JE NE
SUIS PAS CHARLIE!
I
Ao atingirem o coração da Europa, os atentados de 7 de
Janeiro em Paris obtiveram um impacto excepcional no imaginário ocidental. No
entanto, o número de vítimas mortais esteve bem longe das duas mil pessoas
massacradas na mesma semana pelos militantes do Boko Haram na Nigéria enquanto passou quase
despercebida a explosão de um carro armadilhado na capital do Yemen que provocou
cerca de 40 vítimas.
Poderemos estar perto duma guerra global.
Poderemos estar perto duma guerra global.
Os assassinatos dos cartoonistas
franceses do Charlie Hebdo e as
mortes ocorridas em ataques separados vieram relançar o debate sobre o
terrorismo islâmico e os modos de o combater. As respostas iniciais ficaram-se,
tanto quanto sei, pelo reforço das medidas de segurança, incluindo a troca
atempada de informações entre as várias polícias nacionais e a eventual
restrição da livre circulação de pessoas no espaço Schengen.
A resposta visível da opinião pública europeia foi
marcadamente emocional. Cerraram-se fileiras em torno da sagrada liberdade de
expressão e agudizou-se o ódio aos muçulmanos. Lembre-se que circulam, há anos,
na Internet, mensagens de conteúdo xenófobo, alertando para o risco de
submersão da sociedade ocidental, tal como a idealizamos, face à presença
crescente das gentes de credo muçulmano.
Não é, aliás, possibilidade que a História desminta.
Aconteceu no Líbano nos anos 50 a 80 do século passado.
O Líbano, a que chamavam «Suíça do Médio Oriente) era o país mais rico e estável da região. A população era cristã maronita (51% dos habitantes, em 1926), e muçulmana (49%), com largo predomínio de sunitas. A criação do Estado de Israel levou ao exílio de muitos palestinianos para os países vizinhos, incluindo o Líbano. Esta emigração, aliada a uma taxa mais elevada de natalidade entre os muçulmanos, modificou a demografia, tendo os cristãos passado a ser minoritários. Em Abril de 1975, teve início uma guerra civil que duraria dezasseis anos e deixaria parte do país em escombros.
O Líbano, a que chamavam «Suíça do Médio Oriente) era o país mais rico e estável da região. A população era cristã maronita (51% dos habitantes, em 1926), e muçulmana (49%), com largo predomínio de sunitas. A criação do Estado de Israel levou ao exílio de muitos palestinianos para os países vizinhos, incluindo o Líbano. Esta emigração, aliada a uma taxa mais elevada de natalidade entre os muçulmanos, modificou a demografia, tendo os cristãos passado a ser minoritários. Em Abril de 1975, teve início uma guerra civil que duraria dezasseis anos e deixaria parte do país em escombros.
A emigração de muçulmanos para a Europa não tem parado de crescer.
É particularmente importante na Espanha, França e Reino Unido, que tiveram
colónias muçulmanas, e na Alemanha, onde existe uma importante comunidade de
origem turca. Em Portugal, uma em cada 200 pessoas segue os ensinamentos do Profeta.
Encontram-se nas grandes cidades do mundo gentes de todas as raças e religiões.
Não disponho de dados que me permitam avaliar, na
generalidade, a adaptação das minorias maometanas aos países de acolhimento.
Atrevo-me a supor que é globalmente boa e que a maior parte dos muçulmanos
pretende trabalhar e, se possível, prosperar em paz. Haverá falhas graves na
integração, como o demonstra o facto de estarem continuamente a surgir radicais
islâmicos nos países ocidentais. Se, desde 2011, 1200 cidadãos franceses se
juntaram aos grupos islamitas que combatem na Síria e no Iraque, haverá
práticas profundamente erradas no modo como a Europa aborda a coexistência de
culturas. Em casos de divórcio, é pouco comum que a culpa seja unicamente dum
dos cônjuges.
As declarações repetidas dos líderes islamitas radicais vão
no sentido de alargar a «guerra santa». Uma parte dos muçulmanos, em vez de
aceitar os valores e códigos de vida das sociedades em que se instala, pretende
repor o antigo império árabe. Lembre-se que a península ibérica foi colonizada
pelo Islão durante perto de oito séculos (a partir de 711) e que os vestígios
dessa ocupação são ainda aparentes entre nós, nomeadamente na linguística. Basta
lembrar que uma das maneiras de dizermos «Deus queira» é «oxalá». Curiosamente,
já na vigência da nossa primeira República, o uso da «burka» (bioco) voltou a
ser proibido em Olhão.
Continua
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