LEON TRÓTSKI
Decidi publicar no
decaedela as minhas reflexões sobre sete mortes violentas incluídas no romance
O ASSASSINATO DE TRÓTSKI, que estou a ultimar. Uma parte delas foi esclarecida.
Os contornos de outros permanecem mal definidos. Começo pela figura que deu o nome
ao livro.
Como este primeiro artigo é extenso, vou dividi-lo em duas partes.
Como este primeiro artigo é extenso, vou dividi-lo em duas partes.
I
DA INFÂNCIA AO TRIUNFO
DA REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE
Lev Davidovich Bronshtein,
que passou à História como Leon Trótski, foi assassinado em Coyacán, no México,
a 21 de agosto de 1940. Ia nos sessenta anos e estava a escrever um livro sobre
Joseph Stalin.
Trótski nasceu em novembro
de 1979 na pequena povoação de Yanovka, situada atualmente em território
ucraniano. Os pais tinham aproveitado o projeto de colonização da Crimeia para
saírem da área de residência fixada aos judeus russos. Tornaram-se fazendeiros
prósperos. Não eram religiosos. Em casa, falava-se russo e ucraniano e não
iídiche.
Quando o miúdo fez nove
anos, o pai mandou-o estudar para a cidade portuária de Odessa. Trotsky chegou
a inscrever-se em Matemática na Universidade Nacional de Odessa, mas
interessou-se cedo pela política. Envolveu-se na actividade revolucionária e
aproximou-se do marxismo. Aos 17 anos ajudou a organizar em Nikolayev a União
dos Trabalhadores do Sul da Rússia. Conheceu a prisão antes de completar 18
anos. Foi detido, juntamente com 200 membros da União, e esperou dois anos pelo
julgamento. Aproveitou o tempo de cativeiro para estudar filosofia e, enquanto
estava preso, casou com Alexandra Sokolovskaya, sua companheira das lutas
políticas.
Foi condenado a quatro anos
de exílio na região do Lago Baikal, na Sibéria. A esposa acompanhou-o. Foi na
Sibéria que nasceram as duas filhas do casal, Zinaida e Nina.
Durante o degredo de
Trótski, a divisão entre os sociais-democratas aprofundou-se. O jornal Iskra
(faísca ou centelha em português), sediado em Londres, defendia a formação de
um partido revolucionário bem organizado para derrubar o czarismo.
No verão de 1902, Trótski
fugiu da Sibéria escondido numa carroça de feno e chegou a Irkutsk, onde os
amigos lhe arranjaram um passaporte falso.
Até então, usara o seu
nome verdadeiro. Adoptou nessa altura o pseudónimo de Trótski, curiosamente o
apelido de um dos seus antigos carcereiros. Logo que pôde, mudou-se para
Londres, onde conheceu Plekhanov, Martov e Lenine e se tornou colaborador do
jornal Iskra. Por essa altura, eram já profundas as divergências entre
Plekhanov e Lenine.
Foi em Londres que Lev
Bronshtein encontrou Natalia Ivanovna Sedova, que viria a ser a sua segunda
esposa. Divorciou-se de Alexandra, que escapara também da Sibéria com as
filhas, mas manteve com ela, ao longo do tempo, um relacionamento cordial. Em
1935, durante as «grandes purgas» de Staline, Alexandra Sokolovskaya foi
novamente presa e desterrada. Terá sido avistada pela última vez em 1938, num
campo de trabalhos forçados, na Sibéria.
De Natália, Leon Trotsky
teve dois filhos, Lev e Sergei. Deu-lhes o apelido de Sedov para tentar
protegê-los da polícia czarista.
Os emigrados russos em
Londres desenvolviam uma atividade política intensa e frequentemente
conflituosa. Deu-se por essa altura a famosa cisão entre bolcheviques e
mencheviques.
Trótski nem sempre esteve
ao lado de Lenine. Entre 1904 e 1917 gostava de se considerar um
«social-democrata sem facção». Esforçou-se, durante anos, por reconciliar as
diversas tendência que divergiam no Partido. Ao mesmo tempo, desenvolveu a sua
teoria da revolução permanente. Os choques com Lenine e com outros dirigentes
russos foram inevitáveis. Vladimir Ilitch chegou a chamar-lhe «judas» e
«canalha».
Em S. Petersburgo (então
capital da Rússia), em janeiro de 1905, começou uma greve numa fábrica. As
condições de vida dos operários russos eram muito más e o protesto alargou-se
até englobar 140.000 trabalhadores. Uma marcha pacífica em direção ao Palácio
de Inverno foi reprimida a tiro pela guarda do czar. Morreram mais de 1.000
manifestantes. A data ficou conhecida como Domingo Sangrento.
Trótski voltou
secretamente à Rússia para apoiar os protestos contra o czar. Empenhou-se na
ação política directa, agitando e organizando, mas pouco tempo depois viu-se
obrigado a fugir para a Finlândia, onde prosseguiu a preparação da sua obra
sobre a revolução permanente.
A agitação social
continuava na Rússia. Em outubro, Trótski regressou a S. Petersburgo e
empenhou-se no jornalismo revolucionário, sendo eleito pouco tempo depois para
a direção do Soviete dos Trabalhadores da cidade. Após a prisão do primeiro
presidente do Soviete, Leon Trótski foi escolhido para o substituir.
O Soviete foi cercado
pelas tropas czaristas e os seus dirigentes foram presos. Em outubro de 1906,
Trótski foi deportado para a Sibéria pela segunda vez na sua vida. Ia nos 27
anos.
Evadiu-se durante o
transporte e regressou a Londres. Fixou depois residência em Viena de Áustria,
onde colaborou com o Partido Social Democrata Austríaco durante perto de sete
anos. Foi em Viena que fundou o Pravda, um jornal escrito em russo e destinado
aos trabalhadores do seu país.
Bolcheviques e
mencheviques continuavam a não se entender. Trótski questionou várias vezes a
atuação política de Lenine.
Em 1914, a I Grande Guerra
pôs em confronto direto a Rússia e o Império Austro-Húngaro. Leon Trótski teve
de fugir para a Suíça, para não ser detido como emigrante russo.
Lenine, Trótski e Martov
assumiram posições pacifistas face ao conflito armado, enquanto Plekhanov e
outros sociais-democratas apoiavam, de certo modo, o esforço de guerra do
governo russo. Lenine achava conveniente a derrota russa na guerra. Por outro
lado, advogava a rotura com a Segunda Internacional.
Trótski participou na
conferência pacifista de Zimmerwald e propôs um compromisso entre os, que como
Martov, queriam permanecer na Segunda Internacional e os que, como Lenine,
pretendiam a formação de uma Terceira Internacional. A conferência adotou a
proposta de Trótski.
O governo francês não
apreciou a militância pacifista de Leon Trótski e deportou-o para Espanha. Os
espanhóis também o não quiseram e despacharam-no para os Estados Unidos da
América. Trótski viveu em Nova Yorque até rebentar a revolução de fevereiro de
1915 contra o czar Nicolau II. Ganhava a vida escrevendo artigos para jornais,
em russo e em iídiche.
Tentou seguir para a
Rússia, mas o navio em que viajava foi retido pelos britânicos em Halifax. Pôde
continuar a viagem após intervenção do ministro russo dos negócios
estrangeiros.
Na Pátria, aproximou-se
das posições bolcheviques. Destacando-se de novo pela sua capacidade de
organização e pelo seu talento para a agitação, foi eleito presidente do
Soviete de Petrogrado. Em outubro de 1917, chefiou o Comité Militar
Revolucionário que assaltou o Palácio de Inverno, assegurando o triunfo da
revolução russa.
Com os bolcheviques no
Poder, tornou-se um dos membros iniciais do Politburo. Foi nomeado Comissário
do Povo para os Negócios Estrangeiros, com a missão de negociar o armistício
como a Alemanha. As negociações não correram bem. O Exército russo, já de si
frágil, encontrava-se abalado pela Revolução. Um ataque alemão bem-sucedido
obrigou o governo soviético a aceitar o tratado de Brest-Litovski, em março de
1918.
Trótski demitiu-se do
cargo, depois de ter sido obrigado a assinar aquele acordo, que prejudicava gravemente
os interesses russos.
Viviam-se tempos duros. O
recém-formado Exército Vermelho era pequeno, indisciplinado e mal comandado.
Alguns líderes bolcheviques sonhavam com um exército constituído por
voluntários que elegeriam os próprios oficiais. Trótski considerava que o
exército devia ser suficientemente numeroso e que, se os voluntários não
chegassem, se teria de recorrer ao recrutamento compulsivo. Sabia também que os
oficiais não se improvisavam e que os únicos disponíveis na Rússia haviam
servido o czar.
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