DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

         
      LEGALIZAÇÃO DA CANNABIS

                                     I

Há dias (08-05-2014), a ministra portuguesa da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, defendeu, em entrevista à TSF, a despenalização do consumo da cannabis e a sua venda legal nas farmácias. Receoso de perder votos, o primeiro-ministro Passos Coelho apressou-se a declarar que se tratava duma opinião pessoal da ministra, a qual não falara em nome do governo.


        No entanto, Paula Teixeira da Cruz limitara-se a juntar a sua voz a um coro crescente de personalidades intocáveis que propõem a liberalização das drogas ditas «leves».
Em Junho de 2011, a Comissão Global sobre Política de Drogas, que integrava nomes como os de Kofi Annan, Mario Vargas Llosa, Javier Solana e George Schultz pronunciou-se pelo falhanço da guerra global às drogas e pela necessidade de se encontrarem caminhos alternativos.


Kofi Annan

Em Dezembro de 2013, o Uruguai tornou-se o primeiro país do mundo a legalizar «a produção, a distribuição e a venda» de canábis. Meses depois, o secretário nacional de drogas do país proclamava que «o número de mortes ligadas ao uso e comércio da droga fora reduzido a zero», embora reconhecesse que a liberalização levada a cabo fosse susceptível de incrementar o número de utilizadores.

José Mujica, presidente do Uruguai 

O Colorado, em Novembro de 2012, autorizara já a plantação de até seis pés de canábis em espaço fechado para cidadãos com idades superiores a 21 anos. O produto pederia ser oferecido a amigos. Em Novembro de 2014, os eleitores norte-americanos referendaram a legalização da canábis. A proposta foi aprovada nos estados de Alasca, Oregon e Washington. As perspectivas do nascimento duma indústria extremamente lucrativa são altas entre os economistas americanos.


Em Junho de 2014, o antigo presidente da República portuguesa Jorge Sampaio, em parceria com a antiga chefe de estado suíça, Ruth Dreyfuss, fez publicar, no Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico de Drogas, um artigo em que defendia a «instituição de uma nova estratégia internacional para o século XXI» face ao problema das drogas. Tinham sido numerosos os países a propor o termo da «guerra às drogas» em Março, na sessão da Comissão de Estupefacientes da ONU.


Pena Nieto, Presidente do México

Logo após os referendos norte-americanos, os presidentes do México, Honduras, Belize e Costa Rica pediram aos países consumidores (leia-se EUA) que procedessem à revisão das leis existentes.
Trata-se duma onda de fundo, a nível mundial.  As mudanças esperadas irão também aplicar-se, ainda que de forma diferente, à abordagem do problema das drogas «duras». Falarei aqui apenas da marijuana. Não é preciso ser profeta para adivinhar a próxima liberalização do uso das drogas «leves» na Europa.
Em Portugal, o Bloco de Esquerda apresentou no Parlamento alguns projectos de lei com essa intenção. Espera-se, para breve, outra iniciativa que aponte no mesmo sentido.

                                                      (Continua)


                                    

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