DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


  LEGALIZAÇÃO DA CANNABIS

                               II



   A cannabis é o cânhamo comum, usado há muitos séculos em cordoaria. Nasce sem ser cultivada em diversas áreas tropicais. Sabe-se, há perto de três milénios, que altera o funcionamento cerebral. Foi usada por chineses, indianos, gregos, romanos e espalhou-se mais tarde pelo mundo muçulmano. O Corão proíbe o consumo do álcool, mas julgo que é omisso no que se refere à canábis. 




   Na antiga cultura germânica a «erva» foi associada à deusa do amor, Freya. Segundo alguns tradutores, o óleo da unção mencionado no Êxodo continha cannabis. Algumas seitas cristãs modernas proclamam-na como a Árvore da Vida.
   A utilização recreativa desta droga cresceu ao longo do último século.
  As designações «maconha», «erva», «liamba» e «marijuana» referem-se às folhas secas das plantas de Cannabis e às flores das plantas femininas. São as formas mais usadas. O teor de tetrahidrocanabinol (THC) vai dos 3 aos 22 por cento. Lembre-se que a canábis utilizada na produção industrial de têxteis contem menos de 1% de THC.


   O «haxixe» é uma resina concentrada. É mais forte que as folhas secas e pode ser fumado ou mastigado.



   Os extractos são designados habitualmente como «óleo de haxixe» e possuem uma taxa elevada de canabinoides.



  O «kief» obtém-se dos tricomas (não do pólen). Pode ser compactado ou consumido em forma de pó.



   O «baseado» ou «charro» é um cigarro de folhas secas de cannabis. Poderá ter tabaco associado.



   Existe ainda uma grande variedade de infusões.
   Os efeitos da cannabis na mente humana são bem conhecidos. Variam, de acordo com a predisposição pessoal e as características da «erva» consumida. As sensações mais comuns são de bem-estar e de descontracção. Muitas vezes, sobrevém o riso fácil, mas pode ocorrer a angústia. A percepção do espaço e do tempo é alterada. A atenção e, muitas vezes, a memória, são afectadas transitoriamente.   
   A euforia e o relaxamento são induzidas pelo pelo tetrahidrocarbinol. É frequente a tendência para a introspecção e a inclinação para o pensamento filosófico. Seguem-se, muitas vezes, o aumento do ritmo cardíaco e a sensação de fome. São usuais a injecção conjuntival (o sintoma mais visível) e a sensação de «boca seca».




   O estado de espírito volta ao normal cerca de três horas após o consumo da droga. Quando se auto-administram maiores quantidades de produto, o tempo de recuperação é mais prolongado.
   As consequências do consumo crónico fazem-se sentir essencialmente nos pulmões (quando a droga é fumada) e têm alguma semelhança com as do tabagismo. Aumentam as probabilidades de contrair bronquite arrastada e, eventualmente, de doença pulmonar crónica obstrutiva. Julga-se que o risco de desenvolvimento de cancro do pulmão fica também acrescido. Os níveis de testosterona podem descer. Poucos outros efeitos indesejáveis têm sido constatados no consumo a longo prazo. Podem ocorrer perturbações da memória, com a consequente limitação da capacidade de aprendizagem. Outra das possíveis consequências negativas é o desinteresse, com a perda de motivação necessária para enfrentar as agruras da vida. Curiosamente, o consumo da cannabis comporta um risco de dependência inferior ao da nicotina e do álcool.
   Em defesa do consumo da cannabis, não há muito a dizer. Por reduzir as náuseas e os vómitos, tem sido utilizada em algumas modalidades de tratamento da SIDA e de quimioterapia. É usada ocasionalmente como medicação adjuvante no combate às dores e a contractura muscular. Por diminuir a pressão intra-ocular, poderá ser aproveitada no controlo do glaucoma. 


                               Singapura
O modo de encarar o consumo de canábis varia amplamente conforme as regiões do mundo. Enquanto na Holanda o consumo é despenalizado e no estado americano do Colorado o comércio passou a ser legal, em países como a China, a Tailândia e Singapura, a venda pode implicar a prisão perpétua e até a pena de morte.

                                              (Continua)


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