TAMEGÃO
CARLOS NUNES PINTO
III
“ A gente é como o rio:
quando corre tem um nome, quando entra no mar fica só Mar. “
− Bom dia, menino.
Fiquei admirado ter sido
ele o primeiro a cumprimentar.
Só podia haver duas
razões: ou estava ansioso que eu chegasse ou já estava a gostar de conversar
comigo. Penso que a segunda hipótese era a mais correcta.
− Menino, hoje quem vai
perguntar sou eu. Porque é que o mar precisa de tanta água e não é ele que vem
buscar? O rio é que leva lá…
Era a minha grande
oportunidade. Ia dar uma lição de ciências, ainda tão fresquinhas na minha
cabeça.
− É por causa da
gravidade.
− O quê, tem coisa grave
aí?
− Não, este Mundo tem uma
força que puxa todos os corpos para baixo, para o centro da Terra, por isso é
que a gente não anda por aí sempre a voar.
Como queria ser ele sempre
o sabichão, retorquiu:
− Eu já sabia isso, estava
só a brincar! Sabe, as minhas mangas quando caem não vão a voar para o quimbo
dos outros, senão eles é que comiam. Caiem mesmo aqui neste chão. Sabe, tal
força é tão grande que puxa a manga para baixo, o pau é fraco e se parte.
Quando puxa a manga ela não fica igual às outras, se estica e fica com aquele
bico na ponta. Mas tangerina já não é assim porque tem um pau mais forte, e a
força faz tanta força que a tangerina se puxa para cima e fica lisa no fundo.
Quando a gente quer arrancar a tangerina, às vezes ainda fica um bocado de
casca agarrada no pau.
Aproveitei a história da
tangerina para continuar a minha lição.
− O Mundo é redondo como
uma laranja, mas em cima e em baixo é mais direito…
− Oh! O Mundo é redondo?!
Então como é que a gente não cai?
− Por causa da gravidade.
Ainda te vou dizer mais: a terra, em cima e em baixo, está tapada de gelo.
−É por causa dos
mosquitos?
− Não só, Tamegão, não só...
As minhas lições não
estavam a resultar.
Saí triste, pisando
cabisbaixo aquela terra de magia, onde as ideias de cada um valem muito mais
que todas aquelas que lhes querem impingir.
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