AVÔ! VI NO CINEMA UM DOS TEUS QUADROS!
Invento histórias. Publiquei dois volumes de contos e estou a preparar outro.
Curiosamente, dão-se na vida acontecimentos que chegam a suplantar a imaginação.
Há dias, a minha neta Leonor chegou a casa e disse:
- Avô! Vi no cinema um dos teus quadros!
Não sei pintar. Os poucos quadros que possuo foram comprados. Aguardei as explicações.
- É o dos tubarões!
Adquiri aquela tela há uma dúzia de anos num antiquário da Rua de
S. José, em Lisboa. Espreitei-a antes, com dias de intervalo. Com as obras de
arte, acontece o mesmo que com algumas mulheres: engraçamos com elas mas não o
suficiente para as trazermos para casa. Acabam por cansar a vista.
Aquela está na parede da sala e divide as opiniões da família. Eu
gosto dela. A São e as nossas filhas não a apreciam muito. Figura um homem
negro deitado na coberta dum barco pequeno. Não há terra à vista. O leme quebrou-se
e o mastro também. O mar está agitado e, ao fundo, nasce um tornado. Um navio à
vela perde-se no horizonte. Em primeiro plano, assomam os tubarões. Não têm ar
feroz. Lembram gatos a ronronar. O quadro poderia chamar-se “Rodeado de perigos”
mas Winslow Homer, que o pintou em 1889, deu-lhe o nome de Gulf stream (A corrente do
golfo). Encontra-se no Museu Metropolitano de Arte, em Nova York.
O filme em que a minha neta o reconheceu intitula-se “The Forger”
e trata da falsificação de obras de arte. A pintura que tenho em casa não é uma
falsificação. Trata-se duma obra assinada por A. Waterschoot.
Alfons Waterschoot nasceu em 1931 em Turnout, na Bélgica, e
faleceu em 2008. Fiz uma busca na Internet para saber se tinha em casa uma
assinatura de valor. A conclusão a que cheguei foi que o quadro valia aproximadamente
o preço baixo que dei por ele.
Ficou a história, que não deixa de ser interessante. E a pintura
lá está, na parede da minha sala…
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