DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

segunda-feira, 27 de março de 2017


CARLOS NUNES PINTO
TAMEGÃO


XXXIII

                                 Luana disse:

 “ Água faz bem no corpo todo, só nos olhos é que não.

Muito, muito mais tarde, voltei a encontrar Luana.
Eu já crescia em liberdade. Em Luana já começavam a aparecer as primeiras rugas.
− Luana, tu ainda és tão nova, para quê essas rugas nos teus olhos?
− Menino, não se lembra quando fomos já muito tempo na praia?
− Sim, lembro-me.
− Minhas mãos ficaram muito tempo na água e menino me avisou – Sai já da água, Luana, os teus dedos estão a ficar enrugados! Agora, meus olhos estão sempre na água que Tamegão me deixou. Mas vou-te contar uma coisa que Tamegão me pediu para guardar até hoje.
− O que foi, Luana? Diz depressa!
− Tamegão queria escrever mas não sabia, me disse de viva voz e pediu: nunca esquece isso que te vou dizer, o nosso menino vai ser um homem grande, mas tem que fazer o que Tamegão vai mandar, senão vai ficar igual qual os branco daqui:

                 Ouvi os sino tocar
                   Na torre da nossa capela
                   Não chamava por mim
                   Nem por outro qualquer
                   Só chamava teu nome

                   Pode ir
                   Corta teu peito
                   Põe na tua boca
                   Esse pão que eu te dá

                   Pisa com força teu chão
                   Vai no meio das água
                   Que eu separou
                   Com as minha mão.

                   Tua fé se descansa
                   Nos outro
                   Que abre os braço para ti.

                   Vai nascer uma flor
                   Outras se junta com outra
                   Vai ficar um jardim
                   Que tem rosa de muitas cor

                   As folha
                   Não precisa mais guardar os espinho
                   Que você tem que arrancar
                   No teu caminho.



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