LEGALIZAÇÃO DA CANNABIS
II
A cannabis é o cânhamo comum, usado há
muitos séculos em cordoaria. Nasce sem ser cultivada em diversas áreas
tropicais. Sabe-se, há perto de três milénios, que altera o funcionamento
cerebral. Foi usada por chineses, indianos, gregos, romanos e espalhou-se mais
tarde pelo mundo muçulmano. O Corão proíbe o consumo do álcool, mas julgo que é
omisso no que se refere à canábis.
Na antiga cultura germânica a «erva» foi
associada à deusa do amor, Freya. Segundo alguns tradutores, o óleo da unção
mencionado no Êxodo continha cannabis. Algumas seitas cristãs modernas
proclamam-na como a Árvore da Vida.
A utilização recreativa desta droga cresceu
ao longo do último século.
As designações «maconha», «erva», «liamba»
e «marijuana» referem-se às folhas secas das plantas de Cannabis e às flores
das plantas femininas. São as formas mais usadas. O teor de tetrahidrocanabinol
(THC) vai dos 3 aos 22 por cento. Lembre-se que a canábis utilizada na produção
industrial de têxteis contem menos de 1% de THC.
O «haxixe» é uma resina concentrada. É
mais forte que as folhas secas e pode ser fumado ou mastigado.
Os extractos são designados habitualmente
como «óleo de haxixe» e possuem uma taxa elevada de canabinoides.
O «kief» obtém-se dos tricomas (não do
pólen). Pode ser compactado ou consumido em forma de pó.
O «baseado» ou «charro» é um cigarro de folhas secas de cannabis. Poderá ter tabaco associado.
Existe ainda uma grande variedade de infusões.
Existe ainda uma grande variedade de infusões.
Os
efeitos da cannabis na mente humana são bem conhecidos. Variam, de acordo com a
predisposição pessoal e as características da «erva» consumida. As sensações
mais comuns são de bem-estar e de descontracção. Muitas vezes, sobrevém o riso
fácil, mas pode ocorrer a angústia. A percepção do espaço e do tempo é alterada. A atenção e, muitas vezes, a memória, são afectadas
transitoriamente.
A
euforia e o relaxamento são induzidas pelo pelo tetrahidrocarbinol. É frequente
a tendência para a introspecção e a inclinação para o pensamento filosófico.
Seguem-se, muitas vezes, o aumento do ritmo cardíaco e a sensação de fome. São
usuais a injecção conjuntival (o sintoma mais visível) e a
sensação de «boca seca».
O estado de espírito
volta ao normal cerca de três horas após o consumo da droga. Quando se
auto-administram maiores quantidades de produto, o tempo de recuperação é mais prolongado.
As consequências do consumo crónico fazem-se sentir essencialmente nos pulmões (quando a droga é fumada) e têm alguma semelhança com as do tabagismo. Aumentam as probabilidades de
contrair bronquite arrastada e, eventualmente, de doença pulmonar crónica
obstrutiva. Julga-se que o risco de desenvolvimento de cancro do pulmão fica
também acrescido. Os níveis de testosterona podem descer. Poucos outros
efeitos indesejáveis têm sido constatados no consumo a longo prazo. Podem
ocorrer perturbações da memória, com a consequente limitação da capacidade de
aprendizagem. Outra das possíveis consequências negativas é o desinteresse, com
a perda de motivação necessária para enfrentar as agruras da vida.
Curiosamente, o consumo da cannabis comporta um risco de dependência inferior ao da nicotina e do
álcool.
Em defesa do consumo da cannabis, não há
muito a dizer. Por reduzir as náuseas e os vómitos, tem sido utilizada em
algumas modalidades de tratamento da SIDA e de quimioterapia. É usada
ocasionalmente como medicação adjuvante no combate às dores e a contractura muscular.
Por diminuir a pressão intra-ocular, poderá ser aproveitada no controlo do
glaucoma.
Singapura
Singapura
O
modo de encarar o consumo de canábis varia amplamente conforme as regiões do
mundo. Enquanto na Holanda o consumo é despenalizado e no estado americano do
Colorado o comércio passou a ser legal, em países como a China, a
Tailândia e Singapura, a venda pode implicar a prisão perpétua e até a pena de
morte.
(Continua)
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