AMILCAR CABRAL
LI
OS
RAPAZES DE SPÍNOLA
As academias proporcionam a informação
essencial, mas os verdadeiros chefes militares revelam-se em combate. Muitos não frequentaram qualquer academia.
Comissões
sucessivas nos diversos teatros de operações contribuíram para formar nas
Forças Armadas Portuguesas um escol de oficiais. Alguns combateram na
Guiné, às ordens do general António de Spínola. Chamavam-lhe “os rapazes de
Spínola” e havia quem os apelidasse de “os sete magníficos”.
Carlos Fabião foi um deles. Foi
promovido por distinção e muitas vezes louvado e condecorado. Tratava-se de um
homem completo: comandante militar, cidadão, político e chefe de família. O
facto de gostar de escrever e de ter deixado muitos artigos publicados facilita
as referências que lhe fazemos. Ouçamo-lo falar dos outros centuriões:
Eram o Ricardo Durão, o tenente-coronel Firmino Miguel, o major Pereira da Costa,
o major Bruno, o major Carlos Azeredo e o major Carlos Morais. Posteriormente,
o major Dias de Lima substituiu o Carlos Morais e o tenente-coronel Artur
Baptista veio a substituir o Firmino Miguel. Juntou-se também a este grupo o
capitão António Ramos. Era este o núcleo duro do "staff" do general. Otelo
esteve também na Guiné, mas colocado numa repartição.
Marcelino da Mata também os conheceu
bem:
“O
comandante-chefe era o general Spínola, de quem eu tinha tudo o que queria: eu
dizia que havia qualquer coisa em qualquer lado e ele dizia para eu ir e fazer
o que entendesse melhor. Durante essa época, quem fez muitas operações comigo
foi o capitão paraquedista António Ramos, que era um grande guerreiro – fizemos
mais de 200 operações juntos. Os outros bons guerreiros que conheci foram: no
Exército, o major de cavalaria Carlos Azeredo e o major de infantaria Carlos
Fabião; na Marinha, o primeiro-tenente fuzileiro Rebordão de Brito e o Alpoim
Calvão. Na Força Aérea, o major piloto-aviador Zuquete, o tenente-coronel
piloto-aviador Almeida Brito que foi abatido junto à fronteira sul da Guiné por
um míssil “Strella” e o major piloto-aviador Fernando Vasquez que hoje é
general. Dos que foram graduados em generais depois do 25 de Abril, o Fabião
era o único que merecia: foi um homem muito corajoso no mato, que nunca virou
as costas ao inimigo e limpou a zona sul toda em 4 anos. Já o capitão de artilharia
Otelo Saraiva de Carvalho nunca participou numa operação.”
Voltemos a Carlos Fabião:
Quando me mandaram para a Guiné, tinha
duas coisas a meu favor. Tinha seis anos de Guiné em tempo de paz - conhecia
toda a Guiné - e os conhecimentos da guerra subversiva em Angola devido à
comissão de 27 meses que tinha feito e que correu muito bem. A minha companhia
em Angola era conhecida como «a companhia dos camelos». Na Guiné, comandei
uma companhia de caçadores, entre 1965 e 1967. Na altura, era a companhia mais
prestigiada da Guiné e isso fez com que eu fosse condecorado com a medalha de
Valor Militar de Prata e fosse promovido a major, por distinção. Foi aqui que
começou a ser conhecido, digamos assim, o nome de Fabião.
Há muita gente que diz que houve grandes
diferenças entre a guerra em Angola e a guerra na Guiné, mas eu não notei
nenhuma. A guerra subversiva era igual em qualquer sítio. Para mim, que era uma
máquina que subia mal mas andava bem na planície, a guerra na Guiné foi
melhor, porque o terreno era plano. Apesar de na época das chuvas o terreno ser
pantanoso, eu deslocava-me melhor na Guiné do que em Angola. Em Angola, na zona
do Cuanza Norte, onde estive, os terrenos eram altos, muito altos, mas fazia-se
quase tudo de carro porque as distâncias não permitiam andar a pé. Quando
estive na Guiné, antes da guerra, caçava muito e, portanto, estava habituado ao
terreno. A minha companhia era de intervenção. Havia um batalhão que cobria uma
área, tinha duas ou três companhias em quadrícula e uma companhia liberta que
fazia as operações. Era a minha. Fazíamos todo o tipo de operações imagináveis:
operações, golpes de mão, emboscadas, patrulhamentos, rusgas. O comandante de
batalhão fazia as operações, nomeava, pedia os reforços, entregava-me e eu
estudava aquilo no terreno. Gostava muito de funcionar com africanos. Já vinha
do tempo de paz. Tinha sempre negros de confiança que trabalhavam comigo e que planeavam
as operações comigo e me informavam. A princípio, a maioria deles, estavam nos caçadores nativos ou nas milícias. Mais tarde, quando fiz a minha última
comissão na Guiné, Spínola resolveu rendibilizar ao máximo esses africanos e
convidou-me para ir para lá e organizar um corpo especial com esses indivíduos.
Criei assim o Comando Geral das Milícias.
João
de Almeida Bruno, oficial de cavalaria com a especialidade de Comando, foi o
primeiro Comandante do Batalhão de Comandos Africanos. Desempenhou essas
funções entre maio de 1968 e julho de 1970. O batalhão tinha como principal
missão atacar as bases do PAIGC instaladas nas regiões fronteiriças da
Guiné-Conakry e do Senegal. Para dificultar a identificação formal dos autores
das incursões, que todos conheciam, eram equipados com armamento soviético
capturado ao inimigo (Kalashinikov, Degtyarev, RPG2 e RPG79).
Almeida Bruno foi ajudante de campo
do general Spínola. Gostou sempre de dar
o nome de pedras preciosas às operações que dirigia. Em
maio de 1973, planeou e comandou uma
arriscada ação militar no interior
do território do Senegal. Objetivo: atacar e destruir a base do PAIGC instalada na zona de Kumbamory. Era
a partir daqui que as forças da guerrilha flagelavam a
nossa posição em Guidaje, no norte da Guiné mesmo
em cima da fronteira.
Após o 25 de abril, desempenhou vários altos cargos
militares. Reformou-se como general.
Mário Firmino Miguel era natural de Sintra. Oficial
notável, de feitio conciliador, foi Chefe do Estado-Maior do Exército entre
1987 e 1991. Viria aintegrar, como ministro da Defesa os três primeiros
governos constitucionais. Faleceu aos 59 anos num acidente de automóvel.
Carlos Manuel de Azeredo Pinto Melo e Leme nasceu perto do Marco de
Canaveses. Oficial de cavalaria, cumpriu
cinco comissões no Ultramar: duas na Índia, uma em Cabinda e duas na Guiné. No
antigo Estado Português da Índia, foi aprisionado pelas tropas indianas.
Dirigiu o Planeamento e comandou a
execução do movimento militar do 25 de abril no norte de Portugal.
Foi o último governador civil da
Madeira. Mais tarde, foi assessor militar do Primeiro Ministro Francisco
Sá Carneiro, 2º comandante da Região Militar Norte e Inspetor para a Arma
de Cavalaria. Depois de promovido a general, dirigiu a Arma de Cavalaria e a
Região Militar Norte.
Apesar de ser monárquico, foi o chefe da Casa Militar do Presidente da República Mário Soares. Nas eleições autárquicas de 1997, candidatou-se à presidência da Câmara Municipal do Porto, chefiando uma coligação do PSD com o CDS. Derrotado por Fernando Gomes, cumpriu o mandato de vereador durante os quatro que lhe competiam.
Apesar de ser monárquico, foi o chefe da Casa Militar do Presidente da República Mário Soares. Nas eleições autárquicas de 1997, candidatou-se à presidência da Câmara Municipal do Porto, chefiando uma coligação do PSD com o CDS. Derrotado por Fernando Gomes, cumpriu o mandato de vereador durante os quatro que lhe competiam.
O
seu feitio peculiar dificultou-lhe as relações com alguns superiores
hierárquicos, tendo sido punido algumas vezes. Não foram tantas como as ocasiões
em que foi condecorado. Recebeu a Cruz de Guerra de 1ª Classe, duas medalhas de
Serviços Distintos - Ouro e Prata com Palma - as Grãs- Cruzes das Ordens de Cristo e de Avis, do Império Britânico e outras de
menor importância.
É autor de vários livros, entre os quais se contam:
“Trabalhos e Dias de um Soldado do Império”, de cariz autobiográfico, e
“Invasão do norte: 1809 - A Campanha do General Silveira contra o
Marechal Soult”.
Ricardo Ferreira Durão realizou
quatro missões em África: uma em Angola,
duas na Guiné (entre 1965 e1970) e uma em São Tomé.
Falou do período em que esteve na Guiné.
“Fui
para a Guiné como oficial de operações do batalhão, para o leste, uma área
fula, que era uma etnia favorável aos portugueses. Era uma área muito extensa,
com uma população razoável. Nós andávamos no meio da população com à vontade.
Havia amizade. O leste não era tão florestal como o resto do território, era
savana aberta, onde era muito difícil eles terem esconderijos. De maneira que
atravessavam a fronteira com grupos muito fortes que dizimavam aldeias e
povoações e pegavam fogo a tudo. Nós tínhamos de intervir e quando o fazíamos
deparávamos com grupos militarmente muito fortes que depois saíam. Havia
situações em que as forças inimigas eram na ordem dos duzentos homens bem
armados. Tinham tudo quanto havia de armamento moderno na altura, ido da União
Soviética, da Checoslováquia, etc. Estavam bem organizados, fardados, com
aspeto militar, orientação e força. Na Guiné eles transitavam livremente ali
perto, no Senegal, na República da Guiné, com grupos bem constituídos, entravam
e saíam com grande capacidade de combate. Mao Tsé Tung dizia que um
guerrilheiro devia estar entre a população como um peixe na água e o P.A.I.G.C.
seguia isso. Eles tinham o apoio dos comunistas porque tinham que ter um apoio
qualquer, mas se nós lhes déssemos apoio para o futuro da Guiné, eles ficariam
do nosso lado”.
Segundo Ricardo Durão, era
frequente haver um alferes branco a dirigir um grupo de trinta homens
africanos. Os soldados que serviam Portugal eram de etnia maioritariamente
fula.
Durão acompanhou as negociações
com elementos do PAIGC que levou à morte dos majores Passos Ramos, Pereira da
Silva e Osório.
Reformou-se como general.
Carlos
Alexandre de Morais, nascido em 1931 na vila de Valpoi, distrito de Goa, foi
oficial de cavalaria do Exército Português.
No
25 de abril estava já na reserva, como major. Serviu de intermediário entre Otelo
Saraiva de Carvalho e Spínola. Foi promovido a coronel.
Escreveu "A Queda da Índia Portuguesa. Crónica da Invasão e do Cativeiro”. Os acontecimentos reportam-se a 1962 e ao campo de concentração de Pondá, onde estiveram presos durante largos meses cerca de 1750 militares e civis, na sequência da invasão de Goa, Damão e Diu pela União Indiana.
Faleceu em abril de 2007.
Não
consegui reunir muita informação sobre o major Jorge Viana Pereira da Costa. Chefiou
o Serviço de Informações Militares na Guiné, onde era conhecido pela alcunha de
«Astérix». Desempenhou um papel importante na preparação do livro «Portugal e o
futuro».
Como vemos, António de Spínola soube rodear-se de oficiais que, para além de terem
demonstrado o seu valor em combate, possuíam uma craveira intelectual acima da
média.
Seria tarefa árdua contabilizar as condecorações com
que foram agraciados, ao longo da vida, os “sete magníficos” oficiais do general do monóculo. Curiosamente, esses militares de elite eram também homens de cultura. Para
o comprovar, bastará dar uma vista de olhos à lista de livros e artigos que deixaram
escritos.
Caro Antonio Trabulo, o major Pereira da Costa que menciona no seu artigo tem como nome completo Jorge Viana Pereira da Costa. Do Coronel Antonio José Pereira da Costa, não tenho referência de ter sido um dos "rapazes de Spinola". Basta ler o artigo que saiu no Jornal Expresso no dia 22 de Fevereiro
ResponderEliminarAgradeço a correcção. Irei introduzi-la no blogue e texto do livro a publicar.
EliminarCordialmente
António Trabulo
Um pouco ridiculo falar desses homens que faziam uma guerra criminosa contra povo quase primitivo.. Mas sim foram uns heróis do caraças..Na guiné até havia muita população portuguesa para defender.. não era assim caro amigo !? Já o Otelo de Carvalho não era muito bom a matar pretos terroristas não é assim ??
ResponderEliminarSpinola o cavaleiro da triste figura e seu séquito...lutavam pelo regime que oprimia a maioria dos Portugueses, parabens.
Um pouco ridiculo falar desses homens que faziam uma guerra criminosa contra povo quase primitivo.. Mas sim foram uns heróis do caraças..Na guiné até havia muita população portuguesa para defender.. não era assim caro amigo !? Já o Otelo de Carvalho não era muito bom a matar pretos terroristas não é assim ??
ResponderEliminarSpinola o cavaleiro da triste figura e seu séquito...lutavam pelo regime que oprimia a maioria dos Portugueses, parabens.
Este palerma não merece ser comentado, merecia sim perder a nacionalidade
ResponderEliminarVasco Montez, Completamente de acordo! Mas este Portugal está pleno de IGNORANTES, COBARDES E TRAIDORES. Endividaram isto em 250 biliões de euroSHITS e o PIA ascendeu a 132%. 90% da merda da juventude não quer trabalhar nem estudar. É uma geração Choka Picks & Coca-Cola a quem tudo damos e ainda cagam postas de pescada acomunadas e acéfalas.
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarEste palerma não merece ser comentado, merecia sim perder a nacionalidade
ResponderEliminarEste palerma não merece ser comentado, merecia sim perder a nacionalidade
ResponderEliminarEste palerma não merece ser comentado, merecia sim perder a nacionalidade
ResponderEliminarmmiguel ! calado eras um poeta
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