JOÃO BRANDÃO
Outro quadrilheiro lendário da época do Zé do Telhado foi João
Vítor da Silva Brandão. Nasceu em Midões (Tábua), em 1825, e morreu em Angola,
em 1880. Acusado de numerosos assaltos na região natal, ficou conhecido como “O
terror das Beiras”.
Parece ter sido mais politizado que Zé do Telhado. Detinha
também outra cultura. Em 1870, quando estava preso na cadeia do Limoeiro,
aguardando embarque para Angola, compôs os “Apontamentos da vida de João
Brandão, por ele escritos nas prisões do Limoeiro, envolvendo a História da Beira
desde 1834”.
Casa onde nasceu João Brandão
Casa onde nasceu João Brandão
Em épocas conturbadas, nem sempre é fácil traçar a
fronteira que separa os criminosos comuns de alguns guerrilheiros. À paz
instituída entre liberais e miguelistas pela Convenção de Évora Monte, em 1934,
seguiu-se um período de sobressalto. Dezenas de milhares de soldados deixaram
as fileiras e não encontraram emprego. Os miguelistas, que antes haviam abusado
do poder que detinham, eram agora os perseguidos. Houve confiscos, demissões
massivas de funcionários e múltiplas retaliações. Terão ocorrido milhares de
assassinatos políticos.
Lisboa era longe e servida por más estradas. A ordem tradicional, assente na força dos concelhos e no regime do morgadio, soçobrara e não fora ainda substituído pelo poder central, que chegava às Beiras diluído. A influência do clero fora reduzida.
Lisboa era longe e servida por más estradas. A ordem tradicional, assente na força dos concelhos e no regime do morgadio, soçobrara e não fora ainda substituído pelo poder central, que chegava às Beiras diluído. A influência do clero fora reduzida.
O “Bando dos Brandões”, que incluía o João, os seus
irmãos António e Roque, o pai e vários companheiros não aparentados, terá
começado como um grupo de “voluntários da Rainha” que partiu de Midões para
combater ao lado dos cartistas na guerra civil de 1846. Serviu primeiro os
Cabrais. Após a Regeneração, ora apoiava o governo, ora a oposição.
O bando terá
perseguido os últimos realistas, certos ou suspeitos, que persistiam nas vilas
beirãs. Com espadas, punhais e com as armas de fogo da época, impôs na região o
medo e o fogo, substituindo os “caceteiros” miguelistas.
A época era de
alianças instáveis e de associações improváveis. No rescaldo da Patuleia, João
Brandão chegou mesmo a lutar ao lado do miguelista general Póvoas. A coerência política
não seria determinante, nesses tempos agitados.
Hoje, a personalidade do chefe do bando continua mal
conhecida. Como tantos, foi um fruto da sua época. Herói ou criminoso,
provavelmente as duas coisas, valente sem dúvida, participou nas fraudes
eleitorais comuns nesse período, colaborando nas “chapeladas” e condicionando o
poder local.
Durante anos, os Brandões serviram diversos governos do
país, o Tribunal da Relação do Porto e as autoridades de Coimbra e de Viseu.
O triunfo da Regeneração, com o estabelecimento do
rotativismo político e a pacificação de Portugal, tornou obsoletas as
quadrilhas que haviam servido, com maior ou menor disciplina, os agentes do
poder central. Chegara ao fim o tempo dos bandoleiros. Muitos foram abatidos
pelas tropas regulares. Outros tiveram de prestar contas à Justiça.
João Brandão foi preso na vila de Tábua, em junho de
1869. Foi acusado somente de um dos muitos crimes que lhe eram atribuídos: o
assassinato de um padre. Bastou para que fosse condenado e desterrado para
Angola, no ano seguinte.
Morreu no Bié, em 1880.
A condenação de João Brandão foi celebrada nas ruas de
várias povoações beirãs. Organizaram-se festas populares para celebrar o fim de
uma era de medo e violência.
A sua lenda continua a fazer parte da tradição cultural
portuguesa. Quem não conhece esta cantiga?
«Lá vai o João Brandão,
A tocar o violão,
Casaco à moda na mão
E atão? E atão? E atão?»
«Lá vai o João Brandão,
A tocar o violão,
Casaco à moda na mão
E atão? E atão? E atão?»
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