BANDOLEIROS EM
PORTUGAL
NA PRIMEIRA METADE
DO SÉCULO XIX
João Brandão
DO SÉCULO XIX
João Brandão
O fenómeno das guerrilhas nasceu em Portugal, no começo
do século XIX, como reação patriótica contra as invasões francesas.
Mais tarde, a instabilidade política e social em que o país mergulhou, com as lutas prolongadas entre liberais e absolutistas, com
revoltas e golpes de estado sucessivos, enfraqueceu a autoridade pública e
permitiu que proliferasse o banditismo. Com as quadrilhas engrossadas por
desertores, as populações viviam alarmadas.
Durante esse período conturbado em que a lei não
chegava a toda a parte, aconteceu algumas vezes que as forças políticas e
militares que se defrontavam aceitassem a aliança de grupos de bandoleiros. Por
outro lado, certos chefes de guerrilha resvalaram para atividades criminosas.
Tempos de exceção são fábricas de lendas. Irei falar de
alguns personagens que se notabilizaram na época, nem sempre pelas melhores
razões.
Remexido
José Joaquim de Sousa Reis, o Remexido, miguelista, era
de Lagoa e atuava no Algarve.
José do Telhado terá posto a sua quadrilha ao lado dos
setembristas, durante a guerra civil de 1846-1847.
João Brandão, de Midões, espalhou o terror nas Beiras,
ao serviço dos Cabrais. Com a Regeneração, passou a “influente” político local,
aliando-se umas vezes ao governo e outras à oposição.
Os Marçais de Foz Coa, cartistas, desestabilizaram a região
durante dezenas de anos.
Curiosamente, tanto o Zé do Telhado como o João Brandão
e o António Marçal receberam altas condecorações militares. O Remexido, tanto
quanto sei, não foi condecorado, mas foi nomeado, por D. Miguel, governador do Algarve.
A questão das guerrilhas e do banditismo tem sido
teorizada.
Hobsbawm, citado
por Célia Taborda da Silva, define aquele a quem chama “bandido social”: «é um
camponês fora da lei que o senhor e o Estado consideram como um criminoso, mas
que permanece no seio da sociedade camponesa, a qual vê nele um herói, um
campeão, um vingador, um justiceiro, talvez mesmo um libertador e, em qualquer
caso, um homem que convém admirar, ajudar e manter». O bandido seria “a ponta
da lança” do protesto das massas rurais contra as estruturas sociais
opressoras.
É impossível não lembrar, nesta altura, os textos de
Mao Tse Tung e de Che Guevara.
Hobsbawm vai mais longe e divide os bandidos em três
tipos:
«Bandido Generoso», que só mata em legítima defesa e
rouba os ricos para dar aos pobres.
«Vingador», bandido cruel, temido e ao
mesmo tempo admirado pela população.
«Haiducs», específicos dos Balcãs, bandidos
que atacam os opressores da comunidade.
Nesta classificação, em Portugal, o único
dos bandoleiros famosos a que se pode chamar “generoso” é o Zé do Telhado.
Fonte:
Taborda
Silva, Célia. Guerrilheiros e bandidos no Douro na primeira metade do século
XIX. Douro – Estudos & Documentos, vol. I (3), 1997 (2º), 111-122.
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