A EXECUÇÃO DE LAVOISIER
Antoine-Laurent de Lavoisier foi guilhotinado pelos
seus compatriotas em maio de 1794, alegadamente por ter posto à venda tabaco
adulterado. O verdadeiro motivo da sua morte terá sido a sua participação,
durante a monarquia, no odiado sistema francês de cobrança de impostos.
Aristocrata, nascido em 1743 no seio de uma rica
família parisiense, estudou Química, Botânica, Astronomia e Matemática no
Colégio Mazarin. Ainda se interessou pelo Direito, mas acabou por se inclinar
para as ciências.
Foi pioneiro em diversos ramos da Ciência. Aos 22 anos,
recebeu a medalha de ouro da Academia de Ciências de França pelo seu projeto de
iluminação das ruas de Paris. Anos mais tarde, seria eleito membro da mesma
Academia, como prémio pelos seus trabalhos no estudo geológico da França.
Lavoisier desempenhou diversos cargos públicos. Em
1769, adquiriu uma participação na Ferme Générale, a agência paragovernamental
de cobrança de impostos e chegou a ser seu administrador (rendeiro-geral).
Naquela época, a Coroa concessionava a privados a cobrança de impostos. Em 1776
(ainda durante a monarquia) foi nomeado administrador das fábricas francesas de
pólvora e salitre. Por ocasião da Revolução americana, fundou uma empresa
estatal de pólvora destinada essencialmente a apoiar os independentistas que
lutavam contra a Inglaterra.
Lavoisier é considerado um dos fundadores da química
moderna. Identificou o oxigénio e o hidrogénio e descobriu a composição da água
e o papel do oxigénio na combustão. Esta descoberta pôs em cheque a teoria
milenar de Tales de Mileto, que considerava a água um dos quatro elementos
fundamentais a partir dos quais eram formadas todas as substâncias.
Na verdade, Lavoisier não descobriu o oxigénio. O
mérito da descoberta recai sobre os químicos Carl Wilhelm Scheele e Joseph Priestley,
que, trabalhando de forma independente, o identificaram, respetivamente, em
1772 e 1774. Priestley contactou com Lavoisier e informou-o do resultado das
suas experiências.
De um modo geral, os progressos das ciências dão-se por
pequenos avanços sucessivos. Lavoisier refez as experiências de Priestley e foi
mais além. Entendeu que a combustão se devia à combinação do oxigénio com
matérias orgânicas, enquanto a oxidação resultava da sua ligação a metais.
Contribuiu para o melhor conhecimento do azoto, a que deu o nome de nitrogénio.
O azoto era conhecido desde as investigações de Priestley, que lhe chamou gás
mefítico, a substância gasosa que restava depois de esgotar o oxigénio numa
combustão em ambiente fechado. Era inerte e não servia para ser respirado.
Os trabalhos de Lavoisier alcançaram uma dimensão
enciclopédica. O intelectual francês ajudou a elaborar o sistema métrico e
contribuiu para a reforma da nomenclatura química. Previu a existência do
silício e afirmou que o enxofre era um elemento e não um composto.
Escreveu a primeira lista de elementos químicos e
formulou o princípio de conservação da matéria, segundo o qual “na Natureza
nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. O essencial da ideia tinha
sido exposto, 14 anos antes, pelo grande cientista russo Mikhail Lomonossov,
sem que as suas descobertas fossem divulgadas fora das fronteiras do seu país.
Há conceitos que parecem óbvios, pelo menos para os
ateus, como eu. No Cosmos, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Nem
o Espaço, nem o Universo têm limites. O Tempo não teve início, nem terá fim. Se
uma porção do Universo se estiver a dilatar, outras, mais ou menos distantes,
estarão a encolher. Curiosamente Lavoisier não sabia que era
filósofo...
Segundo Joseph-Louis de Lagrange, um importante
matemático da época, a guilhotina cortou, num segundo, uma cabeça que que não
bastaria um século para produzir outra igual.
Era o lado cego da Revolução.
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