A HISTÓRIA PERTO DE NÓS
LEMBRANDO AMÍLCAR E LUÍS CABRAL
NOTAS RETIRADAS DA CONVERSA COM JUVELINA ROCHA,
IRMÃ DE LUÍS E MEIA-IRMÃ DE AMÍLCAR,
I
Foi a minha filha mais velha que me falou da Senhora Dona Juvelina. Sabia que eu estava a escrever sobre a guerra da Guiné e uma das suas doentes era irmã de Luís e Amílcar Cabral. Achei que poderia ser interessante conversar com ela. A Marisa obteve o consentimento da senhora para me comunicar o seu contacto.
Foi a minha filha mais velha que me falou da Senhora Dona Juvelina. Sabia que eu estava a escrever sobre a guerra da Guiné e uma das suas doentes era irmã de Luís e Amílcar Cabral. Achei que poderia ser interessante conversar com ela. A Marisa obteve o consentimento da senhora para me comunicar o seu contacto.
Telefonei-lhe.
Atendeu-me o marido, que já esperava que eu ligasse. Combinámos encontrar-nos
na residência do casal, em Nova Oeiras.
Fui
entrevistado umas tantas vezes, ao longo da última década, mas nunca tinha
entrevistado ninguém. Armei-me de gravador e máquina fotográfica, antes de me
meter no carro.
Dei
umas voltas a mais, como é costume, mas lá atinei com a direção.
Fui recebido com extrema gentileza.
Juvelina Maria de Almeida Cabral Rocha e o seu marido António José da Silva Rocha habitam num apartamento confortável decorado com motivos africanos. São ambos casados em segundas núpcias e já passaram dos setenta anos. Estão lúcidos e evidenciam excelentes memórias.
António Rocha é extrovertido e tem uma personalidade dominadora. Juvelina é doce e reservada. Foi necessário algum esforço para não entrevistar apenas o marido…
As informações que me prestaram permitiram corrigir algumas inexatidões no livro que estou a ultimar (A Guerra da Guiné – de Amílcar Cabral ao 24 de abril).
JUVENAL CABRAL NA JUVENTUDE
Falámos da família. O pai de Juvelina, Juvenal António Lopes da Costa (Cabral), foi um povoador. Teve 18 filhos das três mulheres mais importantes da sua vida: nove de Ernestina Soares Andrade, quatro de Iva Pinhel Évora, cinco de Adelina Rodrigues Correia (a única mulher com quem casou oficialmente) e mais uns tantos de relações casuais.
JUVENAL CABRAL NA JUVENTUDE
Falámos da família. O pai de Juvelina, Juvenal António Lopes da Costa (Cabral), foi um povoador. Teve 18 filhos das três mulheres mais importantes da sua vida: nove de Ernestina Soares Andrade, quatro de Iva Pinhel Évora, cinco de Adelina Rodrigues Correia (a única mulher com quem casou oficialmente) e mais uns tantos de relações casuais.
IVA PINHEL ÉVORA, MÃE DE AMÍLCAR CABRAL
Enquanto Amílcar Cabral era filho de Iva, Juvelina e Luís Cabral eram filhos de Adelina.
ADELINA E OS QUATRO PRIMEIROS FILHOS
Juvelina é a menina em frente e à esquerda. Luís, o mais velho, está à direita
ADELINA RODRIGUES CORREIA
Será
interessante referir as circunstâncias do único casamento de Juvenal. A fonte é
uma entrevista de Pedro Matos a Ana Maria Cabral (viúva de Amílcar), publicada
na Internet em 2013. «A madrinha de Juvenal Cabral, D. Simoa, natural de Santa
Catarina, tinha uma família com grandes posses, mas não tinha filhos. Assim,
resolveu contemplar o afilhado no seu testamento. No entanto, impôs uma
condição. Uma família portuguesa de quem era muito amiga veio cá passar umas
férias com as suas duas filhas gémeas. Uma delas, Adelina, gostou tanto de Cabo
Verde que não quis voltar a Portugal com os pais e ficou em casa da D. Simoa. A
condição que a madrinha impôs era que Juvenal casasse com Adelina. Assim,
Juvenal teve de deixar a mãe de Amílcar para casar com a portuguesa, levando-a
para Bissau. Desse casamento, nasceu Luís, o meio-irmão de Amílcar Cabral.»
Juvelina
Cabral Rocha lembra-se bem dos tempos da mocidade, em Cabo Verde. O pai,
Juvenal, era bondoso, mas introvertido. Falava pouco e passava muito tempo a
escrever.
Amílcar
e Toy (filho mais novo de Iva) eram quem mais frequentava a casa de Adelina, em
Achada Falcão. Amílcar passava as férias com o pai e com o Luís. Aconselhava
Juvelina a estudar. Era simpático, extrovertido e “charmoso”, no dizer da irmã.
Já no Liceu, era um conquistador. De acordo com as más-línguas, continuou a
sê-lo em Conacri.
AMÍLCAR CABRAL
AMÍLCAR CABRAL
No
que se refere ao relacionamento entre as mulheres de Juvenal, passo a citar
citar António Rocha:
«Ernestina e a Iva chegaram a viver a poucos
metros uma da outra, em Geba. Aí, o Juvenal vivia sozinho numa casa atribuída
pelo Governo, pelo seu cargo de professor. A Adelina tinha boas relações com a
Ernestina, com quem conviveu em Cabo Verde.»
Com
a Iva, as relações foram mais difíceis, apesar de terem sido vizinhas durante
bastante tempo.
UMA DAS ÚLTIMAS FOTOGRAFIAS DE JUVENAL CABRAL
Quando
Juvenal Cabral morreu, em março de 1951, o Luís, que era o mais velho dos
filhos de Adelina, interrompeu os estudos e arranjou dois empregos para ajudar
a sustentar a família, que vivia pobremente.
Juvelina
conheceu bem as duas esposas de Amílcar. Quando veio estudar para Portugal,
instalou-se em casa do irmão e tornou-se amiga íntima de Maria Helena.
FOTOGRAFIA RECENTE DE ANA MARIA CABRAL
Amílcar
Cabral protegeu a família, na medida das suas possibilidades. Ao ser colocado
na Guiné, como engenheiro, foi chamando os familiares para junto dele. Veio
primeiro Luís Cabral, a quem arranjou emprego na Casa Gouveia. Chegou depois
António, o irmão mais novo, e a seguir a mãe, acompanhada pelas filhas gémeas.
Juntou-se-lhes, pouco tempo, Adelina Rodrigues Correia com os outros filhos,
incluindo Juvelina, que tinha 15 anos. Estava-se em 1953.
Tanto
Iva como Adelina ficaram na Guiné após o regresso de Amílcar a Portugal. Ali
permaneceram durante toda a guerra. Quando os irmãos partiram para a luta,
Amílcar disse-lhes que a missão das irmãs era, sobretudo, cuidar das respetivas
mães.
(Continua)
(Continua)
FOTOGRAFIAS: ARQUIVO PESSOAL DE JUVELINA ROCHA, INTERNET
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