DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014





Capítulo VI

   Doze dias passados e o ambiente na casa estava igual. Mitchell não referia Joshua e os outros também não falavam dele à sua frente. Mellie e Nicole continuavam sem entender o que se passava naquela casa. Era como se todos tivessem esquecido Joshua, à exceção delas as duas. Até Lasone, quando os ia visitar, não falava de MacLarens. Mas mesmo assim, as duas mulheres não conseguiam parar de pensar nele.
  Até que, no décimo terceiro dia, algo aconteceu. Enquanto todos almoçavam, ouviram-se berros. Seguiram o barulho até alcançarem de onde vinha. Quando chegaram à sala escura, viram Joshua a um canto, acordado e mais pálido do que nunca.
  ─ Joshua, o que aconteceu? – Perguntou Mellie, abraçando-o.
  O homem não respondeu. Apenas virou as costas para Mellie. Algo de mal tinha acontecido e todos naquela casa sabiam disso. Naquele momento, Fréderique estava a mexer nos seus muitos computadores. Ele tinha de encontrar algo para explicar o porquê de MacLarens ter acordado daquela maneira. Até que finalmente, Lasone percebeu que a resposta não estaria nos ecrãs dispostos à sua frente, mas sim no cérebro de Joshua. Ele tinha descoberto o assassino de seu irmão.
  Após esta conclusão, Lasone aproximou-se de MacLarens e expulsou todos os outros na pequena sala apenas com um grito. .
  ─ Joshua ─ Sussurrou ─ o senhor descobriu o causador de todos os problemas?
  Joshua permaneceu calado. Não conseguia falar, nem que fosse apenas uma palavra.
  Lasone estava pensativo. Sabia que MacLarens queria falar, mas também sabia que ele não iria esconder o nome do verdadeiro assassino de todos.              
Repentinamente, Fréderique teve uma ideia. Saiu do laboratório e dez minutos depois voltou, trazendo na mão folhas e canetas.
─ Escreva aqui o nome da pessoa. Assim será mais fácil para ambos. Joshua pegou na caneta e começou a desenhar. Passado um minuto devolveu a folha a Fréderique.
Como a letra estava tremida, Fréderique demorou tempo a examinar e a perceber que aquilo não era uma palavra. Era o desenho de uma mulher. Saiu do laboratório e dirigiu-se à sala. Tinha de falar com toda a gente que ali se encontrava.
─ Para Joshua estar assim tão perturbado, suponho que seja alguém que ele conheça bem. Todas as pessoas que Joshua conhecia bem estão neste preciso momento nesta casa. – Explicou Lasone.
Todos ficaram espantados e começaram a falar desordenadamente. Alguma das pessoas com quem todos eles tinham estado nos últimos tempos era um assassino.
─ Todos os rapazes e homens desta casa saiam imediatamente. Incluindo seguranças e crianças. Hoje só quero falar com as mulheres. – Disse com um tom sério.
Todos obedeceram sem hesitar, pois apesar do seu tamanho, Fréderique inspirava respeito quando falava.              
─ Uma de vocês matou Marc e ameaçou Joshua. - Disse para as três mulheres na sala: Margaret, Nicole e Mellie. Estas olhavam admiradas umas para as outras, quase que em choque. – Quero falar individualmente com cada uma de vocês.
Lasone movimentou-se para uma pequena sala e chamou consigo Margaret.
─ Margaret, você e Marc tinham uma relação das mais belas que vi na minha longa vida. A senhora foi quem mais afetada ficou com a sua morte. E, por isso, estar a fazer-lhe estas perguntas vai custar-me mais do que parece, mas mesmo assim tenho de as fazer.
─ Eu prefiro que faça o procedimento correto. Não quero que haja nenhum tipo de provas contra mim. – Disse, deixando escorrer uma lágrima pela cara.
─ Onde esteve no dia da morte de Marc?
─ Já me fizeram esta pergunta várias vezes desde que Marc morreu e eu hei de sempre responder o mesmo: tive numa viagem de trabalho. E como isto não me retira da lista de suspeitos, não sei o que lhe posso dizer mais.
─ Vá-se embora. Acompanhe os rapazes. Eu sei que a Margaret não seria capaz de matar ninguém, principalmente alguém que ama.

Margaret sentiu-se melhor que nunca. Agora a sua única preocupação era se Lasone culpasse a sua irmã. Mas ela sabia que isso nunca aconteceria, pois Mellie sempre fora uma grande pessoa e nunca mataria ninguém. Mesmo assim, Margaret sentia-se agora mais nervosa.

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