AMÍLCAR CABRAL
LVII
HONÓRIO BARRETO – UM GUINEENSE INVULGAR
O
mais conhecido dos naturais da Guiné-Bissau é seguramente Amílcar Cabral.
Honório Barreto vem logo a seguir. Ambos tiveram pais cabo-verdianos.
Filho
de mãe guineense, Honório nasceu em Cacheu em 1813, cento e onze anos antes de
Cabral. Comerciante e grande proprietário de terras, foi por três vezes nomeado
Administrador da Guiné. Ocupou, por períodos consideráveis de tempo, esse lugar
político, o mais importante da Guiné portuguesa.
No
começo do século XIX, a França e a Inglaterra instalaram-se na África
Equatorial. Os franceses pretendiam incluir nas suas colónias a região centrada em Bissau. Os ingleses queriam ficar com a ilha de Bolama, o
arquipélago dos Bijagós, Buba e o litoral costeiro.
Barreto
defendeu com firmeza e sagacidade as fronteiras do território que governava.
Sem ele, a Guiné-Bissau seria hoje bem menor ou inexistente. Reconstruiu Bolama, meio destruída pelos
incêndios ateados pelos ingleses. Enfrentou a cobiça estrangeira e conseguiu,
umas vezes lutando e outras comprando terrenos, preservar várias parcelas do território.
É graças aos seus esforços que Bolama pertence hoje à Guiné-Bissau.
O
diferendo entre Portugal e a Inglaterra foi sujeito à arbitragem do Presidente
dos EUA, Ulysses Grant, que, em 1970, decidiu a questão a favor dos
portugueses. As negociações com a França conduziram, em Maio de 1886, à delimitação das fronteiras entre a Guiné
então portuguesa e a África Ocidental Francesa. Barreto morrera há mais de vinte anos. Conhecia
bem a sua terra e opôs-se tenazmente à troca de Casamança por Quitafine
(Cacine, sul da Guiné). Casamança, a norte, era uma região muito rica. Integra
hoje a República do Senegal.
Barreto
não renegou as suas origens mas assumiu-se como um português da Guiné. Foi Provedor de Cacheu e Capitão- Mor de Cacheu e de Bissau. Em 1853, bateu-se valentemente contra os
papeis e, três anos mais tarde, conduziu a campanha contra os «nagos». Na chefia do
território, reformou a administração e desenvolveu agricultura, o comércio, a
instrução e a saúde.
O
seu valor foi reconhecido pelo governo de Lisboa. Honório Barreto foi promovido
a Tenente-Coronel de Artilharia de segunda linha e condecorado com os graus de
Comendador da Ordem Militar de Cristo e de Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada. Faleceu em
Bissau em 1859. É o melhor exemplo conhecido de “assimilação”. Nenhum outro
nativo do Império Português recebeu tantas honrarias.
A história corre e os pontos de vista modificam-se. Os
guineenses de hoje valorizam mais o lado escuro da sua vida. A verdade é que, numa
época em que Portugal abolira já oficialmente a escravatura, Barreto mantinha
em Cacheu um lucrativo comércio de escravos.
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