Costa, tendo como adjuntos Pascoal Alves e Bobo Queita.
6 – Zona Zero (Bissau). Era comandada por Luciano N`Dao, Constantino Teixeira e Pedro Ramos.
No Congresso de Cassacá, a organização militar foi modificada e os comandos militares foram remodelados. Em vez de seis Zonas, passou a haver três Frentes. Amílcar Cabral pretendia reforçar o controlo político sobre os guerrilheiros. Assim, cada Frente passou a ter dois chefes, um político e outro militar. O chefe político dirigia também o apoio logístico aos combatentes. O cargo exigia dirigentes bem preparados, o que excluía a maior parte dos guineenses. O que estes viram foi que o militar da Guiné ia para a mata enquanto o político de Cabo Verde ficava sentado a uma secretária em Conakry.
Osvaldo foi nomeado comandante da Frente leste, juntamente com Amílcar Cabral. Francisco Mendes e Luís Cabral passaram a dirigir a Frente norte, enquanto Nino Vieira e Aristides Pereira se encarregavam do comando da Frente sul.
Esta seleção reflete o prestígio entretanto conseguido por três dos melhores comandantes do PAIGC: Osvaldo Vieira, Francisco Mendes e Nino Vieira. Conheceriam destinos diferentes.
Alguns chefes guerrilheiros caíram em combate. Foi o caso de Rui Djassi. Terá morrido afogado no rio Corubal, em 1964, quando fugia das tropas portuguesas. Existe hoje em Bissau uma rua Rui Djassi. Simão Mendes foi abatido num ataque aéreo, em 1966. Após a independência, o seu nome foi dado ao hospital de Bissau. Domingos Ramos faleceu em Madina do Boé em 1966. António Nbana morreu, em combate, em 1968 e Pansau na Isna, que se distinguira na defesa da ilha de Como em 1964, morreu, também em combate, no setor de Nhacra, em 1970.
Osvaldo Vieira foi uma personalidade controversa no seio do PAIGC. Os seus desentendimentos com o secretário-geral ficaram famosos. Comandou a Frente norte, cuja base mais importante era Morés, que tinha Inocêncio Kani como responsável. O relacionamento dos guerrilheiros com a população da zona foi criticado por dirigentes do partido. Osvaldo foi afastado do comando em 1973, supostamente por saber da preparação do atentado contra Amílcar Cabral e de nada ter feito para o evitar. Diz-se também que, em Conakry, na altura do assassinato do líder histórico, havia perto de 200 militantes guineenses do PAIGC e que quase todos estava a para da conspiração. Osvaldo Vieira faleceu ainda nesse ano. As circunstâncias da sua morte não são bem conhecidas. Poderá ter sido executado. Os guineenses perpetuaram-lhe a memória, dando o seu nome ao aeroporto internacional de Bissau.
Chico Mendes, também conhecido por Chico Té, foi nomeado comissário principal (primeiro ministro) após a independência. Morreu em 1978, perto de Bafatá, alegadamente num acidente de automóvel. Há quem pense que foi assassinado.
João Bernardo Vieira, mais conhecido por Nino Vieira, papel de Bissau, nascido em 1939, eletricista de formação, revelou na mata da Guiné invulgares qualidades de chefe militar. Combateu durante toda a guerra de independência. Comandou as forças do PAIGC que resistiram na ilha de Como às tropas portuguesas envolvidas na Operação Tridente, em 1964, e chefiou o ataque ao quartel de Guiledje, em 1973, precipitando o pedido de demissão do general Spínola.
        No seguimento das eleições realizadas em 1972, nas zonas sob controlo do PAIGC, foi nomeado presidente da Assembleia Nacional Popular.
Após a independência, quando Chico Mendes morreu, Luís Cabral mandou-o vir de Cuba, onde estava a fazer estudos militares, para assumir o cargo de comissário principal.
Em 14 de novembro de 1980, Bernardino Vieira pôs fim ao sonho de Amílcar Cabral, derrubando o governo de Luís Cabral num golpe de estado sem derramamento de sangue. Os destinos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde deixavam de estar interligados.
Nino foi por três vezes presidente duma Guiné-Bissau que mergulhava em conflitos intermináveis entre as hierarquias militares, levando à eliminação física de várias personalidades públicas como o balanta Paulo Correia, o mandinga Ansumane Mané e o balanta Tagmé Na Waie, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.
Quem com ferros mata, com ferros morre. Horas após a explosão da bomba que vitimou Tagmé Na Waie, Nino Vieira foi brutalmente assassinado. Até aos dias de hoje, a Guiné-Bissau não encontrou os caminhos da estabilidade. 


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