E pronto... Acaba aqui a saga do Tamegão. Esperemos pelo livro impresso em papel. Foi um prazer acolher o Nunes Pinto neste espaço.
António Trabulo
REFLEXÃO
A cada ano de saudades
correspondem dez anos civis. Posso dizer, com verdade, que já estou em Portugal
há quatrocentos e tal anos.
A África não estava no
beirado das casas. Estava nos pingos da chuva que escorregavam do capim das
cubatas, fazendo buraquinhos em auréola, assinalando pequenos territórios.
Não estava nos coleguinhas
da escola, de colarinhos feitos por medida.
Estava na nudez dos
troncos de homens e mulheres, na liberdade de ser essência.
Não estava nas batas, nem
nas meias altas.
Estava na sola rija dos
pés que pisavam sem dar pelos espinhos do caminho.
Pele dura que gretava pelo
quente do sol e pelo cieiro frio da noite.
Não estava nos animais
guardados em jaulas de aço.
Estava no berro de
liberdade dos que pastavam tranquilos na savana, à beira do rio.
Não estava nas luzes das
cidades que nos negam o sono.
Estava na luz da lua que
nos ensinava os caminhos.
Não estava na brancura da
neve da serra nem na brisa gelada do Norte.
Estava no calor do sol que
abrasava os nossos abraços.
Não está em mim, nem em
ti. Está nesta saudade que o batuque vai reclamando.
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