CARLOS NUNES PINTO
TAMEGÃO
XXIII
“ A luz que te iluminou fui eu que roubei do Sol “
− Luana, quando você ontem
estava ali sentada naquele banco, sua cara estava cheia de luz.
− Luz, como?! Tinha Sol
que batia?
− Não, era luz do coração.
Sua luz parecia com a luz daquela senhora que o Menino falou para nós. Mas você
estava ainda mais bonita!
− Não diz isso no Menino,
ele não vai se gostar.
− O Menino também me disse
que tem uma santa lá longe que é negrita como você.
− Conta isso, Tamegão,
conta!
− Ele disse que o Deus
dele, ou parece o filho dele, foi pregado numa cruz de pau pelos homens de
outra raça. Que ele levou alguns dias para morrer; lhe enterraram lá num sítio
que tinha uma casa de pedra e taparam a porta com uma pedra muito grande para
ele não fugir.
− Oh!, os mortos também
fogem?!
− Parece que sim porque
esse homem fugiu mesmo, só ficou lá três dias.
O Menino me disse que ele, antes de subir para
cima, chamou uns homens que trabalhavam para ele, todos tinham o mesmo nome –
Apóstolos – e lhes pediu: todos têm que vir nesse mundo dizer que eu voltou a
acordar, passado três dias, e que todos me viram subir. Um deles parece que se
chamava Pedro Apóstolo, pegou numa senhora de madeira e levou com ele.
Que numa terra que se
chama Espanha quiseram matar o tal de Pedro. Ele fugiu para uma serra e
escondeu a tal senhora num buraco fundo. Ficou lá muitos anos, muitos, muitos,
até que um pastor encontrou ela.
Tal senhora de madeira
apanhou tanta chuva naqueles anos todos que ficou moreninha como você, Luana.
− E ficou sempre bonita?
− Como você, Luana, como
você!
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