ÁFRICA A PÉ:
CAPELO E IVENS EM MOÇÂMEDES
CAPELO E IVENS EM MOÇÂMEDES
Viajando a pé desde Porto Pinda,
depois de terem sido abandonados pelos carregadores da expedição, receosos dos
perigos que espreitavam nas margens do Coroca, e fatigados pelas 54 milhas
percorridas, Hermenegildo Capello e Roberto Ivens foram calorosamente recebidos
pelo governador de Moçâmedes. Seria daqui que partiriam para a travessia de
África. Ouçamos os exploradores falar da cidade:
Em 1840 decidiu-se construir o
forte de Ponta Negra, assim como se assentaram os fundamentos de uma vila,
estabelecendo-se aí uma feitoria dirigida por dois negociantes, Jacomo Filipe
Torres e Joaquim Guimarães, e pouco depois foi esta terra colonizada por gente
vinda da Madeira e do Brasil, que a 4 de Agosto do ano de 1845 nela se instalou
definitivamente.
Daí para cá, Mossâmedes tem
progredido por maneira que é hoje um dos lugares mais pitorescos e importantes
da costa do oeste.
O seu clima é suave e temperado; as
brisas que a refrigeram, devidas à influência da corrente oceânica que, vinda
do cabo da Boa Esperança, paralelamente à costa sob elas passa; as viçosas
hortas que a circundam, contrastando com a aspereza das encostas e planícies em
redor, atraem ali quantos indivíduos pretendem restabelecer a saúde deteriorada
pelos calores do norte, e mostra bem quanto tem podido a vontade desse punhado
de homens que, ao entrarem em tal terreno, o encontraram quase deserto e
percorrido de quando em quando por salteadores.
Aclimam-se todos os vegetais da
Europa, como hoje é sabido, e desde a oliveira até à videira tudo ali progride.
Raras são as febres de grave caráter,
apenas as intermitentes, quando inunda o Bero, atacam a um ou a outro, e ainda
as cefalalgias e as conjuntivites são frequentes, como as oftalmias, derivadas
do reverbero da luz nas areias.
Referências:
De Angola à Contra-Costa. H. Capello e R. Ivens. Imprensa Nacional, Lisboa, 1886.
Fotos: Cunha Moraes, cerca de 1890.
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