CARLOS NUNES PINTO
TAMEGÃO
XXVI
“Os brancos dizem:
− Nossa Senhora nos acuda.
Os negros:
− Faz só favor, senhora.”
Tamegão, filósofo de
esteira no chão, fumando cachimbo com palha de erva (qual eu não sei)
explicou-me:
− Os branco quando ouve
trovoada da faísca começa a rezar na santa deles. A gente não, se compromete
com o feiticeiro, le promete as galinha, cabrito, outras coisas.
Se lembra no outro dia?
Tchitucuta saiu na caça. Arma que tinha roubou no ferreiro Zé Maria. Os ferros
da ponta tinha veneno para as cabra se adormecer por dentro. Tchitucuta dormiu
duas noites no mato. Quando queria já voltar, apareceu olongo. O bicho era
grande. Falhar não podia. Começou se deitar. Se deitou de vez, de sempre.
Problema ficou só levar
carne toda no quimbo. Tirou pele com mutunga, cortou bocado que pode levar e
resto deixou dentro, para mosca não atacar.
Quando chegou no quimbo,
os outro não se desconfiaram por causa que ele se endireitou nas costa. Outro
dia foi lá outra vez, trouxe mais bocado; no outro dia também.
Um le falou:
− Você apanhou caça
grossa?
− Apanhou, não diz mais
ninguém, eu te dá um pouco de porção.
Por aí ficou o segredo,
mas segredo não fica só num lugar.
O sipaio le disse:
− Eu vai queixar no senhor
fiscal. Você ficou usar zagaia envenenada.
Tchitucuta estremeceu.
Sabia que porrada era grande demais.
O fiscal o prendeu. Quanto
tempo eu não sabe. ficou cego, que doença eu também não sabe. Quando le
soltaram já não vê nada.
Começou a se lembrar das
caçada, das mulheres pilar o milho, algumas com filho nas costas. Ficou saudoso
da vida.
Tamegão continuou:
- Uma noite, Tchitucuta se
ausentou no capim. Procurou até encontrar o barulho das trovoada.
Falou na santa do branco,
parece se chama Bárbara.
− Me envia luz nos meus
olho.
Parece tal santa ficou com
pena dele. Os olho se acendeu outra vez.
Tchitucuta, naquele sítio
azul viu, na frente, porta muito grande, para cima e para os lado. Nuvens
brancas que parece algodão se colavam na madeira grossa. Tal de porta não se
conseguiu fechar completo. Cheio de medo, espreitou e viu lá dentro tantas
coisas bonitas.
Se espantou.
− Afinal aqui tem outra terra?
Timidamente pediu:
− Me dá com licença de
entrar, Senhora?
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