DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

 

    A EXECUÇÃO DE LAVOISIER

 


Antoine-Laurent de Lavoisier foi guilhotinado pelos seus compatriotas em maio de 1794, alegadamente por ter posto à venda tabaco adulterado. O verdadeiro motivo da sua morte terá sido a sua participação, durante a monarquia, no odiado sistema francês de cobrança de impostos.

Aristocrata, nascido em 1743 no seio de uma rica família parisiense, estudou Química, Botânica, Astronomia e Matemática no Colégio Mazarin. Ainda se interessou pelo Direito, mas acabou por se inclinar para as ciências.

Foi pioneiro em diversos ramos da Ciência. Aos 22 anos, recebeu a medalha de ouro da Academia de Ciências de França pelo seu projeto de iluminação das ruas de Paris. Anos mais tarde, seria eleito membro da mesma Academia, como prémio pelos seus trabalhos no estudo geológico da França.

Lavoisier desempenhou diversos cargos públicos. Em 1769, adquiriu uma participação na Ferme Générale, a agência paragovernamental de cobrança de impostos e chegou a ser seu administrador (rendeiro-geral). Naquela época, a Coroa concessionava a privados a cobrança de impostos. Em 1776 (ainda durante a monarquia) foi nomeado administrador das fábricas francesas de pólvora e salitre. Por ocasião da Revolução americana, fundou uma empresa estatal de pólvora destinada essencialmente a apoiar os independentistas que lutavam contra a Inglaterra.

Lavoisier é considerado um dos fundadores da química moderna. Identificou o oxigénio e o hidrogénio e descobriu a composição da água e o papel do oxigénio na combustão. Esta descoberta pôs em cheque a teoria milenar de Tales de Mileto, que considerava a água um dos quatro elementos fundamentais a partir dos quais eram formadas todas as substâncias.

Na verdade, Lavoisier não descobriu o oxigénio. O mérito da descoberta recai sobre os químicos Carl Wilhelm Scheele e Joseph Priestley, que, trabalhando de forma independente, o identificaram, respetivamente, em 1772 e 1774. Priestley contactou com Lavoisier e informou-o do resultado das suas experiências.

De um modo geral, os progressos das ciências dão-se por pequenos avanços sucessivos. Lavoisier refez as experiências de Priestley e foi mais além. Entendeu que a combustão se devia à combinação do oxigénio com matérias orgânicas, enquanto a oxidação resultava da sua ligação a metais. Contribuiu para o melhor conhecimento do azoto, a que deu o nome de nitrogénio. O azoto era conhecido desde as investigações de Priestley, que lhe chamou gás mefítico, a substância gasosa que restava depois de esgotar o oxigénio numa combustão em ambiente fechado. Era inerte e não servia para ser respirado.      

Os trabalhos de Lavoisier alcançaram uma dimensão enciclopédica. O intelectual francês ajudou a elaborar o sistema métrico e contribuiu para a reforma da nomenclatura química. Previu a existência do silício e afirmou que o enxofre era um elemento e não um composto.

Escreveu a primeira lista de elementos químicos e formulou o princípio de conservação da matéria, segundo o qual “na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. O essencial da ideia tinha sido exposto, 14 anos antes, pelo grande cientista russo Mikhail Lomonossov, sem que as suas descobertas fossem divulgadas fora das fronteiras do seu país.

Há conceitos que parecem óbvios, pelo menos para os ateus, como eu. No Cosmos, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Nem o Espaço, nem o Universo têm limites. O Tempo não teve início, nem terá fim. Se uma porção do Universo se estiver a dilatar, outras, mais ou menos distantes, estarão a encolher. Curiosamente Lavoisier não sabia  que era filósofo... 

Segundo Joseph-Louis de Lagrange, um importante matemático da época, a guilhotina cortou, num segundo, uma cabeça que que não bastaria um século para produzir outra igual.

Era o lado cego da Revolução.

 

 


Sem comentários:

Enviar um comentário