ÁFRICA A PÉ
DE ANGOLA À CONTRACOSTA
DE ANGOLA À CONTRACOSTA
OS ANTECEDENTES
Foi Domingos Abreu de Brito quem, em 1592, primeiro traçou um plano bem
delineado para ligar as duas costas, sugerindo a construção de uma série de
postos militares a partir de Angola.
As tentativas de ir por terra de Angola e
Moçambique foram-se sucedendo durante os séculos XVII, XVIII e XIX. Vou mencionar
apenas algumas.
Em 1606, D. Manuel Pereira Forjaz, governador de Angola,
encarregou Baltazar Rebelo de Aragão de encontrar um caminho para a contracosta. Aragão terá penetrado no interior 80 léguas a contar da fronteira de
Angola e alcançou um grande lago, que devia ser o Niassa. Tendo-lhe chegado a
notícia de que o rei de Angola atacara a fortaleza de Cambambe, Baltazar Rebelo
de Aragão voltou para trás para socorrer os portugueses sitiados. Não se sabe
quanto demorou a informação a alcançá-lo nem se entende como foi capaz de
regressar em tempo útil.
Por volta de 1765, o governador geral Sousa Coutinho interessou-se pela ligação por terra entre Angola e Moçambique. Alguns escravos trazidos do interior diziam que a travessia não só era possível como até relativamente fácil
Em 1808, Honorato da Costa, tenente-coronel estabelecido em Cassange,
organizou uma expedição bem apetrechada e encarregou dois dos seus pombeiros
mais hábeis, Pedro Baptista e Amaro José de alcançarem Tete. Os exploradores
saíram de Cassange em Novembro de 1802. Estiveram retidos durante três anos nas
terras de de Mussico e depois mais quatro nos domínios de Cazembe. Os pombeiros
não desistiram e chegaram ao seu destino a 2 de Fevereiro de 1811. A expedição gastou 9 anos no caminho. No dizer de Capello e Ivens, os exploradores “tinham
partido novos, chegavam ali já encanecidos”. Tomaram o caminho de regresso em Maio de 1811 e chegaram a Luanda em 1815. Tinham completado a primeira travessia do continente africano de costa a costa, com ida e regresso. A falta de instrução dos pombeiros não permitiu que à
dimensão humana do empreendimento se aliassem os resultados científicos.
Em 1831, Correia Monteiro e António Pedroso Gamito viajaram
do Zambeze à Lunda de Cazembe e regressaram a Tete.
Em 1852, Silva Porto, comerciante estabelecido no Bié,
organizou uma importante expedição que se dirigiu para o Genji e depois para o
Alto Zambeze. O sertanejo deteve-se aí, mas enviou um grupo de gente sua com a
missão de levar a Moçambique dois ofícios do governo geral de Angola. Os
pombeiros atingiram Ibo com sucesso, depois de darem muitas voltas. Silva Porto
descreveu a proeza em “Uma viagem à contracosta”.
Referências:
De Angola à Contra-Costa, H.Capello e R. Ivens, Imprensa Nacional, Lisboa, 1886.
Do Cabo de Stª Catarina à Serra Parda, Carlos Alberto Garcia, Edições CITA, 1971.
Os portugueses em Angola. Gastão Sousa Dias, Agência Geral do Ultramar, 1959.
Os portugueses em Angola. Gastão Sousa Dias, Agência Geral do Ultramar, 1959.
Imagens: Internet.
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