FOZ COA
Zé Arcanjo deu uma volta pela terra. Não era grande,
mas tinha pontos de interesse. Iam passando automóveis, mas não se via muita
gente a caminhar. A população era reduzida. Na véspera, fizera uma consulta
rápida na Internet. A informação sobre o concelho era relativamente limitada. O
vale do Coa e as gravuras rupestres chamavam mais as atenções do que a antiga
Vila Nova. Ainda assim, pôde ler que, décadas atrás, algumas das suas dezassete
freguesias tinham mais gente do que possuía agora a cidade. As pessoas fugiam
do interior. Ou emigravam para França, ou se mudavam para mais perto, indo
estabelecer-se na faixa costeira do País, onde era mais fácil conseguir emprego
e governar a vida.
A Rua de São Miguel, pavimentada em calçada
portuguesa, fora vedada ao trânsito. Era ladeada por casas de dois pisos, de
idades e estilos de construção desiguais. Muitas apresentavam varandas
salientes. As mais antigas tinham as esquadrias de portas e janelas em blocos de
granito que o tempo acastanhara e conservavam nas varandas as proteções de
ferro forjado. Algumas lojas conservavam os nomes antigos mas estavam
encerradas. Eram efeitos da crise.
Zé Velasco caminhou durante alguns minutos e foi ter
à Praça da República. Seguiu em frente até ao Largo do Município onde se tinham
concentrado os antigos poderes do concelho: a administração, a cargo da Câmara
Municipal, a direção espiritual, abrigada na igreja matriz e a Justiça,
simbolizada pelo pelourinho.
A Câmara Municipal era um belo palacete do século
XIX.
O pelourinho, em estilo manuelino, datava do século XVI. Era constituído uma coluna quadrangular encimada por um capitel complexo, decorado por quatro pináculos com escudetes, a rodear uma flor-de-lis.
O pelourinho, em estilo manuelino, datava do século XVI. Era constituído uma coluna quadrangular encimada por um capitel complexo, decorado por quatro pináculos com escudetes, a rodear uma flor-de-lis.
Como outras, a igreja fora sendo alterada ao longo dos
anos.
De manuelino, conservava o belo pórtico, encimado pela imagem de Nossa Senhora do Pranto, ladeada por dois escudos reais e por um par de esferas armilares.
A rosácea era pequena, deixando adivinhar a penumbra no interior. O coroamento era de influência castelhana, com três ventanas abertas para os sinos, a fazer lembrar a proximidade da fronteira. A abraçar a bela fachada de granito, o reboco pintado de branco revestia as paredes do resto do templo.
De manuelino, conservava o belo pórtico, encimado pela imagem de Nossa Senhora do Pranto, ladeada por dois escudos reais e por um par de esferas armilares.
A rosácea era pequena, deixando adivinhar a penumbra no interior. O coroamento era de influência castelhana, com três ventanas abertas para os sinos, a fazer lembrar a proximidade da fronteira. A abraçar a bela fachada de granito, o reboco pintado de branco revestia as paredes do resto do templo.
Velasco entrou na igreja. As robustas colunas cilíndricas
de granito tinham sido abaladas pelo terramoto de 1755. Resistiram, mas
deixaram-se inclinar, sobretudo à direita e ao fundo. Pareciam fatigadas, como
velhos funcionários públicos à espera da reforma. Aquela obliquidade insólita
não chegava a meter medo, mas não tranquilizava os visitantes. Indiferentes às
zangas do planeta, erguiam-se os altares barrocos, em talha dourada. O teto, de
madeira pintada em tons que o tempo fizera escuros, retirava luz ao espaço de
culto.
Texto adaptado do romance FÁTIMA, de António Trabulo, que aguarda publicação.
Texto adaptado do romance FÁTIMA, de António Trabulo, que aguarda publicação.
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