TURISMO
RELIGIOSO
Participei, há anos, na organização de um congresso
internacional em Lisboa. O homem forte da logística parecia conhecer bem o seu
ofício. Não lhe fixei o nome, mas recordo um dos conselhos que nos deu:
− Evitem os meses de Maio e Outubro!
Os nossos hotéis enchem-se por causa de Fátima. Vem gente de todo o mundo. Há
peregrinos de África e de vários países da Europa e da América do Sul. Chegam a
vir famílias das Filipinas e do Japão.
Compreendi então a importância que o turismo religioso tem
para a economia do nosso País e passei a admirar mais os nossos vizinhos
galegos com quem, nesse tempo, partilhávamos a língua e o território. Inventaram essa indústria há mais de um milénio.
Já na Idade Média, Compostela se tornara num dos locais de peregrinação mais importantes para os cristãos, a par com Roma e Jerusalém. A catedral de Santiago constitui, há muito, um dos pilares do cristianismo.
Já na Idade Média, Compostela se tornara num dos locais de peregrinação mais importantes para os cristãos, a par com Roma e Jerusalém. A catedral de Santiago constitui, há muito, um dos pilares do cristianismo.
Jacob deu Iacobus em latim, Jacques em francês e James em
inglês. Entre nós, a palavra aglutinou o “T” do Santo e ficou Tiago. Mais
tarde, James veio da Inglaterra por mar e resultou em Jaime.
Há quem acredite que Santiago Maior (“Maior” é para o
distinguir de outro discípulo de Jesus com o mesmo nome) pregou a doutrina
cristã na província romana de Hispânia. O sucesso da evangelização terá sido
limitado e Jacob regressou à Judeia, ode foi martirizado. O seu corpo foi encerrado
numa arca de pedra que terá sido lançada ao mar no porto de Jaffa, perto de
Jerusalém. O sopro dos anjos fez-se vento (seguramente Levante de início e
brisa de sudoeste depois) e a arca atravessou o Mediterrâneo e passou ao largo
da costa portuguesa para desembarcar em Padrón, na Galiza. Em 814, um eremita
chamado Pelaio obedeceu a um sonho. Procurou e descobriu um túmulo contendo
relíquias. Não sabemos que relíquias eram, mas foram logo associadas à lenda do
santo que viera a Espanha dar testemunho de Cristo. Sobre essa tumba foi
erguida a catedral de Compostela.
Existe outra lenda menos ecuménica. Durante a batalha de
Clavijo, Santiago apareceu no céu, a cavalo e de espada na mão, assegurando a
vitória do rei cristão Ramiro contra um exército muçulmano. O santo passou a
ser conhecido por Mata-mouros.
O culto generalizou-se a boa parte da Europa. Os caminhos de
Santiago desdobraram-se por Espanha, França e Portugal e garantiram até lugar
no firmamento. Tratava-se de um conjunto importante de rotas de peregrinação,
convenientemente dotadas de albergues dedicados ao santo. O caminho francês
começa em Roncesvalles (desfiladeiro celebrizado pela Canção de Rolando) ou em
Saint Jean Pied de Port. Aí vinham ter peregrinos provenientes de França, dos
Países Baixos, dos estados alemães e da Áustria. Havia quem percorresse mil
quilómetros a pé para rezar junto ao túmulo do santo.
Santiago ajudou a encher os cofres dos hospedeiros galegos e
não só. Pouco importava a quem recebia que Jacob tivesse posto ou não alguma
vez os seus santos pés em terra galega.
Nota: O texto agora apresentado integra o livro que comecei a preparar e que se irá chamar "Fátima"
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