ESQUERDA E DIREITA
III
Enganei-me em diversas
ocasiões e conto viver o suficiente para me enganar em muitas mais.
Um amigo meu pergunta-me,
de tempos a tempos, de modo mais ou menos demagógico: ainda há Esquerda? E o
que é a Direita?
É fácil responder-lhe: a Direita é o ponto de vista pelo qual
ele honestamente espreita o mundo. A Esquerda é a visão oposta da mesma
realidade. Espero ter razão mais vezes do que ele.
A classificação política
geral em Esquerda e Direita teve lugar após a Revolução Francesa e começou, não
propriamente pelas orientações políticas dos deputados, mas pela localização
das cadeiras em que se sentavam. Na Assembleia Nacional francesa e na Assembleia
Legislativa que a substituiu, em 1791, os partidários, primeiro da religião, do
rei e, depois, do imperador, ocupavam os assentos da direita, enquanto os
entusiastas da revolução se sentavam no lado esquerdo. Durante o
século XIX, e ainda na França, a Esquerda era republicana e a Direita
monárquica.
Com o tempo, as noções de Direita e Esquerda políticas ultrapassaram as
fronteiras da França e espalharam-se pelo mundo. Aos poucos, foram-se juntando
advérbios aos vocábulos primordiais: movimento e evolução, à Esquerda e
estabilidade e ordem, à Direita.
Nos longos anos da chamada
“guerra fria”, a Esquerda apoiava a União Soviética, comunista e autoritária e
a Direita os Estados Unidos, capitalistas e democráticos.
Após a queda do muro de
Berlim, os partidos de Direita e de Esquerda modificaram-se, quando não se
confundiram. O mundo deixou de ser polarizado e as diferenças esbateram-se.
O politólogo português
Nogueira Pinto aponta os que são, no seu modo de ver, os traços distintivos
essenciais: à esquerda temos o otimismo
antropológico, o utopismo, o igualitarismo, o democratismo, o economicismo, o
internacionalismo; e à direita o pessimismo antropológico, o antiutopismo, o
direito à diferença, o elitismo, o antieconomicismo, o nacionalismo.
No
entanto, não é sempre assim. Ouvem-se muitas vezes os partidos de Esquerda
criticarem o economicismo e é frequente o PCP defender políticas”patrióticas”.
Por outro lado, o direito à diferença, pelo menos em termos de opções sexuais é
mais apregoado por quem se considera de Esquerda.
Voltarei brevemente a este tema.
Voltarei brevemente a este tema.
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