CARLOS NUNES PINTO
TAMEGÃO
XXII
“A gente tem sempre dois sorrisos, um que
ri, outro que chora”
Coisas de Luana.
Está a chover muito deste lado do céu, pensou
Tamegão preocupado.
Afastou a tábua que fazia de janela e viu
faíscas ligadas umas às outras fazendo da serra dia.
Aqueceu água doce na caneca e sentou-se. Cada
gole que bebia, cada pressentimento mau.
Ouviu pancadas fortes na porta e um grito de
mulher.
– Luana?!
– Me socorre senhor Tamegão. Meu filho o rio
levou.
– Não precisa gritar! Tem vezes que o rio não
mata.
Para acalmar Luana, contou-lhe a sua própria
história. Nada mais podia fazer. Sentia-se impotente. As águas galgavam,
impetuosas, por cima dos seus sentidos.
– Uma noite, parece igual a esta, o rio saiu
do seu meio. Queria arrastar meu pai. Não conseguiu, tinha peso igual da pedra.
Depois, era eu que ele queria levar. Me agarrou no meu pai, minhas mão começou
a escorregar nessa tal de pedra e o rio me levou.
– Como você voltou?
– Espera aí, me arrastou até no buraco mais
fundo do rio. A água tinha tanta força que atirava nossos corpos contra as
paredes desse buraco. Até a água ficou encarnada. Eu me expulsei, pela chaminé
e veio cair aqui nesta terra que não era a minha. Eu voou, voou e acordou aqui
debaixo dessas mangueira.
Fez uma pausa:
– Luana, você sabe estas mangueira não tem
sombra?
– É porquê?
– Tem sempre quentura do deserto que me secou.
Tinha parado de chover. Ambos ouviram o ruído
de qualquer coisa que se arrastava no capim. Assustava mesmo. Ainda mais quando
viram um bicho enorme com o menino pendurado pelos dentes, parecendo morto.
Pousou-o inanimado no chão e partiu. Sentia-se
que o barulho ia diminuindo até se diluir na água.
– Sr. Tamegão, esse bicho é o quê?
– Parece é jacaré, mas aqui esse bicho não
tem!
Tamegão pegou na criança ao colo. Apertou o
peito no seu próprio peito até que começou a ouvir bater dois corações. Sorriu.
O menino abriu os olhitos e sorriu também.
Luana abraçou forte os dois, tanto que não
sabe se apertou mais Tamegão se o próprio filho.
– Eu apertou forte meu mundo, suspirou Luana.
Tamegão fechou os olhos. Dentro deles um
sorriso e uma pontinha de felicidade. A seguir, despertou:
– Luana parece ouvi teu filho outro chamar.
Luana partiu. Levava um sorriso triste, com o
feitio da realidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário