CAPÍTULO XIV
No dia seguinte, quando passava pouco das nove, o som da
campainha acordou toda a casa. No momento em que Mellie foi ver quem era,
encontrou Nicole e Sebastien.
− Vejo que já se conheceram. Entrem.
Além dos agentes, encontrava-se lá também um homem fardado.
− Este é Francis. É agente em Bordéus e eu sabia que ele
queria vir para a cidade. Como ontem me disse para trazer alguém, decidi
chamá-lo. Confio nele mais do que em ninguém. – Disse Nicole, apresentando-o
sem grandes demoras.
− Muito bem. Vou chamar o Joshua, para conhecerem a história
dele e decidirem horários.
Quando Joshua desceu, cumprimentaram-se. O rapaz contou a sua
história e os motivos para precisar deles. Começou por falar da sua discussão
com Marc seis anos antes dele falecer. Depois descreveu o seu rapto, as ameaças
e as visões, seguido de como fugira do abrigo até chegar ali.
Os agentes não sabiam o que dizer. Nunca
tinham sabido daquela história e tinham ficado espantados como tanto acontecera
a MacLarens em apenas três meses. Permaneceram os três calados até Nicole
dizer:
− A primeira coisa a fazermos é uma lista de quem tem acesso
a todos os seus movimentos. Eu lamento dizer-lhe isto, mas tem de ser alguém
perto de si. É a única maneira do assassino saber tudo isto.
− Mas tem de ser alguém que também conhecesse Marc muito bem.
– Interferiu Francis.
− Ou então o assassino tem um espião. São as únicas
hipóteses. – Concluiu Sebastien.
− Todas as pessoas que me conhecem daqui, também conheceram
Marc. Nessa lista, vão integrar-se todos, com poucas exceções. – Disse Joshua,
interrompendo os pensamentos dos três agentes.
− Tem razão. Mas temos de começar por algum lado. Todos os
dessa enorme lista são suspeitos. Por isso, teremos de reduzi-la pelos álibis
de todos os indivíduos. Assim, poderemos descartar os que estavam fora ou com
testemunhas. – Declarou a agente.
− Isso é muito inteligente. Por onde começamos?
− Tem de ser alguém que tenha acesso a uma AFCC. O primeiro
bilhete foi impresso numa impressora da empresa. Isso diminuirá a lista. –
Disse MacLarens.
− Tem razão. Mesmo assim, ainda temos todos os agentes,
cientistas e guardas que conhecem a sua história e a de Marc. E não são assim
tão poucos. – Proferiu Sebastien.
− Por isso, é melhor começarmos já a reduzir a lista. Nicole,
fique aqui, enquanto eu e Sebastien vamos à agência. Não é seguro o senhor
MacLarens ficar sozinho. – Propôs Francis.
E dito isto, os dois agentes saíram pela porta principal.
− Preciso de ir trabalhar. Até logo. Vou com a Margaret e ela
vai levar os rapazes a casa da Dionise. Ficas bem? – Perguntou Mellie, apesar
de saber a resposta.
− Sim, claro. Até logo. – Despediu-se.
− Então, como é que conheceu a doutora? – Inquiriu Nicole,
fazendo conversa.
− Na AFCC. Fui lá levar um bilhete para ela examinar. Depois
começámos a conversar e vimos que tínhamos muito em comum. – Mentiu MacLarens.
Tinha receio que a agente não soubesse da sala secreta da catedral e não queria
ter de inventar uma história para se redimir por isso aquela era a opção mais
fácil. Conheceu Marc?
− Sim. Eu fui agente dele durante o tempo em que ele esteve
em Reims. Não nos conhecíamos muito bem, mas ele contava-me algumas coisas.
Contou-me umas histórias de quando era pequeno, mas nunca falou em ter um
irmão. – Respondeu Nicole.
− É normal. Pelo que parece, ele só contou sobre mim a
Margaret. Agora fiquei curioso. Que histórias é que ele lhe contou sobre a sua
infância?
− Assim, rapidamente, lembro-me de uma sobre um cachorro
chamado Max que Marc tinha treinado, mas nunca fazia nada do que lhe mandavam.
O seu irmão gostava muito dele e costumava contar várias histórias sobre o cão.
Até que eu lhe disse para escrever um livro de contos sobre as aventuras dele e
do seu cachorro. E foi essa a sua atividade diária em Reims. Depois, eu saí
daquela sede e vim para o laboratório, nos arredores de Paris. Nunca soube se
ele acabou o livro ou se o trouxe sequer para a cidade. – Explicou a mulher.
− Eu lembro-me do Max. Ele e Marc eram os melhores amigos.
Gostava muito de ler esses contos. Tanto eu como o meu irmão, implorávamos a
nossos pais para ter um cachorro desde que me lembro. Até que nos anos de Marc,
ele recebeu-o. Claro que os meus pais diziam que era dos dois, mas ele desde
logo adotou o pequeno cão. – Contou MacLarens, deixando escorrer uma lágrima.
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