LUANDA EM 1884
Vista por Hermenegildo Capello e Roberto Ivens
É ao fundo de formosa baía que está edificada a cidade de Luanda; dividida em dois bairros distintos, respetivamente denominados alto e baixo; sendo o primeiro o bairro mais elegante e onde se acham os edifícios mais importantes, e o segundo aquele propriamente comercial.
Defendem-na ao presente quatro fortalezas, que se denominam S. Miguel, S. Francisco do Penedo, S. Pedro do Morro de Cassandama e Nossa Senhora da Conceição. A primeira, construída pelo sistema Vauban, com a forma de um polígono irregular, adaptada à configuração do morro de S. Miguel, é de todas a mais importante.
Luanda é uma cidade ampla, limpa e pitoresca. Graciosamente reclinada na encosta das terras que miram ao noroeste, ostenta, quando vista do lado do mar, o aspeto de uma cidade europeia, com os seus renques de asseadas e bem dispostas casarias, que, sobrepondo-se garridas uma à outras, se ligam por extensas calçadas.
Possui muitos edifícios e seria longo aqui enumerar todos. Citaremos, entre os principais, o hospital perto da Ponta Negra, verdadeiro sanatorium, que não tem igual em África; o palácio do governador, obra importante; o palácio do bispo, a escola de artes e ofícios, o tribunal da relação, a casa da Câmara, a alfândega, oficinas de fundição, sem contar muitos templos e grande número de edifícios particulares.
Existem vários jardins públicos entre os quais figura o da Ponta da Isabel, com quinhentas árvores de fruto, dividido em cinco avenidas. Ali perto estão a casa de recreio do governador e a igreja da Nazaré.
Nas terras altas, que pelo nordeste a dominam, são numerosas as casas de campo denominadas muceques onde os abastados de Luanda passam em ócio os seus dias de férias.
A cidade alta é indubitavelmente considerada a mais saudável e onde reside uma grande parte da população branca.
A vegetação é constituída por eufórbias, embondeiros e aloés.
Completamente livre de pântanos, que tanto concorrem, como é sabido, para a insalubridade de qualquer região, Luanda sofre um pouco de falta de água, problemas que não seria difícil de resolver, e está mesmo em via de solução, fazendo-se o seu abastecimento de água no rio Bengo.
As ruas são bem calçadas, mas depois de terminarem as chuvas é necessário desobstruí-las das areias que se acumulam em consequência da desagregação nas encostas das terras altas. Dá este facto lugar a que o recém-chegado naquela época suponha não calçada a cidade baixa, sendo este um defeito irremediável até agora.
Fronteira à cidade está a ilha, espécie de quebra-mar de areia que, estirando-se do sul ao norte, abriga dos movimentos do oceano o porto interior, que se pode considerar um verdadeiro tanque.
A capital da província de Angola tem hoje uma polução de dezasseis mil almas, um movimento de importação e de exportação de vulto e um rendimento para o tesouro assaz considerável.
Referências:
Texto adaptado de "De Angola à Contra-costa", de Capello e Ivens.
Imagens:
"Os Portugueses em Angola", de Gastão Sousa Dias. A gravura com a vista geral da cidade foi recolhida na Internet.
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