A MINHA EXPERIÊNCIA COMO MÉDICO DO
NAVIO HOSPITAL GIL EANNES
III
O NOVO GIL EANNES
A guerra acabara e viviam-se tempos novos. O cargueiro alemão arvorado em Gil Eannes estava velho e tinha de ser substituído. O Ministério da Marinha e o Grémio dos Armadores da Pesca do Bacalhau aliaram-se e empreenderam a construção dum navio hospital moderno. Com ele, também os Estaleiros Navais de Viana do Castelo receberam outro alento. E assim, em 1955, o novo Gil Eannes foi lançado ao mar.
Era um navio com quase 100 metros de comprimento, com um motor poderoso, velocidade apreciável para a época e proa reforçada para resistir ao gelo.
Tinha capacidade para receber 74 doentes.
UMA DAS ENFERMARIAS
Dispunha de bloco operatório, situado no fundo do navio para se sentir menos o balanço, laboratório de análises clínicas, equipamento de radiologia e de fisioterapia.
SALA DE RADIOLOGIA
BLOCO OPERATÓRIO
SALA DE TRATAMENTOS
SALA DE FISiOTERAPIA
Tinha câmaras frigoríficas espaçosas para armazenar produtos frescos. Possuía ainda uma capela e dispunha de um capelão que garantia a assistência religiosa aos pescadores.
CIRURGIA A BORDO DO GIL EANNES
Durante quase vinte anos, fez de hospital, capela, correio, rebocador, quebra-gelos, sede de capitania e transportador de combustível, água, material de pesca, mantimentos e isco congelado. Depois envelheceu, ao ritmo da Frota Branca que servia.
A partir de 1963, passou a ser utilizado, nos intervalos das campanhas de pesca, em viagens de comércio, aproveitando a sua capacidade frigorífica. A estreiteza das aberturas dos porões dificultava, contudo, a estiva e tornava-a mais cara.
BERNARDO SANTARENO
Serviram, a bordo do navio hospital português, diversos médicos. Um iria tornar-se famoso: o Dr. Martinho do Rosário, mais conhecido por Bernardo Santareno, um dos maiores dramaturgos portugueses de todos os tempos. Grande parte da sua obra está ligada ao mar.
DR. VIDEIRA E COMANDANTE TOSCANO
DR. ABÍLIO CANHÃO E PADRE SÁ ROSA
Tive a honra de ser amigo do Dr. Canhão.
Embarquei em 1970 e 1971. Na primeira viagem, o comandante do navio era Mário Esteves, bom capitão e excelente companheiro. Seguiu-se-lhe o capitão Chinita, homem vertical com uma postura mais discreta.
CAPITÃO MÁRIO ESTEVES
Por essa altura, o Gil Eannes estava a despedir-se da Terra Nova. Fez a sua última viagem aos Bancos em 1973.
Depois, navegou até ao Brasil e, a seguir, à Noruega, buscar bacalhau fresco. Serviu ainda para transportar refugiados de Angola. Mais tarde, andou atracado pelos cais de Lisboa até ser vendido para abate.
A viagem ao Brasil mostrou-se, entretanto, providencial para lhe conseguir uma segunda vida. José Hermano Saraiva, recém-nomeado embaixador em Brasília, viajou nele.
JOSÉ HERMANO SARAIVA
Esse grande comunicador apelaria mais tarde, num dos seus programas televisivos, ao resgate do navio. A ideia mobilizou as forças vivas de Viana do Castelo.
A Comissão Pró Gil Eannes (que daria lugar à Fundação Gil Eannes) adquiriu-o. O velho navio fez a última viagem de Alhos Vedros para Viana do Castelo. Reabilitado, foi transformado em museu flutuante. Abriu as portas ao público em agosto de 1998. Uma parte das enfermarias foi transformada em Pousada de Juventude. Quem o quiser visitar, têm apenas de deslocar-se ao cais de Viana.
FONTES: GIL EANNES. PUBLICAÇÃO DA CÂMARA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO E DA COMISSÃO ESPECIAL PRÓ GIL EANNES, 1997. PARTE DAS FOTOGRAFIAS FOI RETIRADA DESTA BROCHURA.
OUTRAS FOTOGRAFIAS: ÂNGELO SILVA. GIL EANNES, HISTÓRIAS DO FIEL AMIGO. CÂMARA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO, 2001, PALMIRA SILVA, INTERNET.
Também publicado no blogue historinhasdamedicina
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