PADRE COSTA DE TRANCOSO
Trancoso
é uma pequena cidade muralhada da Beira Interior Norte. Dista 37 quilómetros da Guarda e 46 de Foz Coa. É
conhecida sobretudo pelas figuras incomuns do padre Francisco da Costa, que
viveu no século XV, e, sobretudo, pela de Gonçalo Anes, o Bandarra, sapateiro, profeta e trovador do século XVI. No último quartel do século XX sobressaiu na povoação a figura de Ângelo de Trancoso, contrabandista, valente, que serviu de homem
de mão a alguns elementos da extrema-direita portuguesa nos anos que se
seguiram ao 25 de Abril. Publicou recentemente a sua auto-biografia.
Vou
falar apenas do padre Costa, referindo o seu currículo peculiar, conforme
consta da sentença contra ele proferida em 1487.
Fez duzentos e noventa e nove
filhos, «sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo
masculino» em cinquenta e três mulheres. À própria mãe, fez dois. À sua tia, Ana
da Cunha, três. «De cinco irmãs, teve dezoito filhas». Dormiu com vinte e nove
afilhadas, tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos. «De nove
comadres teve trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e
nove filhos e cinco filhas, de duas escravas teve vinte e um filhos e sete
filhas». Não fiz as contas finais e duvido de que ele as tenha feito. Atrevo-me a pensar que os homens da terra, na época, procurassem deslocar-se com os trazeiros encostados às paredes.
«O
padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, da idade de sessenta e dois anos
foi condenado a ser degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas
nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e
mãos em diferentes distritos, pelo crime de que foi arguido e que ele mesmo não
contrariou».
A
sentença não foi executada. «El Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou
pôr em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487 e guardar no Real
Arquivo da Torre do Tombo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o
processo».
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