CARRERO BLANCO
Completaram-se ontem quarenta anos sobre a morte de Luís Carrero Blanco.
No
dia 20 de dezembro de 1973, Carrero Blanco, chefe do governo espanhol, foi
vítima de um atentado bombista. Regressava da igreja de S. Francisco de Borja,
onde assistira à missa, como era seu hábito, e voltava para casa, pela Calle Claudio Coello, quando a sua vida
foi interrompida. A bomba estava colocada num túnel escavado sob a rua e tinha
sido acionada a distância, no momento da passagem do automóvel. Com o
almirante, morreram o inspetor da Polícia Bueno Fernandez e o motorista Pérez
Mogena.
Carrero
Blanco foi avisado da possibilidade de ocorrência de um atentado, mas não o
levou suficientemente a sério e não se precaveu. Manteve os horários e os percursos
habituais e recusou deslocar-se num veículo blindado.
«Wilson»
A
ETA designou este assassinato por «Operação Ogro». Um grupo de militantes,
entre os quais se contavam Pedro Ignacio Pérez Beotegui, conhecido pelos
pseudónimos de «Wilson» e «Txikia», alugou uma cave na rua e escavou um túnel
onde foram colocados perto de 100 quilos do explosivo Goma-2.
O rebentamento
foi tão forte que fez subir a viatura subiu à altura dos telhados dos prédios
vizinhos.
Ocorreu um quarto de hora antes do início do julgamento de dez
membros das Comissiones Obreras, um
sindicato proibido na altura.
Vamos
à história pessoal. Luís Carrero Blanco nasceu em 1904 em Santoña (Cantábria).
Entrou cedo para a Escola Naval e participou na campanha de Marrocos, que teve
lugar entre 1924 e 1926.
Quando
a guerra civil rebentou, era Diretor da Escola Naval de Guerra, em Madrid.
Refugiou-se, primeiro na embaixada mexicana e depois na francesa. Em junho de
1937, conseguiu passar para uma zona controlada pelos nacionalistas.
Findo
o conflito, comandou navios de guerra e foi Chefe de Operações do Estado-Maior
da Marinha. Alinhou pelos que defendiam a neutralidade de Espanha na II Grande
Guerra.
Aproximou-se
gradualmente de Francisco Franco. Foi Subsecretário da Presidência, Ministro da
Presidência, Vice-presidente e Presidente do governo. Era um franquista com
alguma abertura para o futuro. Opôs-se à Falange e promoveu a modernização do
Estado espanhol. Apoiou o regresso do país à monarquia, abrindo o caminho de
Juan Carlos para o trono.
Era o delfim do caudilho, o homem de quem se esperava
a continuação da Direita espanhola no Poder. Seria também um fiel da Opus Dei.
Até
aqui, nada parece haver que justifique polémica. Fará parte da lógica do
sistema uma organização separatista atentar contra os símbolos do Poder.
Acontece porém que a Embaixada dos Estados Unidos da América do Norte em Madrid
dista pouco mais de uma centena de metros da cave onde se abriu o túnel até ao
meio da rua. Os etarras tiveram de fazer barulho para escavar. Terão procurado
máscara sonora nos trabalhos de um escultor que trabalhava na vizinhança.
Depois, houve que passar cabos elétricos pelo exterior dos prédios. Ainda não
era o tempo das explosões telecomandadas. Nasceu um boato: as viaturas da
embaixada americana habitualmente estacionadas na rua Claudio Coello não se
encontravam lá naquele dia.
Pessoalmente,
acho que os americanos não são suficientemente parvos para resolverem poupar
meia dúzia de automóveis, correndo o risco de se verem envolvidos num
magnicídio em terra alheia. A teoria conspirativa enriqueceu, porém, quando, em
1978, o único indivíduo que avistara o «homem da gabardina branca» que
supostamente entregara aos etarras os horários e os percursos habituais do
almirante Carrero Blanco no Hotel Mindanao, em Madrid, foi abatido por uma
organização paramilitar.
Vêm,
a seguir, as coincidências. O Secretário de Estado americano Henry Kissinger
esteve reunido durante várias horas em Madrid com Carrero Blanco na véspera do
atentado. Repito que os americanos não são estúpidos e não envolveriam a
segunda figura política do país num assassinato.
Passados
anos, porém, há sempre quem relacione outras coincidências. Por dever de
ofício, Kissinger esteve em Roma pouco antes do rapto de Aldo Moro. Gianni
Agnelli, o patrão da FIAT cognominado «rei de Itália» chegou a afirmar que os
brigadistas eram os executores, mas que os mandantes viviam na Itália e nos
Estados Unidos.
As
ligações da extrema-direita à extrema-esquerda são reais, se não rotineiras,
nos fabulários europeu e latino-americano. Segundo alguns, a Gladio e a CIA
infiltraram muitas organizações revolucionárias europeias no pós-guerra.
Depois, há sempre quem divulgue informações que, verdadeiras ou não, alimentam
a confusão na mente do cidadão comum. Algum tempo antes da morte do almirante
Carrero Blanco, foram entregues na base militar de Torrejon, em Madrid, dez
minas antitanque provenientes de Fort Bliss, nos EUA, do tipo das usadas no
Vietname. De que serviriam em Espanha? É fácil especular. Ninguém conhece o seu
paradeiro. Teria alguma sido colocadas no túnel aberto pelos etarras na Calle Claudio Coello?
Fotos: Internet
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