DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 2 de julho de 2013

ASSASSÍNIO EM NOTRE DAME

                            

                            Capítulo IX

Pouco tempo depois, chegaram a Reims.
- O chefe chegou. – Disse Megnon, ao abrir a porta.
- Já fizeram os testes de segurança necessários? – Perguntou Lasone, apressado.
Os guardas não tiveram tempo de responder, pois Fréderique aproximou-se logo do bilhete e começou a lê-lo:
“Já fomos bastante pacientes. Entregue-nos MacLarens. Não tem nem nunca irá ter provas suficientes para descobrir quem sou. Não vale a pena fugir, nós vimos e ouvimos tudo e encontrá-lo-emos em qualquer local do planeta.
Assinado: XX”
- Outra ameaça… – Suspirou Lasone. – Diz que não vale a pena fugir.
- O que fazemos agora? – Inquiriu Joshua, preocupado.
- Vamos ter de o levar para um sítio seguro. Ninguém poderá saber para onde vai. Sem exceções! Sairemos daqui o mais rápido possível. – Disse Fréderique ao ouvido de MacLarens.
No dia seguinte, de madrugada, Lasone e os seguranças acordaram MacLarens e levaram-no para um carro. Não dos blindados em que ele costumava movimentar-se desde que fora para Reims, mas dos mais normais. Não sabia ao que se devia aquela troca de veículo, mas também não perguntou. Simplesmente entrou e ficou calado, durante toda a viagem.
- Para onde me levam. – Disse, passada uma hora.
- Saber coloca-o em perigo. – Avisou Lasone.
MacLarens estava cansado que lhe dissessem que era perigoso saber as informações sobre a sua própria vida, mas não ripostou. Um dia ele descobriria o porquê de esconderem tanta coisa dele.
Pouco tempo, depois chegaram a uma casa muito acolhedora. Era quase o contrário da sede em Reims. Esta parecia uma vivenda como as outras todas. Entraram e as esperanças de Joshua confirmaram-se: tinha dois quartos, uma cozinha e uma sala com uma televisão e um sofá bege. 
- É aqui que vou ficar? – Perguntou Joshua.
- Sim, pelo menos nos próximos meses. Achámos que uma casa num bairro daria menos nas vistas. Mas o senhor nunca poderá sair daqui em horário nobre. E ninguém poderá vir visitá-lo. – Explicou Fréderique.
MacLarens não queria acreditar que agora que arranjara uma rapariga de quem realmente gostava iria ficar fechado ali, como se estivesse na prisão.
- Jean! Leva o senhor MacLarens ao seu quarto. – Ordenou Lasone.
Joshua seguiu o guarda até ao seu quarto, uma divisão alegre. As paredes eram amarelas e a mobília era uma cama e uma estante clara, cheia de livros. Joshua apreciava bastante ler e, por isso aquela foi a parte que ele mais gostou da casa.
Depois de observar todos os cantos do quarto, voltou para a sala. Estava lá Fréderique que lhe disse:
- Gosta da casa? Reparei que esteve a ver os livros. Soubemos que gosta de ler e quisemos que se sentisse em casa.
MacLarens acenou e regressou para o quarto. Sozinho sentia-se mais seguro.

                              Capítulo X

Tinham passado duas semanas. Joshua estava sentado na cama a pensar se algum dia iria sair daquela casa. O mais longe a que tinha chegado desde que tinha  ido para aquela casa era o terraço. Aquele período de tempo desde que descobrira que Marc morrera tinha sido o pior da sua vida. E por isso, tentava encontrar algo que o distraísse.
- Senhor, tenho uma coisa para lhe dar. – Chamou Lasone da sala.
MacLarens foi até ele e viu que estava com uma caixa nas mãos.
-Isto é para si. – Disse, entregando-lhe a caixa.
Joshua abriu o presente e descobriu que era um telemóvel. No dia em que fora para Reims, deixara lá o seu. Investigou o telemóvel e descobriu que tinha apenas dois contactos: o de Fréderique e um desconhecido.
- De quem é o segundo contacto?
- Ligue. Ficará feliz por descobrir. – Disse Fréderique, saindo da casa.
De quem poderia ser? MacLarens não conseguia ficar sem saber. Era demasiado curioso para isso. E por isso, telefonou ao número.
- Boa tarde. Quem fala? – Perguntou, quando lhe atenderam.
- Onde estás? – Disse o remetente.
Joshua reconheceu logo a voz. Era Mellie. Tinha tantas saudades dela. Será que lhe tinham dito que ele tinha de ficar num local seguro ou tê-la-iam apenas deixado esperar?
- Mellie! Tinha tantas saudades! Eu não te posso dizer onde estou, porque eu também não sei. Faz parte do protocolo de segurança - Respondeu o homem.
- Está tudo bem contigo? Também tenho muitas saudades.
- Quando sair daqui, irei logo ver-te.
MacLarens deixou escorrer uma lágrima.
Depois de falarem durante um longo período de tempo, Joshua foi para o quarto onde passava a maioria do tempo e começou a pensar no que aconteceria se fugisse dali. E foi isso que fez até adormecer num longo sono. Nessa noite, teve um sonho em que via Marc a sair de uma casa e ir com uma pessoa com uma máscara preta. Não conseguiu reconhecer se era um homem ou uma mulher. Estava escuro no sonho. Marc estava assustado e com uma arma apontada a ele. Nada mais conseguiu ver, pois acordou com uma ideia.
Levantou-se e mal se vestiu, abriu a janela e fugiu. Foi difícil, pois teve de passar pelo guarda e correr a toda a velocidade. Quando já tinha a certeza de que ninguém o seguia, foi a uma loja e procurou um mapa. Tinha trazido algum dinheiro e, por isso conseguiu comprá-lo.
Estava em Bordéus. Para ir para Paris ainda era uma viagem longa e por isso apanhou um comboio.
Durante a viagem, um rapaz com cerca de treze anos, sentou-se ao lado dele e começaram a falar.
- Para onde vai? – Perguntou o rapaz.
- Vou para Paris.
- Eu também. Os meus pais desapareceram sem deixar rasto uma semana depois de nos mudarmos para Lyon. Ando às voltas por França desde aí.
- A sério? Não tens amigos ou familiares que te possam ajudar. – Perguntou MacLarens, preocupado.
- Não. E o senhor, o que vai fazer a Paris?
- Eu também tenho uma história difícil. O meu irmão e o meu pai foram assassinados. O meu irmão foi morto o mês passado e o meu pai há dois anos. Acham que é a mesma pessoa que me quer matar a mim. E por isso levaram-me para um sítio secreto. Mas a pessoa descobriu-me e então mudaram-me para uma casa. Mas estava farto de não poder ver a minha namorada e então fugi. – Explicou Joshua.
- Ambos temos motivos difíceis de explicar para estarmos neste autocarro… – disse o rapaz. Sou o Mitchell, mas tratam-me por Mitch. E o senhor, como se chama?
- Sou o Joshua MacLarens. O teu nome não é francês. De onde és? – Inquiriu MacLarens.
- Sou de Inglaterra. Londres, mas o meu pai arranjou um emprego cá e tivemos de nos mudar. Não tenho amigos nem família nesta terra. Vou para Paris, pois é no único sítio que conheço em França. – Respondeu Mitch.
Um tempo depois, a criança adormeceu encostada a MacLarens. Este não conseguiria deixá-la sozinho no meio de Paris. Tinha de fazer alguma coisa. Mas o quê? Tinha deixado o telemóvel na casa, para não ser localizado e agora nunca conseguiria ligar a Mellie. E por isso, quando o comboio chegou a Paris acordou Mitch e pediu-lhe para o acompanhar.
A criança aceitou, porém um pouco desconfiada. Joshua pegou num mapa e tentou descobrir para onde ir. Na realidade, ele nunca tinha ido a casa de Mellie e não podia ir para o laboratório. E foi aí que se lembrou. Ele tinha tido uma visão com a casa da irmã dela. Era o número dezoito, da Rua Cloître Notre Dame.
- Vamos. – Disse a Mitch.
Depois de andarem alguns minutos, chegaram ao destino. Joshua não sabia o que iria dizer à irmã de Mellie. Ele nunca a vira e não queria que ela pensasse que ele lhe estava a enganar. Depois de pensar um pouco, tocou à campainha e quando a irmã de Mellie abriu a porta disse:
- Desculpe, a Mellie disse para nos encontrarmos aqui. Ela já chegou? – Perguntou MacLarens á mulher.
- Não, ela não vive cá e a estas horas deve estar no laboratório.
Dito isto, deixou escorrer uma lágrima.
- O que se passa? – Perguntou Joshua.
- O senhor lembra-me uma pessoa que me era muito querida. – Respondeu a irmã de Mellie.
- O Marc, certo? Sempre disseram que eu e o meu irmão éramos muito parecidos. – Respondeu Joshua.
Durante aquela conversa, Mitch não sabia o que dizer. Estava à porta da casa duma estranha com um desconhecido. Mas mesmo assim sentia-se reconfortado e seguro. Durante todo aquele tempo quem mais o tinha ajudado tinha sido um simples estranho.
- O senhor é o Joshua? O Marc falava muito de si, mas nunca disse que tinha um filho.
- Ele não é meu filho, é um amigo. O meu irmão falava de mim? Fréderique disse que ele nunca falava de mim. – Disse MacLarens.
- Fréderique não era noiva dele. Eu era. Ele contou-me muitos segredos. Entre, eu vou telefonar à Mellie a dizer-lhe que tem uma visita cá em casa.



Sem comentários:

Enviar um comentário