A HISTÓRIA PERTO DE NÓS
LEMBRANDO AMÍLCAR E LUÍS CABRAL
NOTAS RETIRADAS DA CONVERSA COM JUVELINA ROCHA,
IRMÃ DE LUÍS E MEIA-IRMÃ DE AMÍLCAR,
E COM O SEU MARIDO ANTÓNIO ROCHA
III
Quando
Nino Vieira apeou Luís Cabral da Presidência da República, Juvelina
encontrava-se em S. Paulo, no Brasil, integrada na Delegação da Guiné-Bissau ao
1º Simposium Afro-Brasileiro de Comércio Externo. Logo que a notícia da
deposição e prisão do seu irmão Luís chegou, a postura de um dos elementos da
delegação modificou-se radicalmente, passando das mesuras da véspera à falta de
respeito.
Juvelina
achou prudente não regressar a Bissau. Viajou para Lisboa, onde tinha casa, e
ficou a aguardar o desenvolvimento da situação.
O marido e o filho mais velho permaneceram na Guiné, enquanto o mais
novo estudava em Portugal.
O marido, Abel Ventura, regressou três anos mais tarde. Gerira mal o património, deixando a família em situação económica periclitante.
O marido, Abel Ventura, regressou três anos mais tarde. Gerira mal o património, deixando a família em situação económica periclitante.
Quando
foi posto em liberdade, Luís Cabral acolheu-se em Cuba, onde viveu de 1981 a
1983. Tentou regressar a Cabo Verde, mas as várias cartas que escreveu a
Aristides Pereira a manifestar essa intenção ficaram sem resposta. O governo
português, com o apoio do Presidente Ramalho Eanes, ofereceu-lhe asilo político
em Lisboa.
Juvelina
ainda pensou em regressar a Cabo Verde, onde nascera e vivera os primeiros
quinze anos da sua vida. Aristides Pereira, o presidente da República, não a
quis de volta. Argumentou que ela não tinha família em Cabo Verde. Aristides
era um homem cauteloso. Recearia a sombra do prestígio aliado ao nome “Cabral”.
Luís
Cabral chegou a Portugal no início de 1984. A princípio, instalou-se com a
mulher e os filhos em casa da irmã.
No
ano seguinte, pressionada pelas dificuldades financeiras, Juvelina Cabral
voltou à Guiné. Pretendia reaver os seus bens e renegociar o aluguer do prédio
da família onde se instalara a Embaixada da China, pagando uma renda que seria vinte
vezes inferior ao valor de mercado. Foi
ali que conheceu o que viria a ser o seu segundo marido.
António
Rocha é licenciado em Economia pela Universidade do Porto. Ainda adolescente,
atreveu-se a emigrar sozinho para Moçambique, onde trabalhou. Voltou três anos
depois e retomou os estudos. Ingressou na SACOR (depois PETROGAL) a meio do
curso. Em 1985, foi contratado como assessor da Direção Geral da DICOL, empresa
monopolista de combustíveis da Guiné-Bissau, então dirigida pelo futuro
primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior.
Waldemar
Oliveira, ligado às empresas de petróleo em Portugal e na Guiné e casado com
Armanda Cabral, constituiu o elo entre António e Juvelina. António passou a
estar presente em todos os eventos da família Cabral. Ele e Juvelina acabaram por se
apaixonar. Trataram dos divórcios e, em junho de 1990, formalizaram o casamento
na Embaixada de Portugal em Bissau.
António
Rocha deixou de vez a PETROGAL e passou a trabalhar para organismos
internacionais que prestavam ajuda à Guiné. Em 1996, o casal vivia de novo em
Bissau. Tornaram-se ambos sócios duma empresa agrícola que acabaram por deter
na totalidade, e geriram um restaurante e uma piscina.
Curiosamente,
Nino Vieira respeitava a irmã de Luís Cabral e parecia estimá-la. O casal vivia
bem. António chegou a ser Assessor Económico da Presidência da República (na
dependência direta do Ministro de Estado da Presidência, Fidelis Cabral de
Almada) e, durante dois mandatos, Presidente da Escola Portuguesa em Bissau.
Luís
Cabral, após a queda de Nino Vieira, ainda esteve na Guiné por um curto período
de tempo.
A
Guiné-Bissau era um país instável e, a dada altura, o Dr. António Rocha passou
a ser mal visto pelos responsáveis pelo poder político.
Em 2010, mudou-se para Angola, onde trabalhou
como consultor e assessor do Governo da Província de Luanda. O casal vive agora
em Nova Oeiras.
Luís
Cabral o primeiro Presidente da República da Guiné-Bissau, morreu em Torres
Vedras, em maio de 2009. Repousa no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.
Teria preferido descansar em África.
Ana
Maria Cabral, a viúva de Amílcar, vive em Cabo Verde.
Iva,
a filha mais velha de Amílcar Cabral e de Maria Helena, nascida na Guiné, é hoje
reitora da Universidade Lusófona de Cabo Verde, em S. Vicente.
Amílcar e o seu irmão
Luís, tanto quanto sei, sempre
se deram bem. Curiosamente, não fui capaz de encontrar uma fotografia em que
figurassem juntos.
AGRADECIMENTOS: A JUVELINA E ANTÓNIO ROCHA, PELA GENTILEZA COM QUE SE DISPUSERAM A PARTILHAR AS SUAS MEMÓRIAS.
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