O PRÉMIO NOBEL DA PAZ PARA EDWARD SNOWDEN?
III
BIG BROTHER IS WATCHING YOU
O caso Snowden trouxe de
novo às primeiras páginas dos jornais uma questão inquietante e sem solução à vista: o
desenvolvimento das tecnologias fez da privacidade uma miragem.
A capacidade das grandes
organizações (incluindo os governos) recolherem e armazenarem informações
sobre os passos do cidadão comum e sobre as atividades políticas e industriais
de amigos e inimigos encontra apenas limites na percentagem de ficheiros que os
analistas que os servem são capazes de tratar. A capacidade de guardar dados é quase ilimitada e tem custos baixos. O que encarece o processo são
os salários dos técnicos.
O Google anota todas as
nossas pesquisas. Creio que as não desgrava. Este e outros motores de busca permitem identificar os interesses, a capacidade económica, e até os vícios secretos de centenas de milhões de cidadãos nos quatro cantos do mundo. As informações disponibilizadas no
Facebook não são fáceis de eliminar. É relativamente simples aceder ao nosso correio
eletrónico. As empresas de telemóveis podem conservar os registos das nossas
conversas e os telemóveis modernos permitem que se saiba onde estamos.
Sabem-se os programas de televisão que preferimos. As redes sociais põem à mostra muito do que antes apenas os nossos vizinhos conheciam. A própria noção de vizinhança tem hoje outro significado. Os percursos dos nossos cartões de crédito são
fáceis de traçar. As grandes superfícies conservam os registos das nossas compras.
Pela análise das faturas dos restaurantes podem conhecer-se as nossas
preferências alimentares. Os hotéis ficam com o registo das nossas dormidas. O
sistema GPS não serve apenas para nos orientarmos. Permite também que sejamos
localizados. Nas filmagens de acontecimentos desportivos ou sociais, como os
comícios dos partidos políticos, é fácil identificar tanto os participantes
como a assistência.
Os satélites americanos
têm capacidade para visualizar até a marca de cigarros utilizada pelos fumadores. Li algures
(creio que foi na “Time”) que pela análise com raios infravermelhos do fumo das
chaminés de qualquer habitação se pode detetar o consumo de “cannabis”.
Há pouco tempo, um
conhecido advogado e político português foi acusado de assassinato pelas autoridades
judiciais brasileiras. Em causa, estaria o registo de passagens do automóvel que alugou pelas portagens de estradas que ele negaria ter percorrido nas datas
indicadas
As descrições das nossas
doenças vão sendo partilhados por diversos hospitais e centros de saúde. Em
breve, o conhecimento dos nossos genomas permitirá às Companhias de Seguros
diferenciar os prémios de acordo com as durações previstas das nossas vidas.
Os cidadãos que, como eu,
se sentem ciosos da sua privacidade deverão ir criando, aqui e ali, linhas de defesa. É conveniente considerar que as informações que
disponibilizamos no correio eletrónico, nas redes sociais e nas conversas
telefónicas deixam imediatamente de ser privadas.
Existe legislação que visa proteger os dados individuais. Acompanha, com certa dificuldade, o desenvolvimento vertiginoso da tecnologia. As fronteiras entre o que é permitido e o que deve ser proibido não são estáticas: vão-se modificando com o tempo.
Existe legislação que visa proteger os dados individuais. Acompanha, com certa dificuldade, o desenvolvimento vertiginoso da tecnologia. As fronteiras entre o que é permitido e o que deve ser proibido não são estáticas: vão-se modificando com o tempo.
Sabe-se quase tudo o fazemos
e até o que pensamos. A consolação que nos resta provém da estatística: as vidas
comuns não têm interesse para os poderosos do mundo. Contamos apenas como
números, como percentagem dos padrões de consumo. Ninguém quer saber se vais à Internet espreitar fotografias de raparigas despidas.
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