CARLOS NUNES PINTO
TAMEGÃO
XVI
“ Quando a gente põe a Lua dentro do Sol, é
o Sol que se apaga “
Há três dias que Luana não
aparecia. Tamegão se inquietou.
− Eu precisa ver Luana.
Arrancou resoluto até a
casa dela. Percorreu o carreiro que ligava as duas casas. Caminho estreito,
porque os negros nunca caminhavam aos pares, um à frente, os outros atrás –
resultava sempre e apenas um trilho.
Quando Tamegão chegou,
deparou-se com uma surpresa.
− Saparalo, você hoje está
em casa? Hoje não trabalhou na estação?
− Não, ontem trabalhou até
meia-noite, hoje ficou de folga. Sr. Tamegão, este caminho você nunca fez, não
é?
Tamegão arranjou
rapidamente uma saída.
− No dia de ontem o Sr.
Administrador pediu para fazer recenseamento das pessoas do quimbo.
− É o quê recenseamento?
− A gente tem que dizer as
pessoas que cada cubata tem.
− E você vai fazer isso?
Você costuma dizer que não faz nada para os brancos!
− Vou fazer, mas vou-lhes
fintar.
− Como vai fazer isso?
− Assim: como na tua casa,
vou falar que tem Saparalo mais três miúdos.
− E Luana?
− Vai dizer que Luana está
na casa do Tamegão.
− Se os brancos descobre?
− Se vai fazer assim:
quando a rusga chegar de noite, Luana foge para minha casa e pronto!
Luana, que ouvia tudo de
dentro da cubata, pensou: Tamegão sabe muito, quer Luana com ele de noite.
Saparalo falou com Luana:
− Você ouviu Tamegão
falar?
− Ouvi, mas eu não
concorda.
− Porquê?
− Luana tem medo dos
espíritos que visita Tamegão de noite.
− E agora como é que eu
vai dizer que não pode enganar os brancos porque você tem medo?
− Não se preocupa, eu logo
vai falar com ele.
À tarde, Luana conversou
com Tamegão.
− Você quer enganar os
brancos ou Saparalo?
−Eu pode enganar os dois.
− Tamegão, faz favor, não
mistura duas coisas no mesmo saco!
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