DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quinta-feira, 15 de junho de 2017


ESQUERDA E DIREITA


III

Enganei-me em diversas ocasiões e conto viver o suficiente para me enganar em muitas mais.
Um amigo meu pergunta-me, de tempos a tempos, de modo mais ou menos demagógico: ainda há Esquerda? E o que é a Direita? 
É fácil responder-lhe: a Direita é o ponto de vista pelo qual ele honestamente espreita o mundo. A Esquerda é a visão oposta da mesma realidade. Espero ter razão mais vezes do que ele.


A classificação política geral em Esquerda e Direita teve lugar após a Revolução Francesa e começou, não propriamente pelas orientações políticas dos deputados, mas pela localização das cadeiras em que se sentavam. Na Assembleia Nacional francesa e na Assembleia Legislativa que a substituiu, em 1791, os partidários, primeiro da religião, do rei e, depois, do imperador, ocupavam os assentos da direita, enquanto os entusiastas da revolução se sentavam no lado esquerdo. Durante o século XIX, e ainda na França, a Esquerda era republicana e a Direita monárquica.


       Com o tempo, as noções de Direita e Esquerda políticas ultrapassaram as fronteiras da França e espalharam-se pelo mundo. Aos poucos, foram-se juntando advérbios aos vocábulos primordiais: movimento e evolução, à Esquerda e estabilidade e ordem, à Direita.
Nos longos anos da chamada “guerra fria”, a Esquerda apoiava a União Soviética, comunista e autoritária e a Direita os Estados Unidos, capitalistas e democráticos.
Após a queda do muro de Berlim, os partidos de Direita e de Esquerda modificaram-se, quando não se confundiram. O mundo deixou de ser polarizado e as diferenças esbateram-se.
O politólogo português Nogueira Pinto aponta os que são, no seu modo de ver, os traços distintivos essenciais: à esquerda temos o otimismo antropológico, o utopismo, o igualitarismo, o democratismo, o economicismo, o internacionalismo; e à direita o pessimismo antropológico, o antiutopismo, o direito à diferença, o elitismo, o antieconomicismo, o nacionalismo.

No entanto, não é sempre assim. Ouvem-se muitas vezes os partidos de Esquerda criticarem o economicismo e é frequente o PCP defender políticas”patrióticas”. Por outro lado, o direito à diferença, pelo menos em termos de opções sexuais é mais apregoado por quem se considera de Esquerda.
Voltarei brevemente a este tema.


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