ESQUERDA
E DIREITA
II
Os partidos comunistas
desapareceram praticamente dos quadros políticos das nações europeias. O
Partido Comunista Português é um sobrevivente. Em grande parte graças ao
carisma e à inteligência de Álvaro Cunhal, logrou manter a sua base de apoio
nos sindicatos de transportes e em muitos concelhos alentejanos. A prática
autárquica honesta e eficaz colou-se à sua nova imagem de marca.
Militei vagamente no PCP
durante um ou dois anos, após o 25 de Abril. Nos tempos da velha senhora,
recebera na minha casa do Beco da Carqueja, em Coimbra, algumas reuniões de
célula, sem participar nelas.
O mundo modificava-se e os
comunistas não. Repetiu-se comigo algo que se tinha passado meia vida antes.
Sem resposta para as questões religiosas, tornei-me ateu sozinho, aos quinze
anos, numa cidade em que toda a gente que eu conhecia era mais ou menos
religiosa. Face ao PCP, não senti a mesma solidão. Éramos vários os que
compartilhávamos as críticas e a ausência de perspetivas. Aguardávamos uma
mudança que não chegava e, pior, a que não éramos capazes de desenhar os
contornos desejáveis.
Afastei-me do Partido, mas
deixei lá amigos. Não é preciso concordar com as pessoas para as
respeitar.
Depois, tenho votado ou
aqui, ou ali, mas sempre à chamada Esquerda. Devo referir uma exceção clara.
Votei em Marcelo Rebelo de Sousa. Foi o único candidato presidencial que
manifestou, ao longo da vida, interesse pela Cultura.
Ainda não encontrei um
partido político com cujo ideário me sinta confortável. Entre um candidato presidencial esquerdista
inculto, e um alinhado ao centro que tenha prazer em ler, o meu voto, se não
ficar em branco (como já aconteceu) há de escorregar para a Direita.
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