DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quarta-feira, 10 de julho de 2013



                                                                                            Capítulo XI

Passada meia hora, Mellie bateu à porta e Joshua foi abrir.
 “ Quem seria aquela pessoa que Margaret dizia ser tão importante?” – Pensava a rapariga. Até que lhe abriram a porta.
- Joshua, o que estás a fazer aqui? – Disse, depois de o beijar. – Lasone disse que tinhas de ficar escondido.
- Fréderique não sabe que estou aqui. Eu não aguentava mais tempo fechado e por isso fugi. – Explicou MacLarens.
- Não podes fugir. É muito perigoso. O Marc fez o mesmo e vê como acabou. Tens de voltar para o teu esconderijo. – Disse, sussurrando.
Quando olhou em redor, viu Mitch e perguntou baixinho:
- Quem é aquele rapaz?
- Chama-se Mitch. Ele perdeu os pais e não tinha para onde ir. Não aguentei vê-lo sozinho. Seria demasiado doloroso para a minha consciência. – Respondeu, sussurrando também. – Mitch, anda cá.
O rapaz aproximou-se e Mellie perguntou-lhe:
- Que idade tens?
- Tenho doze, quase treze.
- Conheço alguém aqui perto que poderá gostar de falar contigo. Volto já. - Disse Mellie.
Percorreu um quarteirão e tocou à campainha.
- Mellie, o que faz aqui? –Perguntou a mulher que abriu a porta.
- Dionise, vim perguntar se o Guillermo quer vir a minha casa. Tenho uma visita que ele poderá gostar. 
- Guillermo, a Mellie convidou-te para ires a casa dela brincares com um rapaz. – Disse a mulher.
Quando disse isto, um rapaz desceu a correr as escadas. Guillermo não tinha muitos amigos na zona e, por isso quando não havia escola, não tinha ninguém com quem brincar. E, por essa razão adorava quando a sua mãe lhe dizia que tinha companhia, ele ficava felicíssimo.
  - Anda, o Mitch está à nossa espera. –Disse Mellie.
 Quando voltaram, os dois rapazes, ambos tímidos não falaram muito. Mas no  momento em que Joshua lhes mostrou uma bola, começaram a divertir-se juntos, mais do que Mitch nos últimos dias se divertira.
- Agora que os rapazes já estão entretidos, contas-me o teu plano? Achas que o Fréderique não irá descobrir que fugiste para aqui? – Perguntou Mellie, zangada.
- Não sei. Terei de pensar rapidamente. Eu não volto para aquela casa sozinho e, disso, Lasone pode ter a certeza.
- Mas aqui estás em perigo. Não te quero mal, por isso peço-te, que por muito  que seja doloroso, que voltes para o abrigo.
 Naquele momento, ouviu-se um estrondo. Fora Jean que arrombara a porta. Este vinha seguido de Fréderique, que disse a Joshua:
 - Estar aqui é cometer suicídio. Nós estamos a observá-lo desde que fugiu. Sabemos que conheceu  um rapazinho chamado Mitchell no comboio, que foi a uma loja comprar um mapa. E se nós conseguimos descobrir, o assassino do seu irmão também o pode fazer,
- Não volto para o abrigo. Pelo menos sozinho, sem a companhia da Mellie e do Mitch.
- Se for com ele, põe-nos numa situação perigosa. E nesse caso, em vez de podermos ter uma pessoa morta, ficamos em risco de ter três. E eu sei que não é isso que o senhor deseja. – Disse Lasone. 
Fréderique tinha razão, mas MacLarens não desistia facilmente. O que poderia ele fazer para arranjar uma solução em que ninguém ficasse em perigo? Foi aí que se lembrou.
       - O senhor e o resto da AFCC estão a vigiar-me durante o dia e a noite, certo? – Perguntou retoricamente. – Por isso, se alguém viesse para aqui para me ver a todas as horas, eu poderia ficar.
- Isso é uma decisão difícil. Como arranjaremos três agentes que o vigiassem em turnos? Nunca ninguém aceitaria mudar-se para aqui. Todos os que trabalham em Reims têm uma razão para se terem afastado do centro da cidade e da população. – Explicou Lasone.
- Tente, pelo menos. Haverá três agentes sem traumas da cidade. Por exemplo, o Jean vem a Paris muitas vezes, não se deve importar.
- Jean só vem, por ser um bom profissional. O senhor tem dois dias para arranjar três agentes da AFCC. Eu também tentarei, mas não prometo nada. – Disse o homem. – Mas se não conseguir, vai para  outro abrigo e ainda menos agradável que em Reims.
Dito isto, saiu da casa, juntamente com o guarda.
           
              Capítulo XII

          
- O que fazemos agora? – Perguntou Mellie.
- Agora… - MacLarens parou para pensar uns segundos e continuou – vai chamar os rapazes. Vamos distribuir tarefas. Eu não posso sair de casa, mas vocês podem.
Quando Mellie regressou com as crianças, Joshua dividiu as tarefas. Juntou Mitch com Margaret e Mellie com Guillermo. Os primeiros ficaram encarregados de telefonar a todos os polícias da AFCC de Reims e os segundos de ir ao laboratório procurar alguém que os ajudasse.
Passados cinquenta minutos, Mitch gritou que tinha arranjado um candidato. Mas que ele primeiro teria de ir lá visitar a casa e ver Joshua. Mesmo sendo perigoso, MacLarens marcou uma reunião para aquela tarde, uma hora depois.
Quando o polícia chegou, MacLarens convidou-o a entrar.
- Sou o Sebastien, o polícia que contataram. Qual de vocês é Joshua MacLarens? – Perguntou.
- Sou eu. Decerto conhece Fréderique Lasone, chefe da AFCC. Ele diz que eu corro perigo por razões que nem eu compreendo bem e por isso preciso de pelo menos três polícias que me vigiem em turnos, todos os dias. É difícil arranjar alguém que aceite estas condições e, para dificultar ainda mais, só temos dois dias para encontrar os três. – Explicou MacLarens.
- Vejo que estão numa situação complicada. Eu tenho mulher e uma filha. Seria possível o meu turno ser à noite, para passar o dia com elas? – Perguntou o polícia.
- Sim, claro. Isso é a sua maneira de dizer que aceita?
- Obviamente que não é uma decisão fácil. Mas é melhor que trabalhar na AFCC de Borgonha, longe da família. – Disse Sebastien.
- Pode começar a trabalhar já amanhã cedo. Depois preparamos melhor os pormenores.
- Concordo. Quando arranjar os três agentes, comunicarei com eles.

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