Capítulo IX
Pouco tempo depois,
chegaram a Reims.
- O chefe chegou. –
Disse Megnon, ao abrir a porta.
- Já fizeram os testes
de segurança necessários? – Perguntou Lasone, apressado.
Os guardas não tiveram
tempo de responder, pois Fréderique aproximou-se logo do bilhete e começou a
lê-lo:
“Já fomos bastante
pacientes. Entregue-nos MacLarens. Não tem nem nunca irá ter provas suficientes
para descobrir quem sou. Não vale a pena fugir, nós vimos e ouvimos tudo e
encontrá-lo-emos em qualquer local do planeta.
Assinado: XX”
- Outra ameaça… –
Suspirou Lasone. – Diz que não vale a pena fugir.
- O que fazemos agora?
– Inquiriu Joshua, preocupado.
- Vamos ter de o levar
para um sítio seguro. Ninguém poderá saber para onde vai. Sem exceções! Sairemos daqui o mais rápido possível. – Disse Fréderique ao ouvido de
MacLarens.
No dia seguinte, de
madrugada, Lasone e os seguranças acordaram MacLarens e levaram-no para um
carro. Não dos blindados em que ele costumava movimentar-se desde que fora para
Reims, mas dos mais normais. Não sabia ao que se devia aquela troca de veículo,
mas também não perguntou. Simplesmente entrou e ficou calado, durante toda a
viagem.
- Para onde me levam.
– Disse, passada uma hora.
- Saber coloca-o em
perigo. – Avisou Lasone.
MacLarens estava
cansado que lhe dissessem que era perigoso saber as informações sobre a sua
própria vida, mas não ripostou. Um dia ele descobriria o porquê de esconderem
tanta coisa dele.
Pouco tempo, depois
chegaram a uma casa muito acolhedora. Era quase o contrário da sede em Reims.
Esta parecia uma vivenda como as outras todas. Entraram e as esperanças de
Joshua confirmaram-se: tinha dois quartos, uma cozinha e uma sala com uma
televisão e um sofá bege.
- É aqui que vou
ficar? – Perguntou Joshua.
- Sim, pelo menos nos
próximos meses. Achámos que uma casa num bairro daria menos nas vistas. Mas o
senhor nunca poderá sair daqui em horário nobre. E ninguém poderá vir
visitá-lo. – Explicou Fréderique.
MacLarens não queria
acreditar que agora que arranjara uma rapariga de quem realmente gostava iria
ficar fechado ali, como se estivesse na prisão.
- Jean! Leva o senhor
MacLarens ao seu quarto. – Ordenou Lasone.
Joshua seguiu o guarda
até ao seu quarto, uma divisão alegre. As paredes eram amarelas e a mobília era
uma cama e uma estante clara, cheia de livros. Joshua apreciava bastante ler e,
por isso aquela foi a parte que ele mais gostou da casa.
Depois de observar
todos os cantos do quarto, voltou para a sala. Estava lá Fréderique que lhe
disse:
- Gosta da casa?
Reparei que esteve a ver os livros. Soubemos que gosta de ler e quisemos que se
sentisse em casa.
MacLarens acenou e regressou
para o quarto. Sozinho sentia-se mais seguro.
Tinham passado duas
semanas. Joshua estava sentado na cama a pensar se algum dia iria sair daquela
casa. O mais longe a que tinha chegado desde que tinha ido para
aquela casa era o terraço. Aquele período de tempo desde que descobrira que
Marc morrera tinha sido o pior da sua vida. E por isso, tentava encontrar algo
que o distraísse.
- Senhor, tenho uma
coisa para lhe dar. – Chamou Lasone da sala.
MacLarens foi até ele
e viu que estava com uma caixa nas mãos.
-Isto é para si. –
Disse, entregando-lhe a caixa.
Joshua abriu o
presente e descobriu que era um telemóvel. No dia em que fora para Reims,
deixara lá o seu. Investigou o telemóvel e descobriu que tinha apenas dois
contactos: o de Fréderique e um desconhecido.
- De quem é o segundo
contacto?
- Ligue. Ficará feliz
por descobrir. – Disse Fréderique, saindo da casa.
De quem poderia ser?
MacLarens não conseguia ficar sem saber. Era demasiado curioso para isso. E por
isso, telefonou ao número.
- Boa tarde. Quem
fala? – Perguntou, quando lhe atenderam.
- Onde estás? – Disse
o remetente.
Joshua reconheceu logo
a voz. Era Mellie. Tinha tantas saudades dela. Será que lhe tinham dito que ele
tinha de ficar num local seguro ou tê-la-iam apenas deixado esperar?
- Mellie! Tinha tantas
saudades! Eu não te posso dizer onde estou, porque eu também não sei. Faz parte
do protocolo de segurança - Respondeu o homem.
- Está tudo bem
contigo? Também tenho muitas saudades.
- Quando sair daqui, irei
logo ver-te.
MacLarens deixou
escorrer uma lágrima.
Depois de falarem durante um longo
período de tempo, Joshua foi para o quarto onde passava a maioria do tempo
e começou a pensar no que aconteceria se fugisse dali. E foi isso que fez até
adormecer num longo sono. Nessa noite, teve um sonho em que via Marc a sair de
uma casa e ir com uma pessoa com uma máscara preta. Não conseguiu reconhecer se
era um homem ou uma mulher. Estava escuro no sonho. Marc estava assustado e com
uma arma apontada a ele. Nada mais conseguiu ver, pois acordou com uma ideia.
Levantou-se e mal se vestiu, abriu
a janela e fugiu. Foi difícil, pois teve de passar pelo guarda e correr a toda
a velocidade. Quando já tinha a certeza de que ninguém o seguia, foi a uma
loja e procurou um mapa. Tinha trazido algum dinheiro e, por isso conseguiu
comprá-lo.
Estava em Bordéus. Para ir para
Paris ainda era uma viagem longa e por isso apanhou um comboio.
Durante a viagem, um rapaz com
cerca de treze anos, sentou-se ao lado dele e começaram a falar.
- Para onde vai? – Perguntou o
rapaz.
- Vou para Paris.
- Eu também. Os meus pais
desapareceram sem deixar rasto uma semana depois de nos mudarmos para Lyon.
Ando às voltas por França desde aí.
- A sério? Não tens amigos ou
familiares que te possam ajudar. – Perguntou MacLarens, preocupado.
- Não. E o senhor, o que vai fazer
a Paris?
- Eu também tenho uma história
difícil. O meu irmão e o meu pai foram assassinados. O meu irmão foi morto o mês passado e o meu pai
há dois anos. Acham que é a mesma pessoa que me quer matar a mim. E por isso
levaram-me para um sítio secreto. Mas a pessoa descobriu-me e então mudaram-me
para uma casa. Mas estava farto de não poder ver a minha namorada e então fugi.
– Explicou Joshua.
- Ambos temos motivos difíceis de
explicar para estarmos neste autocarro… – disse o rapaz. Sou o Mitchell, mas
tratam-me por Mitch. E o senhor, como se chama?
- Sou o Joshua MacLarens. O teu
nome não é francês. De onde és? – Inquiriu MacLarens.
- Sou de Inglaterra. Londres, mas
o meu pai arranjou um emprego cá e tivemos de nos mudar. Não tenho amigos
nem família nesta terra. Vou para Paris, pois é no único sítio que conheço em
França. – Respondeu Mitch.
Um tempo depois, a criança
adormeceu encostada a MacLarens. Este não conseguiria deixá-la sozinho no meio
de Paris. Tinha de fazer alguma coisa. Mas o quê? Tinha deixado o telemóvel na
casa, para não ser localizado e agora nunca conseguiria ligar a Mellie. E por
isso, quando o comboio chegou a Paris acordou Mitch e pediu-lhe para o
acompanhar.
A criança aceitou, porém um pouco
desconfiada. Joshua pegou num mapa e tentou descobrir para onde ir. Na
realidade, ele nunca tinha ido a casa de Mellie e não podia ir para o
laboratório. E foi aí que se lembrou. Ele tinha tido uma visão com a casa da
irmã dela. Era o número dezoito, da Rua Cloître
Notre Dame.
- Vamos. – Disse a Mitch.
Depois de andarem alguns minutos,
chegaram ao destino. Joshua não sabia o que iria dizer à irmã de Mellie. Ele
nunca a vira e não queria que ela pensasse que ele lhe estava a enganar. Depois
de pensar um pouco, tocou à campainha e quando a irmã de Mellie abriu a porta
disse:
- Desculpe, a Mellie disse para
nos encontrarmos aqui. Ela já chegou? – Perguntou MacLarens á mulher.
- Não, ela não vive cá e a estas
horas deve estar no laboratório.
Dito isto, deixou escorrer uma
lágrima.
- O que se passa? – Perguntou
Joshua.
- O senhor lembra-me uma pessoa
que me era muito querida. – Respondeu a irmã de Mellie.
- O Marc, certo? Sempre disseram
que eu e o meu irmão éramos muito parecidos. – Respondeu Joshua.
Durante aquela conversa, Mitch não
sabia o que dizer. Estava à porta da casa duma estranha com um desconhecido.
Mas mesmo assim sentia-se reconfortado e seguro. Durante todo aquele tempo quem
mais o tinha ajudado tinha sido um simples estranho.
- O senhor é o Joshua? O Marc
falava muito de si, mas nunca disse que tinha um filho.
- Ele não é meu filho, é um
amigo. O meu irmão falava de mim? Fréderique disse que ele nunca falava de mim.
– Disse MacLarens.
- Fréderique não era noiva dele.
Eu era. Ele contou-me muitos segredos. Entre, eu vou telefonar à Mellie a
dizer-lhe que tem uma visita cá em casa.
Sem comentários:
Enviar um comentário