DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sábado, 25 de março de 2017




         CARLOS NUNES PINTO


     TAMEGÃO




XXXII
                    
          “ Tive um sonho triste: Tamegão tinha morrido.

                           Pediram ao Tamegão
                           Que não chorasse
                           O velho se envergonhou
                     
                           Pediram ao Tamegão
                           Que cantasse
                           O velho se ridicularizou
                                        
                           Pediram ao Tamegão
                           Que sorrisse
                           O velho se desdentou

                           Pediram ao Tamegão
                           Que rezasse
                           O velho apenas chorou

                           Pediram ao Velho
                           Que não morresse

                           Tamegão, decidido,
                           Se apagou.              

                                               Luana disse:

  “ Foi no silêncio da noite que a minha Lua se apagou

Luana estava triste. Eu estava triste também. Senti que as suas lágrimas eram iguais às minhas.
Na altura final do adeus, olhei para trás e vi uma multidão de gente, negros, mulatos e brancos. Rostos consternados.
Já no fim, Luana juntou a sua mão à minha. Apertou-a com tanta força que senti chegar todo o calor do seu corpo. Depois, afrouxou a pressão. Precisava de dizer qualquer coisa:
− Carlitos! As flor que a gente vê, que nasce neste caminho, noutro dia, era semente que caía na gota da chuva que Tamegão mandou lá de cima.
Afinal, quem era este meu amigo?
Para uns, um feiticeiro. Para Luana, um amor. Para mim, um amigo modelado à minha maneira, nunca à minha semelhança. Ambos chorámos pelo pião que não parava de rolar, que afinal hoje parou.




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