ÁFRICA A PÉ
FALSA LARGADA
FALSA LARGADA
Era preciso desenhar um atlas geral das colónias portuguesas.
Manuel Pinheiro Chagas, ministro da Marinha e do Ultramar, criou em 1883 uma
Comissão de Cartografia, para a qual nomeou como vogais os conhecidos
exploradores Hermenegildo Capello e Roberto Ivens. Pouco depois, pretendendo
criar uma rota comercial por terra entre Angola e Moçambique, encarregou esses
dois oficiais da Armada de efetuarem, no terreno, os reconhecimentos
necessários.
A razão da escolha era lógica: os oficiais de
marinha estavam familiarizados com as técnicas de orientação marítima, parte
das quais se adaptava à terra firme, e ambos tinham viajado pelo interior de África. Isto foi antes do G.P.S...
Capello e Ivens optaram começar a viagem em Pinda, junto a
Porto Alexandre. Era um dos últimos locais povoados do sul da costa angolana.
Entre outras razões para a escolha, contou a curiosidade de reconhecer o curso
do rio Coroca e de saber se ele tinha alguma relação com o grande Cunene.
Sobre Porto do Pinda, ouçamos o relato de António Norberto
Kudzki, datado de 1855:
A baía ocupa o espaço de nove léguas,
sendo fechada, do lado do norte, pela ponta do Cabo Negro e do lado sul, pelas
areias que cercam a pequena enseada denominada Porto Alexandre. Do mar, o
aspeto do território é árido; nem uma árvore, nem um sinal de vegetação se
oferece à vista; apenas uma cordilheira de rochedos do Cabo Negro se estende
para sueste; só as dunas de areia se divisam, e algumas lagoas na foz do rio
Coroca, formadas pelas enchentes do mesmo e pelo mar.
Todo o território em geral e mais de
três léguas do mar para o interior, são areias finas, soltas e movediças
formando dunas, montes, vales de diferentes aspetos que os violentíssimos
ventos do sudoeste continuamente removem, dando-lhes a aparência de incessante
ondulação.
Capello e Ivens partiram, deserto fora, em direção à fazenda de S. Bento do Sul onde chegaram, fatigados, depois de caminharem durante 17 horas pelo leito
do Coroca, onde não se via gota de água.
Pediram ao soba local que lhes cedesse carregadores para
transportarem alimento até ao Cunene. O soba recusou. Não sabia de ninguém que
tivesse chegado lá e voltasse. Iriam todos morrer.
Mesmo sem os reforços pretendidos, Capello e Ivens seguiram
rio acima.
No dia seguinte, os carregadores fugiram, depois de saquearem
a bagagem que transportavam. Os exploradores percorreram em 25 horas as 54
milhas que iam do último acampamento até Moçâmedes, onde foram
hospitaleiramente acolhidos pelo governador.
No dia seguinte, apareceu o primeiro grupo de fugitivos.
Naquelas paragens inóspitas, não havia muito para onde ir. Os oficiais da Armada acabaram por
recuperar metade dos carregadores da expedição.
Regressaram a S. Bento e seguiram o curso do Coroca durante
seis dias. Trata-se de um rio torrencial, que só existe de facto quando chove
nas vertentes da serra da Chela. Não podia ter ligação com o Cunene, que fica
mais para sul.
A exploração foi interrompida por uma cheia repentina do rio.
Lá voltaram a S. Bento e depois a Moçâmedes. Reuniram os elementos dispersos da
expedição e prepararam nova partida.
Referências:
De Angola à Conta-Costa, de Capello e Ivens.
Annaes do Conselho Ultramarino: baía e Porto de Pinda,
Mossãmedes, por Marcelino Kudzki. Retirado do blogue Mossâmedes do antigamente.
Fotografias:
Blogue Mossâmedes do antigamente
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