ANTÓNIO
MOREIRÃO
Conheci o António Moreirão
em Coimbra, no rescaldo da crise académica de 1962, em que ele teve uma
participação assinalável. Como éramos ambos de Almendra, íamos conversando
durante as férias de verão e tornámo-nos amigos.
O Moreirão pertencia a uma família em clara ascensão na terra. Apesar de ser dotado
de uma inteligência bem acima da média, perdeu-se noutras andanças e nunca
completou o curso de Direito.
Com alguma marca de ADN
missionário nas veias, o António Moreirão empregou-se nas bibliotecas
itinerantes da fundação Calouste Gulbenkian e calcorreou as estradas do Alto
Douro e da Beira Alta a distribuir cultura. Nas paragens, sentava-se no chão da
carrinha, frente a pequenos grupos de jovens ávidos de saber e improvisava
pequenas palestras com tempero antissalazarista. Acabou por se fixar em
Trancoso.
Lembro-me do tempo em que,
à falta de melhores opositores, elegeu como inimigo de eleição o pároco da
nossa aldeia e se divertiu a complicar-lhe a vida.
Já não testemunhei a sua
amizade, em Almendra, com o padre Maximino (Max). Contou-me que chegou a ser
seu treinador de futebol e lhe gritava das bancadas:
− Max! Mostra que és
homem!
O padre Maximino Barbosa
de Sousa aceitou candidatar-se a deputado pela UDP (União Democrática Popular)
em 1976. Foi cobardemente assassinado à bomba, juntamente com a jovem Maria de
Lurdes Correia, que seria sua aluna ou, como outros pretendem, sua namorada. O
Ministério Público não foi capaz de apresentar provas que permitissem condenar
os criminosos e os processos foram arquivados. O famoso cónego Melo, de Braga,
cuja estátua polémica aguarda inauguração, consta da lista dos possíveis
autores morais do crime. Alguns dos executantes estariam ligados a Trancoso.
Foi bom voltar a ver o
Moreirão, após tantos anos de distanciamento. Envelhecemos ambos, mas o António
mantém nos olhos espertos o brilho maroto da juventude. Não deixou que o tempo
lhe tocasse na memória. É um depositário espantoso das histórias do passado da nossa Almendra natal e dos enredos da Trancoso contrabandista.
Tenho alguma ligação
familiar a Trancoso. O meu pai foi ali chefe dos Correios meia dúzia de anos
antes de eu nascer, enquanto ia fazendo o curso de Direito, como aluno
voluntário, em Coimbra.
O António Moreirão ainda não
sabe que dei o seu nome ao personagem principal do mais longo dos contos que
escrevi até hoje: «O Geronte dos Mares».
Sou do orgal Na altura (1968-69-70. estudante da escola agricola-hoje Medico Veterinaro Fui a alguns bailes a almendra nas noites de passagem de ano Gostava de voltar a ver ou falar com o Antonio moreirao
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