ESTRANHOS
ALMIRANTES
III
KEUMALAHAYATI
Pintura representando Keumalahayati
Também lhe chamavam
Malahayati. Era muçulmana e foi a segunda mulher almirante da História. A
primeira foi Artemísia de Cária.
Não são conhecidas as
datas do seu nascimento nem da sua morte, mas combateu, pelo menos, de 1599 a 1601.
A história da sua vida
confunde-se, um pouco, com a lenda. Era bisneta do primeiro sultão de Aceh e filha
do almirante Machmud Syah. Terá estudado na Academia Real de Aceh.
Por volta de 1500, Aceh
era um sultanato localizado no extremo norte da ilha de Sumatra, na Indonésia.
Em 1511, uma frota portuguesa de 18 navios comandada por Afonso de Albuquerque e transportando 900 portugueses e 200 mercenários hindus tomou Malaca.
Com a queda de Malaca,
Aceh viu aumentada a sua posição como potência regional. Cabia-lhe assegurar o
acesso livre aos estreitos aos comerciantes asiáticos e impedi-lo às naus
portuguesas. Os sultões de Aceh mandaram construir mais navios de guerra.
Navio indonésio esculpido em pedra em Borobodur
Depois de o seu marido ter
sido morto em combate com a frota portuguesa no Golfo de Haru, Keumalahayat organizou uma
unidade naval composta por viúvas de guerra. Chamava-se “Inong Balee” e
funcionava perto da cidade de Banda Aceh. Seriam cerca de 2.000 os
soldados-viúvas.
Anos mais tarde, o sultão
Alauddin Mansur Syah (1577-1589), numa escolha que, aos nossos olhos é
estranha, mas a que os acontecimentos posteriores deram razão, nomeou
Malahayati a sua almirante principal.
Malahayati iria fazer-se
respeitar por compatriotas e inimigos.
Os meus conhecimentos de
História são limitados. Felizmente, temos quase sempre oportunidades de
continuar a aprender. Eu estava convencido de que, após a conquista de Malaca,
Portugal tinha governado aquelas águas, durante 130 anos, sem interferências significativas
de frotas de outros países europeus. Estava errado. Tanto os holandeses como os
ingleses cobiçavam o lucrativo comércio de especiarias e navegavam por ali.
Em data e local
imprecisos, as forças navais dirigidas por Keumalahayti terão afundado seis
embarcações portuguesas.
Em 1599, uma expedição
holandesa entrou no porto de Aceh e foi bem recebida na corte. Felizmente para
nós, o seu comandante, Cornelis de Houtman, era um bronco que já caíra
anteriormente na asneira de hostilizar o sultanato de Banten, no noroeste de
Java. A sua imperícia diplomática levou-o a ser incortês para com o sultão
Syah. A resposta foi a guerra. Malahayati conduziu as suas viúvas ao combate.
Após várias refregas, Houtman foi vencido e morto. Estava-se em setembro de
1599.
Terá sido por essa altura
que Keumalahayti foi nomeada primeira almirante, ou almirante principal.
Não foram estes os únicos
combates contra frotas europeias em que a mulher almirante participou. Mais
embarcações holandesas terão sido atacadas. No ano seguinte, navios holandeses
liderados por Paulus van Caerdan, apoderaram-se dum navio mercante de Aceh,
carregado de especiarias. Em resposta, Malahayati mandou deter o almirante
holandês Jacob van Neck.
Entre as escaramuças,
aconteceu a diplomacia. Maurício de Orange enviou emissários com uma carta de
desculpas ao sultanato de Aceh.
Maurício de Orange
Gerard de Roy e o
almirante Laurens Bicker reuniram com a mulher almirante e foi conseguido um
acordo. Os representantes da Holanda aceitaram pagar uma compensação de 50.000
florins pela pirataria de van Caerden e os prisioneiros neerlandeses foram
libertados. Desse modo, Malahayati tornou-se conhecida na Europa.
Em 1602, a rainha
Elizabeth I de Inglaterra enviou uma carta ao sultão de Aceh, solicitando a
abertura de negociações com vista à abertura do Estreito de Malaca às suas embarcações.
A iniciativa foi bem-sucedida. Malahayati representou o sultanato nas conversações
e chegou a acordo com o enviado da rainha, James Lancaster.
A almirante Malahauati
morreu a lutar contra a frota portuguesa em Teluk Krueng Raya e foi enterrada
numa pequena aldeia de pescadores a cerca de 30 quilómetros de Banda Aceh.
Banda Aceh devastada pelo tsunami de 2004
Os indonésios fizeram dela
uma lenda. O seu nome foi dado a navios de guerra, hospitais, universidades, e até
a estradas da ilha de Sumatra.
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